Familiares de Renata Waechter Ferreira, 21 anos, e Bernardo Dayrell Pedroso, 24, mortos depois de uma festa neonazista, em Quatro Barras, esperam há cinco anos por justiça. O crime aconteceu no dia 21 de abril de 2009 e, depois de cinco anos, prisões foram feitas, suspeitos confessaram, foram colocados em liberdade e a Justiça nada definiu.

continua após a publicidade

O rapaz estudava Direito em Minas Gerais e a moça, Arquitetura na Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Os dois foram encontrados mortos, ao lado do carro da jovem, no quilômetro 6 da BR-116. Na época, a Polícia Civil disse que a morte do casal foi encomendada por disputa de poder entre grupos rivais.

O Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), que investigou o caso, descobriu que o casal participava de uma festa em uma chácara em Campina Grande Sul. Segundo o delegado Francisco Caricati, que esteve à frente do Cope na época, o encontro reuniu pouco mais de dez pessoas e celebrava o aniversário do ditador alemão Adolf Hitler (20 de abril de 1889 – 30 de abril de 1945).

Reunião

continua após a publicidade

Segundo a polícia o encontro foi marcado pela internet e reuniu skinheads neonazistas de Curitiba e de outros estados. A decoração da festa lembrava o ditador e não eram consumidas drogas ilícitas, pois não eram aceitas pelos participantes. De acordo com as investigações, quem organizou o evento foi Bernardo, tido como “intelectual” pelo grupo, mas era criticado por ser contrário às agressões praticadas contra homossexuais e travestis em Curitiba. Bernardo considerava que os ataques complicavam a aceitação do movimento pela sociedade.

Bernardo, que tinha forte poder no grupo neonazista em Curitiba, era visto como muito inteligente e chamou a atenção de Renata, que tinha mais interesse por ocultismo e esoterismo, características também presentes nos grupos neonazistas. Embora o relacionamento dos dois tenha começado por conta dos conhecimentos em comum, familiares, amigos e colegas de sala dela afirmam não ter percebido nenhum comportamento racista ou antissocial da garota. “Nada que pudesse mostrar que minha filha era neonazista”, disse o pai da jovem, Amadeu Ferreira Júnior.

continua após a publicidade

Desconsolo

Enquanto nada se define e o caso continua emperrado nas mãos da Justiça de Campina Grande do Sul, o pai de Renata espera que algo seja feito. “Faço 50 anos em 23 de abril e meu aniversario perdeu o sentido. Sei que nada vai trazer minha filha e o namorado dela de volta, mas os assassinos estão soltos. Enquanto eles não forem julgados, meu coração não vai ter paz”, disse Amadeu. Ninguém, nem advogados, nem promotor e muito menos a Justiça de Campina Grande do Sul, dá previsão para que o julgamento aconteça.

Divulgação/Cope
Suspeito detidos.

Suspeitos são presos

Na chácara, o discurso de Bernardo foi aceito, mas outra corrente do movimento planejou sua morte. Esse grupo defendia a violência e tinha ramificações em São Paulo. A facção defendia linha de frente neonazista, pronta a agir com armas de fogo e a matar, caso fosse necessário.

Segundo as investigações da Polícia Civil na época, a morte do casal crime foi cometida por Jairo Maciel Fischer, João Guilherme Correa e Gustavo Wendler. Para o promotor Octacílio Sacerdote, da Justiça de Campina Grande do Sul, os três usaram Rosana Almeida e o marido dela, Rodrigo Mota, para atrair o casal para fora da festa. Rosana estava grávida e teria pedido para ser levada embora porque estava passando mal. Bernardo foi morto com um único tiro na cabeça. Renata levou um tiro na nuca e outro em uma das pernas.

Os policiais do Cope conseguiram chegar aos três suspeitos e depois ao casal. “Todos apontavam um rapaz de São Paulo como o mandante do crime”, e,xplicou o promotor Octacílio. Ricardo Barollo, rapaz que mora em São Paulo e segundo a polícia pertencia a um grupo de neonazistas, foi preso em seguida em seu apartamento, em Moema, na zona sul da capital paulista.

No apartamento de Ricardo, a polícia encontrou material neonazista. Ele foi apontado como um dos principais mentores da criação de uma linha de frente armada dentro da organização skinhead. O rapaz teve a prisão temporária de 30 dias decretada pela Justiça do Paraná.

Recursos

Os acusados ficaram dois meses presos. No dia 2 de julho 2009, a 1.ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Paraná concedeu habeas corpus aos seis envolvidos. “Eles foram soltos porque havia pequeno erro no processo”, explicou o pai de Renata. Ainda em 2009, em 28 de outubro, Ricardo foi preso mais uma vez, mas ele foi solto no dia 30. “Não havia motivos para prendê-lo, a Justiça entendeu que ele poderia responder ao processo em liberdade”, disse o advogado Adriano Sérgio Nunes Bretas.

Em 2010 e 2011, testemunhas e suspeitos foram ouvidos, e a Justiça definiu que os seis iriam a júri popular, mas a decisão foi protelada. “Todos os advogados, inclusive eu, recorremos da decisão por causa de atropelos no processo, como atrasos de formalidades, que anulam procedimentos e causam idas e vindas”, explicou o advogado de Ricardo Barollo. Segundo ele, o Ministério Público do Paraná pediu para que os autos fossem baixados para primeiro grau e isso atrasou ainda mais o processo.

Em agosto de 2013, os advogados de Ricardo entraram com recurso para que fossem modificadas as formas de julgamento. “O recurso foi manejado, por não haver indícios de provas. Pedimos para que o homicídio da Renata fosse retirado da responsabilidade do Ricardo”, disse Adriano Bretas. O advogado prometeu surpresas no julgamento e reviravolta ao caso. “Temos elementos que demonstram que o nosso cliente é inocente e que foi feita uma investigação dirigida. São provas que no momento não serão divulgadas para não atrapalhar o nosso trabalho de defesa”.