Para convencer a mãe a lhe dar um computador e uma bicicleta, um garoto de 11 anos simulou o próprio seqüestro por duas vezes e por pouco não colocou um professor e o tesoureiro de uma empresa atrás das grades. O falso seqüestro mobilizou policiais da delegacia de São José dos Pinhais e de delegacias especializadas, durante dois dias. Ontem, o próprio garoto procurou a delegacia para contar que inventou toda a mirabolante história.
O delegado Osmar Dechiche, titular da DP de São José dos Pinhais, contou que foi procurado pela mãe do menino, por volta das 14h de segunda-feira. Ela afirmou que o filho havia sido seqüestrado. Segundo a mulher, o garoto entrou em contato através de seu próprio telefone celular, contando sobre o seqüestro e dizendo que os marginais queriam um resgate no valor de R$ 500,00. Às 15h30, o delegado ligou para o celular do suposto refém. O menino relatou então que estava indo para a escola, por volta das 12h45, quando foi abordado pelos ocupantes de um Fiat Uno. No veículo havia dois casais e três crianças. Em seguida, a "vítima" foi levada para uma casa. Assim que chegaram, os supostos "seqüestradores" o mandaram telefonar para a mãe e pedir o resgate. Em seguida, o menino foi trancado e amarrado na casa. "Quando telefonei para o celular, ele mesmo atendeu. Disse que estava trancado e só conseguia ver, de onde estava, a placa de supermercado", relatou Dechiche.
Através de informações repassadas pelo garoto no final da tarde, policiais da delegacia chegaram até a casa, no centro de São José dos Pinhais. "Ele estava do lado de fora, com o uniforme rasgado e o cabelo cortado", relatou o policial. O menino disse então que os seqüestradores é que tinham feito aquilo, usando uma tesoura, que estava em seu material escolar. Diante das informações, os policiais arrombaram a casa, mas não encontraram nada que confirmasse a versão do garoto.
Pouco depois, chegaram ao local os moradores da casa, o professor e o tesoureiro de uma empresa. Ambos foram convidados a ir até a delegacia. "O menino afirmava que eles seriam os seqüestradores. Os acusados negaram. Como alunos e a diretora do colégio confirmaram que o professor estava ministrando aula, surgiu a dúvida. Ouvimos os acusados, mas os liberamos", contou o policial.
Novo seqüestro
Às 17h de terça-feira, a mãe do garoto entrou em contato novamente com a delegacia, para dizer que o filho havia sido seqüestrado outra vez, pelas mesmas pessoas e que agora iriam matá-lo, pois haviam invadido a sua casa, na Colônia Rio Grande. "Encontramos o garoto no quintal da mesma casa. Ele disse que os dois homens, usando um Uno branco, o ameaçaram com um revólver. Só que um vizinho viu o menino andando sozinho na rua", salientou o delegado, que já suspeitava que o menor estava mentindo.
Diante da nova situação, a mãe do menino ameaçou denunciar os policiais por negligência, alegando que não haviam prendido os seqüestradores de seu filho. inclusive já havia marcado uma passeata para protestar.
Ontem pela manhã, o menino chegou sozinho na delegacia e pediu para falar com o delegado. "Ele confessou a mentira e disse que fez tudo isso porque queria um computador, para poder entrar na internet, e uma bicicleta", contou Dechiche, que encaminhou o menor para a psicóloga da Delegacia do Adolescente.