Com medo das ameaças que estavam recebendo, alunas de um colégio do Portão, com idades entre 11 e 13 anos, denunciaram uma quadrilha de pedófilos que as aliciava para orgias sexuais com "clientes" arrebanhados pela internet, através de chats e sites de relacionamento. De acordo com as meninas, a agenciadora seria conhecida por Luciana, dona de um apartamento no bairro Fazendinha, usado para os programas sexuais. Tais orgias reuniam sempre um homem e quatro meninas. As garotas também eram levadas para motéis. As vítimas também denunciaram que policiais civis fazem parte da quadrilha. O caso começou a ser divulgado ontem, no programa Tribuna na TV.
Uma das vítimas relatou que as meninas do colégio eram convidadas por uma colega a fazer os programas, com a promessa de ganhar muito dinheiro. Atraídas pela promessa de ganho fácil, elas aceitavam o trabalho. Algumas faziam apenas sexo oral com os cliente e outras chegavam a fazer o trabalho "completo".
Polícia
Quando o cliente já estava "à vontade" com as garotas, Luciana fazia um sinal indicando que policiais iam entrar no local. Afirmando ter recebido uma denúncia de pedofilia, os supostos policiais invadiam o apartamento ou o quarto de motel, ameaçavam o cliente – em algumas situações chegavam a fotografá-lo e filmá-lo com as meninas – para extorquir-lhe dinheiro.
Os clientes eram selecionados "a dedo", pela internet. "Quando o cara tinha bastante dinheiro, na hora já tiravam tudo dele e o mandavam embora. Quando não tinha, levavam para a delegacia, e o extorquiam. Em todas as orgias os policiais apareciam e, numa das que eu participei, chegaram a levar R$ 10 mil de um "cara’", disse uma das meninas. Ela completou que dos quatro programas que fez, recebeu R$ 150,00 apenas pelo último.
De acordo com o delegado Edson Costa, adjunto do 4.º Distrito Policial (DP), Luciana havia sido levada à delegacia na última sexta-feira, por policiais da Patrulha Escolar Comunitária, pela acusação de envolvimento com pedofilia (depois de uma andança pelo 8.º Distrito e Nucria, que também não tomaram providências). Ainda de acordo com o delegado, Luciana nem foi ouvida – e foi liberada em seguida – por não haver indícios da participação dela no crime. Desde então, a acusada de aliciar as crianças não foi mais vista no condomínio onde reside. Uma moradora afirmou que Luciana colocou bagagens em um carro e desapareceu.
Uma das estudantes disse que parou de fazer os programas porque recebeu ameaças, caso contasse a alguém o que vinha ocorrendo. A irmã dela percebeu algo errado e contou para a mãe, que mais tarde obteve a confissão da filha sobre a existência da quadrilha de pedófilos. Na mesma data em que a vítima sofreu ameaças, dois homens e três mulheres, em um Gol branco, chegaram na residência à noite, apresentando-se como policiais, e perguntando se ela sabia o que estava acontecendo com a filha. Também solicitaram que a mulher fosse até o 4.º DP para dar esclarecimentos ao delegado. Porém, como os policiais não tinham qualquer intimação, a mulher negou-se a dar os depoimentos e, com medo, mudou-se para a casa de parentes.
Autoridades investigam o caso
De acordo com o major Anselmo José de Oliveira, chefe da Casa Militar e coordenador da Patrulha Escolar Comunitária, o caso chegou ao conhecimento das autoridades a partir do diretor do Colégio Marechal Cândido Rondon. Essa semana, a mãe de uma das meninas descobriu que a filha estava sendo ameaçada, e o porquê das ameaças. Desesperada, a mulher procurou policiais da Patrulha Escolar, que investigaram os indícios e confirmaram a existência da quadrilha.
"A informação foi levada ao secretário Luiz Fernando Delazari (Segurança Pública), que despachou a situação à Corregedoria da Polícia Civil e ao Nucria (Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes). O caso também foi encaminhado ao Ministério Público", disse o major.
"Não há a certeza, inclusive, se eles são realmente policiais civis. Eles é que se intitularam como tal. Mesmo assim o caso está sendo severamente averiguado pela Corregedoria", informou o major.
Edson Costa, delegado adjunto do 4.º DP, negou o envolvimento de qualquer agente daquela delegacia no crime, e que apenas conheceu Luciana no dia em que ela foi levada à delegacia. "Estou há um mês nesta delegacia, e quando recebi a ocorrência fiz minha obrigação de delegado, dando início ao inquérito", disse. A delegada do Nucria, Ana Cláudia Machado, também foi procurada pela reportagem, mas disse que não poderia falar sobre o assunto.