Menina de nove anos encontrada dentro de um saco de lixo

Um saco de lixo azul guardou o corpo e os sonhos da pequena Giovana dos Reis Costa, 9 anos, em contribuir com a festa de Páscoa que aconteceria esta semana em sua escola. Ontem, dois dias depois de sair de casa para vender rifas de chocolate, a menina foi encontrada morta – nua, com o corpo amarrado -, vítima de espancamento e de violência sexual. O assassino jogou o corpo a poucas quadras da casa dela, em um matagal no Jardim Patrícia, em Quatro Barras.

Por volta das 14h de segunda-feira, Giovana saiu de casa, na Rua Virgínia Ferrarine Sbricia, para vender as rifas de Páscoa. Depois de bater na porta de vários vizinhos ela desapareceu. A garota foi vista pela última vez às 16h, depois de passar em um supermercado e em uma oficina mecânica.

No dia seguinte, moradores da região se uniram aos investigadores do Sicride (Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas) e fizeram um mutirão em busca da menina. Cartazes com sua foto também foram espalhados pelo município. "Nós nos dividimos e procuramos por tudo, inclusive no matagal onde ela foi achada, mas não a encontramos", disse Elaine da Silva, vizinha de Giovana.

Os policiais também bateram nas portas das casas por onde a menina passou, entrando inclusive em uma delas ao desconfiar de um morador. Entretanto, nenhuma pista de seu paradeiro havia sido levantada.

Horror

Por volta das 13h de ontem, a angústia de todos acabou quando a menina foi encontrada. Um casal entrou no matagal, na Rua José Rodrigues Fortes, buscar ervas para fazer chá, quando avistou o saco de lixo com o corpo. Eles avisaram a polícia e rapidamente a notícia se espalhou pelas redondezas, reunindo dezenas de moradores da região. De acordo com o perito criminal Rui Fernando Cruz Sampaio, a criança estava amarrada com dois fios de luz que passavam pelas suas costas e pescoço, e tinha hematomas pelo corpo, evidenciando que foi espancada. Além disso, ela foi violentada sexualmente de forma bárbara, cujos detalhes o perito preservou. "Não há sinais de tiros ou cortes. Ela pode ter sido morta por asfixia, esganadura ou espancamento", finalizou.

Em busca de suspeitos

Policiais do Sicride acreditam que o assassino seja morador da região. A hipótese é que Giovana bateu na porta da casa dele para vender as rifas e foi levada para dentro. Lá a menina teria sido assassinada. O corpo deve ter sido jogado no matagal na noite de terça-feira, uma vez que durante a tarde daquele dia os moradores fizeram buscas no local.

Depois que o corpo foi encontrado, a delegada do Sicride, Márcia Tavares e sua equipe, ficaram na delegacia de Quatro Barras, onde solicitaram um mandado de busca e apreensão coletivo para entrar em várias residências. Com apoio de policiais do Centro de Operações Policiais (Cope) e do 17.º Batalhão da Polícia Militar, eles vistoriaram casas e averiguaram alguns suspeitos, cujas características foram passadas pela população. Até o início da noite de ontem ninguém havia sido preso.

Enquanto a polícia patrulhava em busca do assassino, a casa de Giovana estava repleta de amigos que tentavam consolar os pais da menina. Eles foram retirados do local onde ela foi achada, mas mesmo assim ficaram em estado de choque. Os cinco irmãos da criança andavam de um lado para o outro da rua, sem entender o que estava acontecendo. A barbárie foi tamanha que os moradores choravam, divididos em pequenos grupos, fazendo uma única promessa: "Nós vamos matar este monstro".

Quatro casos em dez meses

Mara Cornelsen

O encontro do corpo de Giovana dos Reis Costa fez aumentar para quatro o número de garotinhas assassinadas com requintes de crueldade, nos últimos dez meses, em Curitiba e região metropolitana.

As dramáticas ocorrências tiveram início em 3 de junho do ano passado, quando Jéssica Morais de Oliveira, 8, foi seqüestrada em Almirante Tamandaré, por um homem que usava uma bicicleta de carga. Três meses depois, o suspeito – identificado como José Airton Pontes – foi preso em Marmeleiro, interior do Paraná, sob a acusação de ter matado um menino de 6 anos. Lá ele também tinha uma bicicleta cargueira e este detalhe fez com que o assassinato de Jéssica fosse esclarecido. Trazido para a capital, interrogado sobre a garota, ele confessou o crime e levou a polícia até onde havia enterrado o corpo.

Os pais da menina, Lúcia Siqueira e Lourival de Oliveira, reconheceram os objetos escolares da criança, abandonados junto ao cadáver que já estava em processo de esqueletização, em um matagal.

O maníaco preso disse à polícia ter cometido pelo menos 30 crimes de violência sexual contra crianças, ao longo de sua vida, em vários estados brasileiros.

Sem solução

Os outros dois assassinatos em que vítimas foram meninas, ainda estão sem esclarecimento. O intrigante caso de Jaqueline Veslei de Lima, 10, parece não despertar a atenção da polícia nem dos familiares dela. Jaqueline foi encontrada morta, sem roupas, com uma faca cravada no umbigo e as pernas abertas, em 9 de dezembro passado, num matagal no bairro dos Estados, em Fazenda Rio Grande.

A menina tinha saído de casa para ir à escolinha de futebol do Parque Verde, que freqüentava. Perto do corpo foi encontrada uma cueca, mais tarde identificada como pertencente ao cunhada da criança. Interrogado na delegacia, ele admitiu ter perdido a peça de roupa ali, durante uma pescaria.

O caso parou aí. Nada mais foi feito. Ainda ontem a polícia informou que a "família sabe quem matou, mas não conta porque tem medo".

A mais velha das vítimas, com apenas 13 anos, teve o corpo encontrado pela mãe, também em um matagal, com as mãos amarradas para trás e dependurada em uma árvore. Diuly Cristina Ribeiro foi assassinada em 13 de março passado, no Tatuquara. Diuly era valente e lutou com os agressores, conforme constataram peritos do Instituto de Criminalística. Embora ainda uma criança, gostava de se mostrar mais velha e tinha até namorado, um garoto de 14 anos, que passou a ser um dos suspeitos do crime. Ele e três outros rapazes foram interrogados, negaram envolvimento no crime e estão em liberdade.

A Delegacia de Homicídios ainda promete uma solução, não se sabe para quando.

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