As versões controversas que a Polícia Militar apresentou para a morte de André Santos das Neves, 21 anos, é um dos motivos que levaram o Ministério Público a intervir no caso. Um promotor do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), vinculado ao MP, foi designado para acompanhar as investigações.
André foi morto por policiais militares na quinta-feira da semana passada. A primeira versão dada pela PM foi que, naquela madrugada, André andava por uma pequena rua, próximo à Avenida do Canal, na Vila Torres.
Ao ver a Rondas Ostensivas Tático Motorizado (Rotam), o jovem teria atirado contra os policiais. No revide, foi baleado. André foi levado ao Hospital Cajuru pelos PMs, onde chegou morto. O pretexto para a presença dos policiais seria denúncia de tráfico de drogas.
Esta semana, outra história surgiu. André estaria na laje de sua casa e atirado nos policiais. Em ambas as versões, apenas uma afirmação da PM é igual. O jovem teria sido pego com uma espingarda calibre 12, uma metralhadora, munições e 50 pedras de crack.
Família
A família apresenta outra versão. André estaria dormindo em casa com a namorada, grávida de quatro meses, quando os policiais arrebentaram a porta e entraram atirando.
Segundo uma prima do rapaz, as armas foram “plantadas” na residência, pelos policiais. A morte foi motivo de um protesto realizado na última sexta-feira, que fechou quase todas as ruas ao redor da Vila Torres.
Leonir Batisti, coordenador dos Gaecos no Paraná, diz que é função institucional do MP exercer o controle externo das atividades policiais. Em relação ao caso de André, o objetivo do MP é o de descobrir os fatos. “A principal questão a ser esclarecida, no momento, é onde André foi baleado. Vamos limitar as versões até chegar à verdadeira”, afirmou o coordenador.
Sem corporativismo
Leonir Batisti afirmou que a intervenção do Gaeco nas investigações visa a também evitar corporativismo no inquérito aberto pela PM. “Já recebemos alguns inquéritos policiais-militares que tivemos que reabrir investigações para verificar se a conclusão condizia com a verdade”, disse o coordenador.
Apesar da falta de pessoal -são apenas três promotores atuantes no Gaeco -, o coordenador afirma que o grupo procura acompanhar todos os casos de mortes ou lesões corporais envolvendo policiais civis e militares.
Alguns crimes de maior repercussão, com o de André, recebem ainda mais atenção. Dessa forma, também estão sendo acompanhados os quatro últimos homicídios, em que oito pessoas foram mortas por policiais militares da Rotam, 12.º e 13.º Batalhões, entre domingo e terça-feira.
Justiça
“Não temos nenhum receio em processar policiais, se constatarmos abusos em suas atividades”, garantiu Batisti, mostrando que pessoas da comunidade também podem ser responsabilizados por seus atos, caso se verifique que levantaram falso testemunho contra policiais.
“Por falta de informação sobre onde buscar ajuda, muitas vezes parentes procuram a imprensa para fazer justiça. O Ministério Público tem a função de apurar esses casos e está de portas abertas para receber o público”, instruiu.