Alberto Melnechuky
Mãe foi assassinada a tiros, pai, esfaqueado em assalto.

Um menino de 12 anos, morador de rua, que teve pai e mãe assassinados no Parolin recentemente, foi detido na noite de quinta-feira, na esquina das Ruas Visconde de Nácar e Cruz Machado, com 50 pedras de crack, escondidas no forro do tênis. Ele disse que o seu único amigo é o traficante para quem trabalha como aviãozinho (entregador de droga) e que, com a venda da droga, consegue comer e sustentar o vício. Ele foi encaminhado à Delegacia do Adolescente.

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Segundo os soldados Severian e Silveira, do 12.º Batalhão da Polícia Militar, por volta de 22h30, eles viram o menino negociando com um homem na região central. ?Encontramos R$ 28, mas em revista mais minuciosa, localizamos a droga escondida no forro falso do tênis?, explicou Severian. Segundo ele, o garoto confirmou que era ?aviãozinho? e pegava a droga de um amigo, em uma pensão da Rua Saldanha Marinho.

Perdido

O menino disse que não sabia ao certo como era seu nome. Ele contou que morava no Parolin, mas, quando a sua mãe foi assassinada a tiros, há aproximadamente dois anos, ele deixou o pai, um irmão mais velho e três mais novos, para morar na rua.

O garoto contou que sempre ?dava uma passadinha? em casa, mas há seis meses, o pai foi assassinado a facadas durante um assalto e ele nunca mais apareceu. A partir daí, o seu único amigo tem sido o traficante, que lhe deu ?oportunidade? de juntar uns trocados e garantir o sustento do vício, vendendo crack na região. ?Cada pedra custa ?deizão? (R$ 10), eu tinha que vender todas essas para ganhar R$ 200 e levar R$ 300 para a pensão?, contou o garoto com o olhar vago, sem se importar com a detenção, mais uma entre tantas outras. ?Já fui umas dez vezes pra abrigo, mas sempre eu fugi?, contou.

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O menino disse que costuma dormir na Praça Rui Barbosa, mas, nos dias de chuva, prefere as marquises das lojas. ?Não penso em voltar pra casa, nem parar de usar droga. Já tentei, mas é muito difícil?, completou o garoto, que estudou até a terceira sério do ensino fundamental.

Violência juvenil

Giselle Ulbrich

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Valdecir Botega, superintendente da Delegacia do Adolescente, revela que os crimes mais violentos são cometidos por adolescentes, devido à falta de experiência e por estarem numa idade impulsiva. Já adultos, relata, conseguem dosar a violência e agem com mais calma. ?Alguns bandidos mais velhos chegam até à agradecer a vítima que lhes entrega seus pertences num assalto, por exemplo?, ironiza o policial.

A adolescência, analisa o superintendente, é a fase em que o jovem está mais suscetível ao recebimento de informações, que vão definir o seu caráter. No caso do adolescente de 12 anos, preso pela PM, que já teve os pais assassinados, não vê os irmãos há meses, não tem casa e vive no mundo do tráfico de drogas e crimes, a violência é tão normal quanto assistir à televisão, para um jovem que tem estrutura e boa educação.

O grande problema da maioria destes jovens marginais é que o crime e as drogas lhe proporcionam, de certa forma, uma vida excitante, que eles não possuem o menor interesse em largá-la. De acordo com Botega, os garotos sabem que vivem uma vida desgraçada. As drogas os tiram temporariamente dessa realidade, lhes dão sensação de prazer e poder. Num estágio mais avançado, acabam tendo recompensas financeiras, quando começam a traficar entorpecentes. ?É difícil concorrer com a violência?, lamenta o superintendente.

Pouca esperança

O adolescente detido quinta-feira, pela PM, mostrou claramente seu desinteresse em largar as drogas e a vida de crimes. Neste caso, mostrou Botega, a polícia tenta ajudar o menor infrator de alguma forma, mas acaba ?brigando? com a falta de programas de governo que reintegrem o infrator à sociedade e a falta de interesse do próprio jovem em mudar de vida. A polícia não pode obrigá-lo a entrar em algum programa social, voltar a estudar ou internar-se num tratamento contra as drogas.

Estrutura

Outro fator que contribui para que o adolescente opte por uma vida irregular é ter uma família desestruturada. A família, diz Valdecir Botega, é a linha de frente no combate às drogas. Por mais que os jovens tenham vontade de largar o vício, se não tiverem o apoio da família e, em segundo lugar, dos amigos, nunca largarão aquele mundo de crime. É uma decisão que ou lhes dará cadeia, ou lhes levará à morte, seja assassinados por traficantes, por overdose ou doenças causadas pelos entorpecentes.

Trâmite rápido

Quando um jovem infrator chega à Delegacia do Adolescente (DA), ele pode ser entregue aos cuidados da família, para que depois seja apresentado pelos responsáveis ao Ministério Público, ou, no caso de flagrante, ser internado em educandário enquanto seu caso é julgado.

De acordo com o superintendente da DA, Valdecir Botega, o jovem que chega à delegacia é autuado e examinado por psicólogos, assistentes sociais e enfermeiros. Em seguida, é imediatamente apresentado ao MP, que tem 45 dias para definir a punição.