Megaprotesto pára Fazenda Rio Grande

O município de Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba, parou ontem. Um megaprotesto foi realizado na BR-116 por motoristas e cobradores das linhas do transporte coletivo da cidade. O estopim foi o assassinato do motorista Ricardo Germano Hopaloski durante um assalto ao veículo que dirigia, na manhã de ontem. O fato gerou revolta entre os motoristas e cobradores, que estão sofrendo com os atos criminosos. Os trabalhadores bloquearam completamente a BR-116, nos dois sentidos, com pneus em chamas das 6h30 até as 14h30. O protesto só terminou com a chegada do comandante do 17.º Batalhão da Polícia Militar, Marcos Teodoro Scheremeta, que ouviu as reivindicações dos moradores e se comprometeu a repassá-las hoje ao secretário estadual da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari.

A manifestação causou grandes congestionamentos nas duas pistas da rodovia. Os motoristas e cobradores bloquearam todos os acessos à BR-116, na altura do quilômetro 126, com vários ônibus do transporte coletivo. A fila de veículos atingiu até dez quilômetros. Para chegar à Fazenda Rio Grande, muitos motoristas optaram por um caminho alternativo, pelo bairro Umbará, em Curitiba. O trajeto também ficou congestionado.

Durante o protesto, nenhum veículo saiu do terminal da cidade. Muitos usuários, comerciantes e moradores também aderiram à manifestação, diante da situação caótica da segurança pública de Fazenda Rio Grande. Parte do comércio na região ficou fechada. O protesto se tornou um pedido por solução de toda a população do município. Apesar dos nervos à flor da pele, não houve registro de depredação. Foi danificado apenas um outdoor, que continha os nomes do prefeito da cidade, Antônio Wandscheer – conhecido como Toninho – e do governador Roberto Requião.

Com o bloqueio, um congestionamento se formou na região.

O motorista Carlos Roberto de Oliveira conta que pelo menos três assaltos acontecem todos os dias nos ônibus do transporte público que passam por Fazenda Rio Grande. De acordo com ele, são registrados boletins de ocorrência e nenhuma providência é tomada. ?Não temos mais como trabalhar. Só sabemos que saímos de casa. Mas não sabemos se vamos voltar. Em algumas linhas, os assaltos acontecem duas vezes por dia. Hoje, se pode morrer por apenas R$ 10. Os ônibus estão circulando com pouco dinheiro por causa do sistema de cartão?, afirma. Oliveira sofreu 12 assaltos em 6 anos como motorista de ônibus em Fazenda Rio Grande.

Todos os motoristas e cobradores que participaram do protesto tinham uma história de assalto para contar. Segundo o relato deles, a morte de Hopaloski foi a primeira em assaltos a ônibus na cidade, mas houve casos de trabalhadores baleados ou que, por pouco, também não perderam a vida. ?Não tem um aqui que não sofreu um assalto. Já tivemos casos em que o bandido chegou a atirar, mas a arma falhou. Um cobrador já foi baleado no rosto. Se o bandido chega e não tem dinheiro, ele leva objetos pessoais. Uma vez, não tinha dinheiro no ônibus em que eu estava e eles levaram os meus óculos. A gente só continua trabalhando porque não dá para largar tudo?, relata o motorista José Carlos Rodrigues.

A morte de Hopaloski foi lamentada pelos colegas de trabalho. Eles comentaram que o motorista era uma pessoa exemplar e muito querida no meio. Hopaloski seria muito calmo e, por causa disso, os trabalhadores acreditam que ele não tenha reagido ao assalto. Para os manifestantes, a morte dele não pode ser esquecida.

O medo ao sair para trabalhar foi relatado por vários motoristas que participaram do protesto. Também apareceram declarações de assaltos sofridos por comerciantes e moradores. Todos pediram mais segurança para o município.

Negociação

Durante a manhã, policiais rodoviários federais e policiais militares tentaram negociar a saída dos manifestantes e o desbloqueio da rodovia, mas não conseguiram qualquer avanço. Durante a tarde, o comandante do 17.º Batalhão, Marcos Teodoro Scheremeta, esteve no local e conseguiu fazer com que os manifestantes desbloqueassem a rodovia. O comandante terá uma reunião hoje pela manhã para conversar com o secretário estadual de Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, e repassar as reivindicações da população.

Segundo Scheremeta, a criação de um batalhão no município, o aumento do efetivo e de viaturas na região, reivindicados pelos moradores, dependem da implantação de políticas públicas e não de uma decisão do comando. Por enquanto, o comandante vai ampliar o patrulhamento policial na cidade e reativar o serviço de inteligência e investigação para atuar no transporte coletivo. ?Esta semana já prendemos cinco pessoas com este serviço em Fazenda Rio Grande?, comenta. Mas, se as medidas não surtirem efeito, a população ameaça fechar a rodovia mais uma vez e prometem desbloqueá-la só com a presença do governador Roberto Requião.

Ladrão matou e roubou R$ 28

Lígia Martoni e Cintia Vegas

O motorista Ricardo Germano Hopaloski, 37 anos, foi baleado por volta das 6h de ontem, enquanto o ônibus da linha Eucaliptos 2, guiado por ele, trafegava entre as esquinas da Avenida das Araucárias e da Rua Seringueira. Um homem com capuz entrou no veículo, deu voz de assalto e, sem que o motorista reagisse, atirou na região do abdome. O ladrão levou R$ 28 do caixa do cobrador. O motorista foi levado ao pronto-socorro da cidade, mas não resistiu ao ferimento e morreu.

À tarde, a polícia prendeu o provável assassino. O suspeito Carlos Henrique Vieira Rocha, 37, é usuário de drogas e estaria sob o efeito de entorpecentes no momento do assalto. Segundo o delegado Antônio da Rocha Paes Filho, o acusado foi reconhecido pelo cobrador do ônibus e várias testemunhas. A polícia agora procura pela arma. Outro indício é que a mãe de Carlos informou que ele chegou em casa por volta das 6h30, pouco tempo depois de o motorista ter sido morto. Carlos está preso na delegacia de Fazenda Rio Grande.

Quatro pessoas foram detidas na cidade acusadas de um assalto a ônibus na noite de terça-feira (23). Wilson Dinarte Marilhano Bueno, 18, Wagner Alves de Oliveira, da mesma idade e Cristiano Silva dos Santos, 20, foram presos e uma adolescente de 17 anos foi apreendida. Eles foram reconhecidos pelo cobrador.

Velório

O clima era de comoção na tarde de ontem em Fazenda Rio Grande, momentos antes do velório de Ricardo. Os irmãos dele já haviam chegado à cidade, ainda em estado de choque com a tragédia. Ricardo foi descrito pela família como um irmão querido e excelente amigo. Há pouco tempo construiu a casa e havia acabado de quitar o carro junto com a esposa, Lariane de Lima, com quem era casado há 17 anos. Há 15 anos vivia em Fazenda Rio Grande e há oito atuava como motorista de ônibus. A cunhada, Sirlene Hopaloski, não se conformava com a perda. Ela é casada com o irmão gêmeo de Ricardo, o também motorista Roberto. ?Era uma pessoa muito batalhadora?.

?Era simplesmente nosso melhor motorista?, afirmou o fiscal da Viação Nobel (empresa para a qual Ricardo dirigia), José Palu. O diretor da companhia, Haroldo Isaak, lamentou o ocorrido e informou que dará todo o auxílio aos familiares. ?Foi a primeira vez que uma coisa como esta aconteceu?, disse, ressaltando que o número de assaltos a ônibus vem aumentando. Somente este mês foram 15 em Fazenda Rio Grande.

Segundo o Sindicato dos Motoristas e Cobradores nas Empresas de Transporte de Passageiros de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc), o último assassinato a motorista de ônibus registrado em Curitiba e região metropolitana aconteceu em 2004, na guarita do terminal do Pinheirinho, em Curitiba. Mesmo assim, o número de assaltos vem crescendo: foram 3.054 em 2006, contra 3.018 em 2005. Em 2006, 256 pessoas foram presas por conta disso.

Linhas de ônibus foram suspensas

Lígia Martoni

O protesto em Fazenda Rio Grande deixou muita gente sem transporte ontem. Às 10h30, inviabilizadas de chegar ao terminal do município, as duas linhas de ônibus que ligam Curitiba ao terminal de Fazenda Rio Grande foram suspensas por determinação da Urbanização de Curitiba S.A. (Urbs). Com o bloqueio, o Ligeirinho Fazenda Rio Grande que sai da Praça Carlos Gomes e os troncais Fazenda/Pinheirinho que parte do terminal do Pinheirinho e Fazenda/CIC com saída do terminal da CIC deixaram de circular temporariamente. O funcionamento só voltou ao normal às 15h30.

Os alimentadores Estados, Eucaliptos, Gralha Azul, Iguaçu I e II, Nações I, Parque Industrial, Santa Maria, Santa Terezinha e o metropolitano Curitiba/Fazenda Rio Grande, linhas locais do terminal de Fazenda Rio Grande, também tiveram circulação suspensa. O terminal só voltou a funcionar após o término do protesto, depois que o Corpo de Bombeiros limpou a pista da BR-116.

Em Curitiba, os reflexos da manifestação se deram principalmente no terminal do Pinheirinho, onde uma multidão se aglomerou em filas na manhã de ontem. Alguns passageiros, motoristas e cobradores tentaram organizar um manifesto no local por volta das 9h bloqueando a plataforma do expresso Pinheirinho, que vai para a Praça Rui Barbosa, mas a manifestação durou poucos minutos e a situação logo se normalizou.

No terminal da CIC não houve confusão. Alguns passageiros chegaram a solicitar aos motoristas das linhas que iam para Fazenda Rio Grande que os levassem à altura da Caximba, a cinco quilômetros do terminal do município.

De acordo com a Urbs, cerca de 17 mil pessoas dependem do transporte operado pelas linhas que saem de Curitiba para ir ou voltar de Fazenda Rio Grande. No terminal do município, são cerca de 35 mil passageiros circulando diariamente.

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