Desrespeito

Menor parte pra cima de delegado na delegacia

Um adolescente, de 16 anos, partiu para cima de investigadores e do delegado Rubens Recalcatti, da Delegacia de Homicídios, na tarde de segunda-feira (27) , enquanto era ouvido pelo envolvimento no assassinato de um torcedor do Coritiba. Ele responderá também por desacato e resistência.

O garoto foi identificado como um dos dois assassinos de Luiz Fernando de Godoy, 21 anos, morto a tiros, em 12 de maio, dentro de um ônibus no Tatuquara. Luiz Fernando vestia camisa da torcida organizada Império Alviverde e ia para casa assistir à decisão do campeonato paranaense.

Briga

As investigações da DH apontaram que o adolescente atirou e a motivação foi uma briga de bairro, sem relação com futebol. Ele foi intimado a prestar depoimento, e a mãe dele conseguiu levá-lo até a delegacia por volta das 14h de segunda-feira. Os policiais ainda procuram pelo comparsa dele.

“Ele estava no cartório xingando os policiais. Abusadíssimo. O escrivão me chamou, então eu entrei no cartório e tirei o boné da cabeça dele. Ele veio para cima de mim, me grudou na parede e chegou a rasgar minha roupa. Os policiais tiveram que interferir”, conta o delegado que, apesar da confusão com o garoto, que é alto e forte, não ficou ferido.

Abusado

O delinquente foi dominado e transferido para a Delegacia do Adolescente. Uma cópia do inquérito do homicídio, em que o garoto nega ter envolvimento no crime, foi encaminhada para a DA. No caminho, o adolescente foi contando vantagem: “Não fico preso nem um dia, se o senhor quer saber”, disse.

Agressões são raras na DA

O número de apreensões de adolescentes aumentou nos últimos anos, e por crimes cada vez mais graves, como homicídios e latrocínios. Apesar de mais ousados, segundo o delegado Ricardo Monteiro, adjunto da Delegacia do Adolescente (DA), são raros os casos de jovens agressivos dentro da unidade.

“Dentro da DA, eles sabem que têm de respeitar os policiais. A ousadia prevalece quando eles estão na rua, com uma arma na mão e em grupo. Se não respeitarem nem a polícia, quem mais vão respeitar?”, questiona o delegado.

Aos adolescentes infratores, as punições vão desde advertências verbais do juiz, até internações em Centros de Socioeducação por até três anos. No ponto de vista de Monteiro, as medidas são eficientes e muitos jovens terminam de cumpri-las conscientes de que não devem mais errar.

Retorno

O problema está no retorno do jovem para onde ele vivia, por exemplo. “Se ele volta para dentro de uma família desestruturada, para os mesmo amigos, vai voltar a ser o que era. Tem que mudar a condição da família e do adolescente”, diz o delegado.

Monteiro é contra a redução da maioridade penal para 16 anos. “Se ele for mais cedo para a cadeia, vai fazer pós-graduação em crime. A sociedade tem mania de querer resolver seus problemas com leis. Penas mais duras não evitam crimes. São as condições da sociedade que têm de mudar”, alega Monteiro.

Psicóloga aponta problema familiar

A mestre em psicologia Roberta Hofius avalia que o jovem que agrediu o delegado conseguiu o que queria. “Vai voltar para o bairro onde reside cheio de moral. Vai ser enaltecido como o corajoso”, opina. De acordo com sua tese de mestrado, a desestruturação familiar é a principal causa de jovens cada vez mais violentos e sem limites.

Para Roberta, é necessário encontrar outras maneiras desse adolescente se sentir valorizado. “O esporte é um bom caminho. Temos que fazer o jovem sentir vontade de ter sucesso em alguma profissão, não só daquelas em que se tem muito dinheiro e um carrão”. Roberta afirma que os jovens têm que sentir orgulho em ser trabalhador e não se vangloriar por ser violento e não ter limites.

Núcleo

A maneira violenta e abusada dos jovens surg,e em suas próprias famílias, principalmente as mais pobres. Nelas, as mães têm que manter a casa, e as crianças e adolescentes acabam por receber menos orientações e limites.

Quando a família não ocupa o lugar que deve na vida do jovem, a sociedade violenta o abraça. O jovem passa a adorar o traficante, o assaltante e outras “profissões de sucesso” nas comunidades pobres e violentas. Roberta alerta que o adolescente se sente encorajado em continuar violento, por achar erroneamente que não vai ser punido.

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