Aquela cena da mulher desesperada, aos prantos, berrando e travada, sem saber como agir em uma situação de ataque violento, pode ficar enterrada no passado. Talvez chegue o dia em que os assaltantes e os “machões de cozinha” pensarão duas vezes antes de atacar mulheres.
Não há força masculina que resista à determinação de uma mulher com controle emocional e conhecimento de técnicas para se defender. É isso que a Academia de Sobrevivência Urbana (Sobs) ensina no Curso de Defesa Pessoal Para Mulheres.
Na mesma academia, toda semana, tem aulas de Krav Magá, filosofia de defesa israelense criada na década de 40. O curso específico para as mulheres, apesar de ter alguns elementos desta filosofia, tem um foco diferente: a parte emocional. “A capacidade de ferir alguém não é inerente à mulher. Ela precisa se libertar disso”, conta o instrutor Gerson Madlener.
Sem dó
A aula começa devagar. As alunas se apresentam e contam suas experiências. Algumas procuram o curso porque foram vítimas de assalto ou apanharam do marido, outras foram abusadas na infância e ainda carregam o trauma. As que nunca passaram por situações de pânico vão com a intenção de se prevenir.
Já no tatame, a primeira atividade é aprender a bater, sem sentir pena (porque o ladrão também não será piedoso). Com um bastão de espuma, as alunas batem umas nas outras. Quase não há dor, mas quando há, elas são ensinadas a resistir.
Minutos depois entram os “sparrings”. São 15 alunos de Krav Magá, que chegam para provocar e apanhar. As mulheres se soltam, batendo neles com o bastão, e depois aplicando as primeiras técnicas apresentadas. Todas são incentivadas a ir até o limite da força e do grito, para extravasar toda raiva, todo trauma, e compreender que é possível reagir se for preciso.
Técnicas
A ordem é botar em prática o instinto de sobrevivência: morder, arranhar e puxar o cabelo são técnicas do passado. Do chute entre as pernas ao dedo no olho, os conhecimentos agora são outros. A expressão não é de pânico, mas sim de raiva. Há simulações de abordagem na rua de todas as formas, incluindo tentativa de estupro. Algumas alunas lembram-se dos momentos de terror que passaram, e visualizam saídas que nem imaginavam que existiam. “A mulher não precisa ser atleta, mas tem que saber resolver a situação em dez segundos”, lembra Gerson.
Confiança
Algumas atividades são em meio a vários “sparrings”. No começo as alunas rezam para que acabe logo. Perto do fim, elas entram no meio de vários “sparrings” e não querem parar enquanto não derrubam todos. Viram mulheres completamente diferentes, confiantes.
Em meio à desgastante prática, há relaxamentos, dinâmicas e rápidas etapas teóricas. A filha de Gerson, Fernanda, 21 anos, também ensina. “Me sinto feliz por ter tido a criação que tive, porque sei que hoje não sou uma vítima em potencial. Ando com uma postura diferente na rua. Esse curso dá muita capacidade, uma sensação de garra que a pessoa não sabia que tinha”, conta a jovem.