O Ministério Público do Paraná ofereceu denúncia nesta quinta-feira (17) contra 13 policiais militares que na noite do último dia 10 de setembro executaram a tiros os jovens Davi Leite de Freitas, Josemar Bernardo, Thobias Rosa Lima, Salatiel Aarão Rosa Lima e Éderson Miranda.
Pela versão inicial dos policiais envolvidos, somente equipes da Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam), teriam feito uma perseguição ao veículo Gol ocupado pelos cinco rapazes e, após uma colisão num divisor de pistas na contramão da Rua Nicolau Maeder, no Alto da Glória, em Curitiba, os jovens teriam desembarcado e trocado tiros com os policiais.
Dois dos rapazes teriam sido baleados no local, enquanto outros três teriam corrido até um terreno próximo, onde teria havido um segundo confronto, sendo todos atingidos e encaminhados pelos próprios policiais ao Hospital Cajuru, onde entraram em óbito.
Entretanto, pelas investigações realizadas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), e também pela Policia Militar, restou evidenciado que os cinco jovens foram dominados pelos policiais no momento da abordagem do veículo, sendo posteriormente levados até o bairro Atuba, onde foram mortos.
Imagens captadas pelo circuito interno de TV de uma clínica na Rua Nicolau Maeder registraram o momento da abordagem e mostram numa rápida ação policial um dos rapazes que apareceu morto sendo dominado,
revistado por um policial e conduzido, caminhando, à viatura policial. O rapaz veio a ser reconhecido por familiares como sendo a vítima Thobias Rosa Lima, que foi morto com seis disparos de arma de fogo no peito.
Além das três viaturas da Rotam, outras duas viaturas de área participaram da execução. Provas técnicas (relatório de radar e equipamentos instalados) confirmam o deslocamento de cinco viaturas do Alto da Glória para o Atuba. A par disso, imagens captadas pela imprensa no Hospital Cajuru mostraram que uma das vítimas foi retirada, justamente, do camburão de uma dessas viaturas de área.
O exame de confronto balístico também revelou que dois dos projéteis retirados dos corpos das vítimas partiram da arma de um policial que estava nessa viatura de área. Pouco antes da execução houve troca de
telefonemas entre policiais que estavam nas viaturas da Rotam e na região do Atuba. Foram encontrados no Atuba estojos deflagrados de armas de policiais.
Confirmou-se ainda intenso tiroteio, que durou cerca de 5 minutos nesse último local, o que não foi observado por nenhuma testemunha nos locais apontados inicialmente como locais do confronto (Rua Nicolau Maeder e Rua Dr. Zamenhof).
A denúncia do MP
Diante das muitas provas levantadas pelo Gaeco e pela Polícia Militar, o Ministério Público do Paraná concluiu que as cinco vítimas foram totalmente dominadas e levadas para local ermo, no Atuba, onde foram executadas por motivo torpe, em atitude típica de grupo de extermínio, com emprego de meio cruel e sem qualquer chance de defesa, caracterizando-se todos os cinco homicídios como triplamente qualificados.
Os policiais foram também denunciados por crime de fraude processual, por terem tentado confundir a coleta de provas e tentado induzir em erro os responsáveis pela investigação. Segundo o Gaeco, os policiais chegaram a alterar a cena do crime, retirando alguns estojos que foram deflagrados no Atuba, local das execuções, e jogando-os posteriormente num terreno localizado na Rua Doutor Zamenhof, no Alto da Glória, apontado fraudulentamente como sendo o local do segundo confronto.