Nem a presença de outros passageiros do ônibus da linha Maria Angélica impediram Odair Brandão, 28 anos, de matar sua ex-companheira, Dulcinéia Guesel, 33, às 18h de ontem, no Pinheirinho. Dentro do coletivo ele desferiu vários golpes de canivete na mulher e quase foi linchado pelas testemunhas do crime. Detido dentro do veículo, que parou na esquina das ruas Joaquim Simão e Otávio Saldanha Mazza (via-rápida sentido bairro), o autor do crime foi levado à delegacia por policiais militares do 13.º Batalhão da PM.
Pelo depoimento de Odair, o casal viveu junto por 11 anos e há cerca de seis meses se separou, por problemas financeiros. A filha deles, de 6 anos, ficou com a mulher e ela não permitia visitas do pai. De acordo com familiares de Dulcinéia, ela já havia registrado três queixas na Delegacia da Mulher, por agressão e ameaça de morte, denunciando que a separação não tinha sido pacífica.
Encontro
Foi em uma tentativa para conversar sobre a criança que aconteceu a tragédia, ainda segundo declaração de Odair. Ele contou que encontrou com a mulher no terminal do Pinheirinho, mas a conversa não foi longe. Odair saiu do terminal e esperou o mesmo ônibus, no primeiro ponto. Quando entrou no coletivo, foi direto conversar com ela, pedindo para ver a filha. “Não vou deixar você ver a menina. A polícia vem atrás de você”, teria sido a resposta.
Depois disso a confusão se armou. Os passageiros correram ao motorista pedir que ele parasse o veículo e abrisse as portas. “Quando desci vi o homem em cima da mulher, dando golpes nela”, relatou Edson Luiz Batista da Rocha, o motorista. Ele e outras pessoas tentaram separar o casal, mas sem sucesso. O freqüentador de um bar próximo chegou a usar um taco de sinuca e outro homem uma enxada para impedir a continuação da briga. “Ele estava muito alterado”, avaliou Edson Luiz.
Briga
As testemunhas conseguiram, a muito custo, retirar a mulher de dentro do ônibus. Mas Odair continuou a lutar com os defensores de Dulcinéia. A violência da briga ficou evidente na janela estilhaçada do coletivo. O motorista conseguiu, então, fechar as portas do ônibus, prendendo Odair.
Enquanto socorristas do Siate iam em atendimento à vítima, o cabo Donato e soldado Rodrigo chegavam em motocicletas para prender o assassino. “Foi chamado a apoio e conseguimos prendê-lo, antes que os populares o linchassem”, relatou o tenente Nairo. Com alguns ferimentos, Odair foi levado ao 10.º Distrito Policial (Sítio Cercado).
Apesar dos esforços, os golpes de canivetes foram certeiros para tirar a vida de Dulcinéia. Conforme levantamento preliminar da perita Jussara Joeckel, da Polícia Científica, a mulher recebeu vários ferimentos, alguns leves, outros profundos, no peito, na barriga, nas costas e nos braços. “As marcas indicam que ela tentou se defender”, determinou a perita, que recolheu o canivete retrátil, com 10 cm de lâmina, usado para o crime.
Mulher sustentava três filhos
Dulcinéia trabalhava como doméstica e tinha três filhos, sendo dois de seu casamento anterior. Ela e Odair teriam vivido bem até seis meses atrás, quando, por não ter emprego e não colocar dinheiro em casa, ele foi morar com o pai.
Conforme declarações de Odair, ele iria viajar para Nova Aurora, Norte do Estado, e queria dar um último abraço na filha. Mas como a ex-mulher não deixava, foi conversar com ela. “Me arrependo pela minha filha”, disse ele, ao falar do assassinato, sem demonstrar nenhuma emoção mais forte. Odair ainda disse que ele não queria resolver a separação judicialmente.
