Átila Alberti
Natália temia pela sua
vida e de sua família.

Ainda muito abalada, Natália Ramos, 52 anos, contou detalhes de como matou o próprio filho, Cleverson Ramos, 23, na madrugada do último domingo, no Jardim Bela Vista, em Piraquara, colocando fim ao drama que já durava seis anos. Viciado em drogas, o rapaz costumava ameaçar a família de morte e de atear fogo na casa. O temor de Natália aumentava ainda mais porque, há um ano, o jovem incendiou a casa de sua sogra.

continua após a publicidade

Mãe de cinco filhos, Natália contou que o drama começou quando seu caçula entrou para o mundo das drogas, aos 17 anos. ?Primeiro foi o tíner, depois a maconha e, finalmente, o crack, que foi

o fim.? Naquela época, Cleverson abandonou os estudos e nunca se interessou em trabalhar. Natália trabalhava como doméstica e tinha que sustentar o vício do rapaz.

Natália tentou tirar o filho das drogas duas vezes, internando-o em uma clínica de recuperação, mas Cleverson fugiu nas duas tentativas.

continua após a publicidade

?Ele chegava em casa, batia a mão no relógio e avisava que queria dinheiro em dez minutos, senão me matava?, relatou Natália. Desesperada, a mulher e os netos saíam para emprestar dinheiro dos vizinhos para entregar para Cleverson comprar crack. Quando trabalhava, a mulher entregava todo o seu dinheiro, mas depois de ficar desempregada, há dois meses, não tinha como colaborar com o vício do filho.

Na noite de sábado, o drama se repetiu. Depois de conseguir o dinheiro exigido pelo rapaz, Natália perguntou ao filho se poderia dormir.

continua após a publicidade

Ele concordou e ela foi para o quarto, armada com uma faca. ?Tinha muito medo dele.? Ela já se preparava para deitar, quando Cleverson abriu a janela, apontou uma faca e avisou: ?É hoje. Vou te degolar, arrancar sua cabeça.

Depois vou fumar a televisão e queimar essa casa.?

Natália contou que atirou a faca contra o filho, acertando seu coração. Depois, correu para a casa de uma vizinha para pedir ajuda. ?Com a faca no peito, ele ainda se levantou e tentou agredir minha neta?, relatou a mulher.

Ao sair de casa, Natália foi direto para a delegacia de Piraquara, e contou o que tinha acontecido. ?Foram os policiais que me contaram que ele tinha morrido. Jamais uma mãe quer tirar a vida de um filho?, disse com os olhos cheios de lágrimas.

Defensoria

A defensora-geral do Estado, Sílvia Cristina Xavier, informou que Natália está sendo submetida a tratamento psicológico. ?Ela só será liberada quando se recuperar emocionalmente. Vamos alegar legítima defesa?, contou Sílvia. Ela explicou que a Defensoria Pública atende pessoas carentes e mais informações sobre os serviços podem ser obtidas através do telefone 3218-7300.

Drogas levavam à violência

A mulher de Cleverson, Rosimeri Feltrin, 21 anos, que conviveu com o rapaz durante três anos, disse que também era espancada e obrigada a entregar seu salário como doméstica. ?Ele colocou fogo na casa da minha mãe, na Vila Nova. Até hoje ela não tem onde morar. Apesar disso eu gostava muito dele?, relatou Rosimeri. Ela contou que quando o amásio estava drogado costumava espancá-la e tomar todo o seu dinheiro. ?Quando ele não estava drogado e nem bêbado pedia perdão. Para tentar livrá-lo do vício mudamos para Colombo e Pinhais. Mas ele aprontou em todos os lugares que passamos.?