Foto: Walter Alves/Tribuna
Fuzilaria matou dois jovens e feriu outros quatro.

Mais um capítulo da rivalidade entre duas gangues de São José dos Pinhais foi escrito a sangue na manhã de ontem.

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Na esquina das ruas Victor Alves Ferreira e Rodolpho Scheller, no Jardim Itália, quatro jovens foram baleados por matadores, enquanto conversavam. Adenilson Pereira Godoi, 22 anos, ainda tentou buscar abrigo em um bar, mas caiu sem vida na entrada do estabelecimento. Fabiano Alves Pereira, 21, e dois adolescentes, de 15 e 16 anos, foram socorridos pelo Siate e encaminhados ao Hospital Cajuru, em estado grave.

No hospital, Fabiano não resistiu. Os matadores fugiram em uma motocicleta.

A fuzilaria é resultado da rixa entre os grupos ITL (Jardim Itália) e Iraque, que perdura há anos e já deixou vários jovens e moradores da região mortos ou feridos. Na manhã de ontem, no entanto, Adenilson era o alvo principal dos assassinos. Ele estava jurado de morte há algum tempo e, na noite de Natal, foi baleado quando passeava de bicicleta pelo Jardim Itália, conforme informou o irmão dele, Adilson Godoi. O jovem foi atingido na mão e no peito, sem muita gravidade. Junto com ele, outros dois jovens foram feridos por integrantes da gangue rival. Um deles, Sandro Luís Mendes, 22, foi baleado no joelho e braço e permanece internado no Hospital do Trabalhador, onde passará por cirurgia, segundo familiares.

Conhecido

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Durante o atendimento da ocorrência por policiais militares e civis e da Guarda Municipal de São José dos Pinhais, muitas pessoas se aglomeraram na esquina do crime e conversaram com a reportagem da Tribuna. Todos foram unânimes em apontar um indivíduo conhecido por Luiz Carlos como o autor dos disparos contra Adenilson (nas duas situações) e também como responsável por outras três mortes no bairro.

Segundo levantamentos, Luiz Carlos age em companhia de outros integrantes de seu bando e, na fuzilaria ocorrida ontem, estaria acompanhado por um homem chamado Edivan, o ?Paraíba?. O modo de atuação do grupo Iraque é sempre o mesmo. Eles circulam pela região de motocicleta e, quando encontram seus rivais, perseguem-nos até feri-los ou matá-los.

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Foi dessa maneira que foi cometido o assassinato de Adenilson. Ele saiu de sua casa pela manhã, para comprar pão em uma panificadora próxima e, na esquina, parou para conversar com três colegas. De repente, integrantes do grupo rival apareceram em uma motocicleta e deram início à saraivada de tiros. A ação foi planejada para terminar o ?serviço? iniciado no domingo. Adenilson também estaria armado, mas não conseguiu se defender.

Sua arma foi levada do local e nenhum armamento foi aprendido pela polícia.

O irmão da vítima confirmou que Adenilson já havia trocado tiros com Luiz Carlos em outras situações. Essa afirmação é compartilhada pelo sargento Lopes, do 17.º Batalhão da PM, que atendeu a situação. De acordo com a perita Jussara Joeckel, da Polícia Científica, Adenilson morreu com um tiro na cabeça.

Guerra de seis anos

De acordo com alguns jovens, a rixa entre os dois grupos se arrasta há seis anos e se acentuou depois da briga ocorrida em uma festa, em setembro, quando a companheira de Luiz Carlos foi atingida na mão, por um disparo que teria sido efetuado por um tal de ?Queixada?. A partir daí, o entrevero entre os bandos é constante. Além disso, comenta-se que disputas por drogas também acirram a rivalidade.

Os adolescentes da gangue do ITL acusam seus rivais de iniciarem todas as ações criminosas. ?São eles que vêm ?apavorando? e que andam armados. Enquanto não prenderem o Luiz Carlos, a matança aqui vai continuar, inclusive com a morte de inocentes, como já aconteceu?, disse um menino que não quis se identificar. Dentre os inocentes mortos na ?guerra sem fim? do Jardim Itália está o caso de Antenor de Oliveira Paz, 55 anos, ocorrida em setembro. Ele retornava para sua casa após sair da igreja e foi atingido por uma bala perdida.

Luiz Carlos foi ouvido na delegacia por esse crime, mas negou qualquer participação e explicou que um grupo quis baleá-lo e terminou por acertar Antenor. As investigações sobre essa morte determinaram a detenção de um adolescente de 14 anos e prisão e indiciamento de mais três homens. Duas armas também foram apreendidas.

Terror tem nome

 
Foto: Evandro Monteiro/Arquivo
Luiz Carlos está foragido.

Pelo relato dos moradores foi possível perceber o medo em relação a Luiz Carlos. Ele é apontado como autor de vários crimes e, assim mesmo, continua a promover o terror na comunidade. Uma das moradoras que se dispôs a falar foi Rosa, que já teve a sua vida marcada pela violência na região. Na noite de Natal, seu filho Sandro Luiz Mendes foi baleado ao sair de casa para ver o que havia acontecido com Adenilson. ?Eles passaram de moto e perseguiram meu filho e atiraram?, contou. A revolta da mãe contra a gangue do Iraque é justificável. Ela acusa os mesmos indivíduos de terem matado seu outro filho Fabiano Mendes, 16 anos, há quatro anos. ?Ele não tinha nenhum envolvimento com essas gangues?, afirmou.

A revolta da mãe e de outros moradores aumenta quando se fala em justiça. Para eles não é aceitável que Luiz Carlos, apontado como participante de tantos assassinatos e tentativa de homicídio, não esteja atrás das grades. ?Que segurança eu e meu filho vamos ter com ele solto. Ele fica só dois ou três dias preso?, disse Rosa.

A delegacia de São José dos Pinhais tem registro que Luiz Carlos Jonas Pereira, 22 anos, já responde a inquéritos e está com a prisão decretada, pelo envolvimento em outros casos.