Foto: Átila Alberti/Tribuna |
A sepultura, além do corpo de Dilma, guarda muitos segredos. continua após a publicidade |
A testemunha "chave" que denunciou a quadrilha acusada de assassinar várias mulheres e alguns homens, na região de Almirante Tamandaré, morreu há 15 dias de causa ainda não esclarecida. Dilma Aparecida Machado, 32 anos, sabia dos motivos e dos responsáveis pela série de crimes e corajosamente apresentou sua versão dos fatos à polícia e à população do município, revelando as mortes de 21 mulheres e vários homens. Ela, que desde então estava incluída no Programa de Proteção à Testemunha, morreu no último dia 24 de junho, em Goiânia (GO), onde estava morando. Sua morte, de forma misteriosa, deverá desencadear uma nova investigação.
O corpo foi removido para Rio Branco do Sul e sepultado no cemitério da cidade no dia 28, na quadra 11. O cimento do túmulo onde Dilma foi enterrada, junto com seu pai Alcebíades Machado, ainda estava fresco ontem. Uma coroa de flores murchas ornamentava a sepultura. O coveiro, que prefere não se identificar, disse que vários amigos e familiares de Dilma compareceram no cemitério para o enterro. Depois ninguém mais foi visto no local.
No atestado de óbito, assinado pela médica Larissa Cardoso Marinho, de Goiânia, não consta a causa da morte.
O diagnóstico depende de exames complementares, feitos no Instituto Médico-Legal do município. Os laudos deverão estar prontos em 30 dias.
Denúncia
Temendo pela própria vida, Dilma, que era namorada de um dos assassinos (conhecido por "Beá" e que foi morto por cúmplices quando o caso começou a ser investigado), procurou a Tribuna em abril de 2002, para denunciar os quadrilheiros. Na época ela falou que seu nome estava na lista de mulheres que o grupo pretendia matar. Sendo assim, resolveu denunciar toda a trama. Na época, Dilma pediu apoio para deixar a chácara onde morava com sua família, temendo que os quadrilheiros estivessem nas proximidades. Uma equipe do Serviço Reservado do Comando de Policiamento da Capital (CPC) da Polícia Militar e a delegada Vanessa Alice, que na época presidia as investigações, foram buscar Dilma, que foi levada até o quartel central da PM. Lá, protegida, prestou depoimento e entregou mais de 30 pessoas, que, segundo ela, faziam parte do grupo de extermínio.
A quadrilha estaria envolvida com assassinatos, roubos, tráfico de drogas e armas.
A delegada Vanessa Alice então apurou que não só mulheres foram vítimas dos quadrilheiros, mas também homens. A partir do depoimento de Dilma, a delegada encontrou outras testemunhas, que, apesar de não saberem tantos detalhes quanto Dilma, também foram importantes para o andamento das investigações e para a obtenção de provas contra os acusados. Quatro anos se passaram e 17 acusados continuam presos, aguardando julgamento.
Dezessete ainda estão presos
Apesar de alguns políticos de Tamandaré promoverem manifestações para reclamar que as mortes de 21 mulheres ainda não foram solucionadas, 17 acusados de integrar uma das maiores quadrilhas de grupo de extermínio do Estado – envolvida em assassinatos, assaltos, tráfico de drogas e de armas – continuam atrás das grades, aguardando julgamento. Entre os presos estão sete policiais militares: Juliano Vidal de Oliveira, 29 anos; Jean Adan Grott, 28; Juarez Silvestre vieira, 40; Jeferson Martins, 26; José Aparecido de Souza, 30; Marcos Marcelo Sobieck, 32; Leily Pereira, 25. E ainda: o escrivão da Polícia Civil Alexander Perin Pimenta, 34; o assistente de segurança da Polícia Civil Luiz Antônio Alves da Silva, 43; o comerciante Sebastião Alves do Prado, o "Tião", 45; o motorista Celso Luiz Moreira, conhecido como "Celso Seco", 36; Paulo Celso Rodrigues, o "Celsinho", 41; a comerciante Maria Rosana de Oliveira, conhecida como "Rosana Zen", 43; Antônio Martins Vidal, "Tico", 51; Valdirio Adir Mangger, 39; Ananias Santos e André Luiz dos Santos, conhecido como "Andrezinho", 26. Todos os acusados foram denunciados pelo Ministério Público, em 2004, por homicídio qualificado. Depois disso, vários advogados entraram com pedidos de habeas corpus sob diversas alegações, entre elas excesso de prazo, mas nenhum deles foi concedido pela Justiça.
Os réus também foram pronunciados pela Justiça e deverão ser levados em breve a julgamento. O caso só não foi resolvido até então devido a complexidade e o excesso de recursos impetrados pelos defensores.
Depoimentos irão ao júri
Com a morte misteriosa de Dilma Aparecida Machado fica uma indagação: qual a vantagem que os acusados terão sem a presença da testemunha "chave" no Tribunal do Júri? Para o promotor de Almirante Tamandaré, Marcelo Briso Machado, não haverá prejuízo na acusação. "Ela já tinha prestado depoimento na polícia e em juízo, o que deverá ser mostrado no julgamento", disse. Ele salientou que está há poucos meses à frente do Ministério Público da cidade e ainda não teve acesso aos autos. Por este motivo, não tem como fornecer maiores detalhes. "A priori, não vejo prejuízos, já que esta testemunha já foi explorada", comentou.
Defensor
Já o advogado Matheus Gabriel Rodrigues de Almeida, nomeado pelo juiz para defender gratuitamente o réu André Luiz dos Santos, o "Andrezinho", não pensa da mesma forma. "Este depoimento é a base do inquérito policial. Pode até aproveitar os depoimentos anteriores, mas como defensor acredito que a oitiva da testemunha seria imprescindível para a defesa", disse Matheus. Ele disse ser importante explorar as contradições das testemunhas de acusação, o que é de grande importância no momento de convencer o corpo de jurados. "Uma testemunha morta perde o valor neste sentido", acrescentou.