Basta

Moradores da Vila Torres fazem protesto por mais segurança

A prisão do suspeito de matar Cauê da Silva Ferreira da Cruz, 7 anos, com um tiro no pescoço, no domingo, não bastou para os moradores da Vila Torres. Ontem, inconformados com a falta de segurança e o abandono vivido diariamente, organizaram protesto pedindo por justiça não só pela morte do menino, mas também pela disputa entre as gangues de cima e de baixo.

Eles fecharam por completo o trânsito da Rua Chile queimando tudo que encontraram pela frente. “Nós que não temos nada a ver com a briga entre os traficantes vivemos num verdadeiro presídio. Não podemos trabalhar, mas também não podemos nem sequer ir ao posto de saúde, que fica na outra parte da vila, porque, se chegarmos lá, somos mortos”, disse uma moradora desesperada. “Trabalho na PUC (Pontifícia Universidade Católica) e sou ameaçada dentro da universidade, porque, segundo os traficantes, invado a área proibida”.

Restrito

De acordo com os manifestantes, Cauê mal ia para a escola. “Estudava numa escola próxima e só saía de lá para ir à casa da avó. Assim como ele morreu, muitos outros vão morrer por causa dessa disputa ridícula de espaço. Os bandidos não estão mais brigando entre eles e sim com todos. Não podemos sair de casa e, mesmo assim, corremos risco”.

O protesto reuniu crianças também pedindo atenção das autoridades. “Não somos bandidos. Queremos justiça”, diziam os pequenos, que foram cercados por muitos policiais militares. Policiais comandados pelo tenente Lucas Marquetti, do 12.º Batalhão, foram proibidos de se pronunciar sobre o protesto. ‘”Meu papel é apenas trabalhar no local, informações com a assessoria de imprensa”, resumiu o policial.

Os moradores imploraram diversas vezes para que a imprensa ficasse até o fim do protesto. “Se vocês saírem daqui, eles vão atirar na gente”, disse um morador, afirmando que não se sentem seguros nem com a polícia. “Os próprios policiais disseram para a gente que vão deixar que o pessoal da parte de baixo nos mate”, disse.

Acusações

Outra moradora, que pediu para não ser identificada, apontou e garantiu que policiais presentes na ação são usuários de drogas conhecidos dos moradores. “Aquele ali vem, junto com alguns outros, para se drogar dentro da vila. Entram nos mocós, reviram, batem e pegam tudo que os usuários têm para usar. Eles usam dentro da própria vila. Nós já vimos”.

Depois de aproximadamente duas horas de protesto, a Rua Chile foi liberada, mas os moradores continuaram no local. “Não vamos desistir, porque enquanto nada for feito para ajudar as pessoas de bem, que não tem nada a ver com a disputa entre as duas gangues, elas vão continuar morrendo. Porque acreditem ou não, existem sim muitas pessoas na Vila Torres que não são bandidos”, desabafou.