MP dá parecer favorável à liberdade dos pais do bebê

O pedido feito pelos advogados de defesa teve parecer favorável do promotor de Justiça Licíneo Corrêa de Souza, dependendo agora apenas da decisão do juiz da 2.ª Vara Criminal Ronaldo Sansone Guerra. A notícia foi dada ao casal na tarde de ontem, quando pela primeira vez eles tiveram a oportunidade de expor suas versões em juízo

O pedido feito pelos advogados do casal, Nilton Ribeiro de Souza e Luciano Nei Cesconetto, deverá ser encaminhado ao juiz, junto com o parecer do promotor, na próxima segunda-feira. Segundo Guerra, haverá resposta até o final da semana.

Interrogatórios

Depois que Any foi levada à Penitenciária Feminina, em Piraquara, e Nilson ao Complexo Médico Penal, em Pinhais, eles se encontraram ontem pela primeira vez, quando conversaram por alguns minutos antes de serem interrogados, separadamente. Perante o juiz, advogados e promotores de ambos contaram que desconfiaram do inchaço fora do normal do saco escrotal da criança e do endurecimento das nádegas, antes do bebê receber alta, e que foram tranqüilizados pela médica pediatra do Hospital Mater Dei, que afirmou se tratar de uma situação normal, em decorrência de "hidrocele". Eles disseram que, em casa, quando perceberam que a situação havia se agravado, levaram o bebê para o hospital, onde os médicos o internaram sem explicar o porquê. Nilson contou ainda que foi enganado pelos investigadores do 1.º Distrito Policial, que se passando por médicos, o algemaram na faculdade e o levaram à delegacia no momento em que ele se preparava para uma prova. No dia que o bebê morreu, Any contou que foi acusada por um médico chamado Luverci, de ter abusado sexualmente do filho e que na mesma data foi levada, juntamente com o marido – ambos algemados – ao 1.º Distrito Policial. "Fomos separados e colocados em salas diferentes. A escrivã ficou jogando eu contra meu marido para ver se a gente confessava esse absurdo", disse Any.

Durante as audiências os dois alegaram inocência. Em meio a lágrimas, Nilson garantiu: "Nós nunca fomos capazes de tocar no nosso filho a não ser por zelo, afeto e carinho". Também chorando, Any disse que apesar da gravidez não ter sido planejada, o casal esperava muito o filho. "Nós estávamos muito felizes, e até comentávamos sobre a creche que ele iria ficar, mas não deu tempo de dar continuidade aos nossos planos. Quando a escrivã me interrogou ela disse que fui fria, pois na verdade eu estava em estado de choque", finalizou Any.

Um sonho de liberdade

Enquanto aguardava para ser interrogada, Any Paula contou como está suportando a rotina de dentro da Penitenciária Feminina de Piraquara. Bastante emocionada, ela disse que estava com saudades do marido, mas que se assustou ao vê-lo tão abatido.

Para Any, o mais difícil é a convivência com as outras mulheres, que antes mesmo de ela chegar na prisão já falavam sobre seu suposto "crime". "Sofri bastante no começo, inclusive algumas guardas me tratavam como bicho, mas ultimamente elas estão acreditando mais em mim. Mesmo assim, costumo ficar sozinha para não ter problemas", contou.

A força para superar as dificuldades vem de duas mulheres com quem divide a cela, uma delas acusada de fraude no INSS e outra por tráfico de drogas. Além disso, Any contou que costuma ter o atendimento de uma psicóloga, que também tem lhe ajudado a superar o trauma da perda do filho e da prisão. A alegria é certa quanto ela recebe a visita da filha, de sete anos, permitida aos segundos domingos de cada mês. "Ela me alegra e me dá muita esperança. O tempo aqui não passa e a gente escuta cada história que não dá para acreditar. Nos primeiros dias fiquei em choque, pois nunca imaginei ficar presa. Aqui é outro mundo, que só quem está dentro sabe como é", desabafa.

Com a expectativa de ser solta na próxima semana, Any diz que já planejou o que vai fazer de sua vida. Ela, que é divorciada, e Nilson, solteiro, pretendem oficializar a relação e voltar a morar na casa onde viviam até ser presos. Quando questionada se deseja ter outro filho, ela diz que não, uma vez que ficou traumatizada. "Nilson é soropositivo, mas eu assumi o risco de ter um filho com ele. Agora é diferente. Depois do que aconteceu eu não tenho mais coragem de chegar perto de bebês", contou. Any também pretende voltar a trabalhar no escritório de advogacia, onde era secretaria há 9 anos. Segundo ela, seu patrão já mandou avisar que o emprego está garantido. "Aqui eu convivo com pessoas que não têm nada a ver comigo. Quero ir embora, reconstruir a minha vida e ser feliz. Não acredito que um ser humano seja capaz de fazer o que eles estão dizendo que eu fiz. Isso não existe, é coisa de outro mundo. Eu e meu marido somos inocentes", finalizou Any.

Manifesto recebeu apoio de populares

Enquanto o casal Nilson Moacir Oliveira Cordeiro, 33 anos, e Any Paula Fasollin, 29, eram interrogados na 2.ª Vara Criminal, familiares e amigos dos acusados promoveram uma manifestação pedindo por justiça, no centro da cidade. Segundo o irmão de Nilson, Luiz Fernando Martins Cordeiro, o resultado do movimento foi bastante positivo, uma vez que eles receberam apoio de muitos populares que presenciaram a passeata.

Por volta das 14 horas, cerca de 40 pessoas se reuniram em frente ao Instituto Médico-Legal, munidas de faixas com dizerem que remetiam à inocência do casal. O local foi escolhido como ponto de partida, em virtude da revolta da família com o laudo emitido por médicos legistas, que afirma que o bebê morreu depois de ser abusado sexualmente pelos pais.

Entre os participantes estavam os filhos de Nilson, de 7 e 12 anos, os pais e os irmão dele, além dos pais de Any. De lá, eles seguiram até o Fórum Criminal, onde estavam acontecendo as audiências. A passeata continuou em frente ao Palácio Iguaçu e ao Tribunal de Justiça, onde encerraram a manifestação às 16h. "O movimento foi muito bom, pois quando passávamos o trânsito parava e várias pessoas saíam nas janelas. Algumas vinham nos dar seu apoio, afirmando que acreditam na inocência deles. Por isso estamos bastante esperançosos, e acreditamos que eles serão soltos na próxima semana", finalizou Luiz Fernando.

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