João de Noronha
Mãe de Giovanna, Cristina,
exibe a foto da filha.

Três meses depois que a pequena Giovanna dos Reis Costa, 9 anos, foi vista pela última vez, no dia 10 de abril, uma revelação feita por Lucas, 11, irmão dela, faz a família acreditar que a garota já estava na mira dos ciganos Petrovitch. Dias antes de desaparecer, Giovanna foi convidada a entrar na casa deles, mas como estava acompanhada do irmão, ele a convenceu a irem embora. Pero Theodoro Petrovitch Vichi, 18 anos, e a mulher dele, de 15 anos, estão com prisões preventivas decretadas e continuam foragidos.

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A Secretaria da Segurança Pública informou que só divulgará informações sobre o caso quando o inquérito for concluído. As investigações estão correndo em segredo de Justiça.

O Jardim Patrícia, onde a vítima e os suspeitos moravam, sempre foi um lugar considerado calmo e seguro. Por isso, Cristina Aparecida Costa, 31, não se preocupava em deixar seus filhos caminharem pelas ruas próximas de sua casa. Lucas e Giovanna costumavam vender panos de prato confeccionados por uma vizinha. "Eles queriam ter o dinheirinho deles, então batiam nas casas dos vizinhos. Todos os conheciam e sempre tinha crianças nas ruas. Eu os deixava vender os panos e dava um horário para que voltassem para casa", contou Cristina.

Os irmãos já tinham batido no portão dos Petrovitch várias vezes e, dias antes de acontecer o crime, ocorreu um fato diferente que hoje chama a atenção da família. Cristina não soube dizer se foi Vera, mãe de Pero, ou a nora dela – que está com prisão decretada – que convidou Lucas e Giovanna para entrarem na casa.

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"A mulher disse que tinha um cachorro morto no quintal e os convidou para ver o animal. Giovanna estava indo, mas Lucas disse que eles tinham que ir embora porque eu ia ficar brava se chegassem tarde em casa. A mulher insistiu para que fossem ver o cão, mas Lucas puxou a irmã e eles voltaram para casa", contou Cristina.

O garoto só contou o que tinha acontecido naquele dia recentemente, quando os ciganos começaram a ser procurados pela polícia. "Ele contou para minha cunhada e quando soube fui perguntar para meu filho sobre a história. Ele então me detalhou como tudo aconteceu. Se Lucas e Giovanna tivessem aceitado o convite, talvez naquele dia pudesse ter perdido meus dois filhos", disse a mãe.

Cachorro-quente

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Para Cristina, a família Petrovitch já estava monitorando seus filhos desde o ano passado, quando ela vendia cachorro-quente em frente a um pequeno mercado no Jardim Patrícia. "Pero e a mulher dele eram meus clientes e ela começou a perguntar a idade e o nome dos meus filhos. Sem perceber nada, falei, pois eu sempre levava um deles comigo", contou Cristina, mãe de Giovanna, 9; Lucas, 11; Jéssica, 12; Bruna, 6, e Andressa, 2. "Um dia fiquei assustada quando ela me disse que sabia que eu também tinha um bebê de dois anos, pois nunca tinha levado a Andressa para trabalhar comigo", contou a mãe.

Dias depois, a mulher de Pero disse a Cristina que pressentia que seu negócio não ia bem, e que ela deveria fazer um trabalho espiritual com os ciganos. Católica, Cristina disse que não estava interessada. "Ela perguntava sobre meus filhos, mas quando os via comigo nem olhava para eles. Geralmente as pessoas brincam com as crianças, mas ela sempre foi muito fechada", contou Cristina.

Revolta

Cristina e seu marido Altevir Costa, 39, estão revoltados pelo fato de Pero ter ficado preso e hoje estar foragido. "Se não devessem nada, então por que fugiram de Quatro Barras e de Curitiba? Eles vieram morar aqui para desgraçar a nossa vida", finalizou Cristina.

A mãe também lembrou que no dia em que Giovanna desapareceu, ela e o marido fizeram buscas no bairro, atrás da garota. Chegaram a passar na frente da casa dos ciganos, mas como perceberam que havia muita gente no local, como se estivesse acontecendo uma festa, ficaram constrangidos em interromper e não bateram ali para perguntar se tinham visto a criança. De acordo com a polícia, Giovanna estava num dos quartos da casa.

Ela teria sido seqüestrada por Pero e sua mulher, para servir de oferenda em um ritual de magia negra feito para garantir a virilidade do homem cigano após o casamento. No dia seguinte, um parente deles casou-se em Curitiba.

Mortes semelhantes à de Giovanna foram apuradas no Rio de Janeiro e em dois outros estados brasileiros, sempre envolvendo ciganos e festas de casamento. Representantes dos ciganos dizem que não existem rituais com sacrifícios humanos e que não fazem magia negra. Porém estudiosos garantem que há ligações entre os fatos.