Meninas que ainda brincam com boneca são vítimas dos próprios pais. |
Meninas que ainda brincam com bonecas violentadas pelos próprios pais. Registros assim são comuns em delegacias. Somente este ano, sete pais que abusaram sexualmente das filhas menores foram presos, em Pinhais. Destes, três só foram denunciados depois que engravidaram as garotas. Ontem à tarde, um ancião, 69 anos, foi preso em Santa Felicidade. Ele é acusado de violentar suas duas filhas, de 6 e 12 anos. Na sexta-feira, A.A.D.A., 45 anos, foi preso por estuprar a filha de 15 anos, e engravidá-la.
O delegado Gerson Machado, da DP de Pinhais, informou que casos como este já viraram rotina na delegacia. Ele alerta que os pais "monstros" abusam durante anos, de suas próprias filhas, aproveitando da inocência e do medo das crianças, até serem descobertos e denunciados. "Eles ameaçam bater ou matar as meninas, caso contem para alguém. Por isto, muitos só são descobertos quando engravidam a própria filha. Nestes casos, não tem mais como a garota esconder", lamenta o delegado. Ele salienta que a grande maioria dos pais que abusam das filhas são semi-analfabetos e vivem praticamente na miséria.
Machado disse que, normalmente, são as mães das crianças que fazem a primeira denúncia ao Conselho Tutelar, que encaminha a menor para o Ministério Público. Este, por sua vez, solicita a abertura de inquérito policial. "Pedimos a prisão de todos que chegam aqui. A juíza da Comarca tem sido severa com este tipo de criminoso", frisou. "Como as vítimas são menores, há presunção de violência. Se condenado, um sujeito deste pode pegar uma pena de 6 a 10 anos de reclusão", explicou o delegado.
Ancião
Apesar da idade avançada, L.M., de 69 anos, abusava das filhas, hoje com 6 e 12 anos, desde fevereiro de 2002. De acordo com o depoimento das menores, ele começou passando a mão no corpinho nas primeiras vezes. Depois, começou a tirar a roupa, até que abusou sexualmente das crianças. "Ele obrigava elas a passar a mão nos órgãos sexuais dele também. Além de outras coisas", informou o delegado, que disse que ficou chocado com o depoimento das menores.
Já A.A.D.A., 45 anos, molestava a filha de 15 anos, há cinco anos. A menina não contava para a mãe porque era ameaçada pelo pai, mas ficou grávida. A mãe descobriu a gravidez porque a menina teve um aborto espontâneo. "Ela indagou à filha sobre o que tinha acontecido, e a menor acabou contando que o pai já vinha mantendo relações com ela há vários anos", contou Machado.
Nucria recebe denúncias
"Abusar sexualmente dos próprios filhos não é crime apenas das camadas sociais mais pobres, mas também das mais elevadas." O alerta é do delegado Cláudio Fernando da Cunha Teles, coordenador do Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente vítimas de Crimes (Nucria), criado há quatro meses para investigar casos de abuso sexual e violência contra menores. Ele salienta que a diferença é que os casos de abusos envolvendo as famílias mais abastadas não chegam a virar "caso de polícia", já que estas pessoas temem ter sua posição social abalada e por isso resolvem o problema dentro da própria casa.
Cláudio disse que ainda não tem uma estatística de quantos menores são violentados mensalmente, mas alerta que são muitos, onde os criminosos são pessoas que estão próximas das crianças, como o pai, padrasto, tio e até mesmo mães, que participam ativamente da violência ou encobertam o criminoso. "Temos um caso de que a mãe sabia que a filha estava sendo violentada e ao ser indagada por nós, chamou a filha de mentirosa", contou o delegado. A idade das crianças molestadas varia muito e existem casos de crianças que são violentadas aos 2 anos de idade. "São casos delicados e por isto tomamos muito cuidado. Encaminhamos a criança para psicólogos para certificarmos que ela está falando a verdade. Depois tomamos as providências necessárias", informou.
Segundo o delegado, a maioria dos pais que violenta crianças as ameaça, dizendo que vai abandonar a casa e alega que todos irão passar fome sem ele por perto.
Ele salientou que o pai que abusa da própria filha possui problemas psicológicos, mas dificilmente procura ajuda. "Infelizmente, quando é descoberto, ele já praticou o crime."
O delegado disse que a ajuda do Conselho Tutelar é importante para que a polícia tome conhecimento do crime contra a criança ou adolescente. "Estamos elaborando cartilhas que incentivam a denúncia", disse o policial. Quem souber de casos semelhantes pode denunciar através do telefone 244-3577.