Megaoperação envolve 700 policiais e 20 prisões

A Vila das Torres, um dos principais focos de violência da capital, foi invadida por setecentos policiais civis e militares no final da madrugada de ontem, durante a megaoperação promovida pelo governo do Paraná para tentar inibir a criminalidade naquela região. Ruas de acesso à Vila foram bloqueadas, o que impediu o entra e sai de pessoas e o trânsito de veículos. As ações policiais foram acompanhadas por oficiais de Justiça e resultaram em pelo menos 26 detenções (até o final da tarde) e na recuperação de objetos furtados como bolsas, carteiras, telefones celulares e um mostruário de jóias. Armas de fogo e pequena quantidade de drogas também foram apreendidas. A previsão é de que a operação de intervenção na Vila das Torres permaneça até quarta-feira.

Um verdadeiro esquema de guerra foi montado para que a "Operação Vila das Torres" fosse realizada. Policiais civis e militares se reuniram em frente ao Colégio Militar – onde foi feita a composição das equipes – e partiram para a ocupação da vila. Por volta das 5h, a PM já havia cercado toda a região, bloqueando as 36 ruas que cruzam o local. Em seguida, os policiais, com mandados de busca e apreensão em mãos, começaram a dar cumprimento às ordens judiciais.

Até o meio-dia de ontem, período de maior movimentação dos policiais, 1.300 pessoas foram abordadas e 178 veículos vistoriados.

Quatro carros com irregularidades foram encaminhados à Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos. Só em uma casa, na Rua Felipe Camarão, os policiais encontraram 25 bolsas, 15 carteiras, celulares, dezenas de documentos e cartões de crédito, livros e uma folha de talão de cheque. Os dois ocupantes da casa – Rosana de Souza Leal e Luís Antônio Pinto de Oliveira, ambos com 30 anos -, foram detidos em flagrante e autuados por receptação de objetos furtados. Um mostruário de jóias também foi encontrado pelos policiais e encaminhado ao 2.º DP (Rebouças).

À tarde, a ocupação da vila teve continuidade. Em todos os cantos e ruas da famosa favela era possível encontrar policiais realizando patrulhamento a pé, a cavalo ou em viaturas. "A maioria da população da Vila das Torres trabalha e não é envolvida com a criminalidade. Esta operação privilegia esses moradores, devolvendo a eles a paz para que possam habitar o local com dignidade", disse o comandante-geral da Polícia Militar do Paraná, coronel David Pancotti.

Tribuna dá o mapa do crime

Na edição da última sexta-feira, a Tribuna revelou o mapa da criminalidade e o aumento de ocorrências promovidas pelos "ladrões quebra-vidros" na Vila das Torres, desde o início deste ano. Nos primeiros quinze dias de fevereiro, em média, foram registrados três casos que envolviam vítimas desse tipo de ação na Delegacia de Furtos e Roubos. Na grande maioria das situações, os marginais atacam mulheres que estão sozinhas em seus veículos e que param o carro em pequenos congestionamentos à espera da abertura do semáforo. É o tempo necessário para que os "quebra-vidros" ajam. Eles roubam bolsas ou mochilas que contêm, normalmente, documentos pessoais, cartões de crédito, talonários de cheque, telefone celular e pequenas quantias em dinheiro.

A atividade de "quebra-vidros" começou a ganhar amplitude a partir da metade de 2004, apesar de já ser praticada naquela região há alguns anos. Toda a rentabilidade do golpe resume-se basicamente na troca dos objetos roubados e furtados por entorpecentes dentro da própria Vila das Torres, um dos famosos pontos de venda de drogas em Curitiba. "Na maioria das vezes, o golpe é praticado por viciados para poder comprar drogas, principalmente o crack", informa o delegado Rubens Recalcatti, titular da DFR.

Eles observam objetos de interesse dentro dos veículos parados em sinaleiros nas ruas que circundam a Vila das Torres e atacam, quebrando o vidro lateral do passageiro. Para estilhaçar o vidro são utilizadas normalmente pedras. Porém, já foram registradas situações onde constatou-se o uso de armas de fogo para intimidar as vítimas. (CB)

Objetivo é não dar moleza para a criminalidade

De acordo com o governo do Estado o objetivo da ação desencadeada ontem na Vila das Torres é promover uma intervenção permanente no local para diminuir o índice de criminalidade. Num primeiro momento os policiais estão efetuando buscas e apreensões, cumprindo mandados de prisão e mantendo um bloqueio total da Vila. Em seguida, será intensificada a campanha de desarmamento junto à comunidade.

A partir desta quinta-feira está prevista para começar as ações sociais, com a participação da Secretaria do Trabalho, Emprego e Promoção Social, Universidade Católica e Universidade Federal do Paraná, colégios Medianeira e Boa Esperança e Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), explicou o secretário da Segurança Pública. Um dos primeiros projetos que deverá ser implantado será a criação do Consórcio da Juventude, uma cooperativa dos catadores de papel para acabar com a ação dos atravessadores e instalar um posto da Agência do Trabalhador no local.

 Ladrão quebra-vidro ataca mas é preso em flagrante

Desavisado, sem perceber todo o aparato policial que se concentrava na região, um rapaz quebrou o vidro de um carro, retido em um congestionamento e roubou a bolsa de uma mulher, por volta das 18h de ontem. Não deu outra: poucos minutos mais tarde foi encontrado em um matagal por policiais militares, com o celular e talão de cheques da vítima. Os outros pertences foram localizados entre a vegetação. Acusado de ter cometido o delito, Eric Pereira da Silva, 18 anos, foi levado à Central de Polícia.

A vítima voltava para casa em seu Clio prata e entrou na marginal da BR-476 (antiga 116), em frente ao Colégio Medianeira. Devido ao horário, o trânsito estava lento, dando a oportunidade ao ladrão. Ele arrebentou o vidro do passageiro e, rapidamente, furtou a bolsa que estava sobre o banco. Depois, fugiu entre os outros carros em direção à Avenida das Torres e se embrenhou em um matagal.

Enquanto isso, a polícia foi avisada pelo 190. Soldados do Regimento de Polícia Montada, RPMont, que participavam da operação, cercaram a área e localizaram o acusado poucos minutos depois, conforme informado pelo tenente Simino, da Rotam. "Conseguimos recuperar todos os pertences da vítima, inclusive documentos e cartões de crédito", disse o policial.

Tinha até delegacia móvel

Para dar maior agilidade à operação, uma grande estrutura de apoio foi montada na Vila das Torres. Em uma das saídas do local, foram instalados microônibus que serviam como delegacia móvel e outro para a triagem dos detidos. "Estamos aqui com todo o aparato policial para restabelecer a ordem. Vamos disponibilizar nesta primeira fase uma delegacia móvel para que a população possa ter acesso mais direto à segurança, denunciando e colaborando com o nosso trabalho", disse o delegado-geral da Polícia Civil do Paraná, Jorge Azôr Pinto.

Os detidos durante a megaoperação foram encaminhados para o 1.º DP (Centro) e à Delegacia de Furtos e Roubos (DFR). Além de todo esse aparato, cem viaturas das polícias civil e militar e um helicóptero também deram apoio durante todo o dia aos policias que faziam rondas a pé. A intenção é que parte do policiamento utilizado na operação permaneça na vila durante mais dois dias, realizando patrulhamento e dando maior segurança aos moradores e pessoas que transitam pela área. De acordo com o delegado Rubens Recalcatti, equipes da DFR permanecerão em alerta na Vila das Torres num período ainda mais prolongado. (CB)

Prefeitura tenta melhorar vida do pessoal

A Prefeitura abre hoje postos de atendimento na Vila das Torres, por determinação do prefeito Beto Richa. A iniciativa envolve 10 secretarias para implantação imediata de projetos voltados a melhorar a qualidade de vida dos moradores e garantir todo o atendimento que a comunidade necessita. "Nesta área moram famílias trabalhadoras que precisam da prefeitura e é isso que vamos fazer, transferindo a ação das secretarias municipais para a região", disse o prefeito.

Estarão atendendo na Vila das Torres as secretarias municipais da Saúde, Educação, Abastecimento, Obras Públicas, Meio Ambiente e Esporte e Lazer, além da Companhia de Habitação de Curitiba (Cohab), Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), Fundação de Ação Social (FAS), Fundação Cultural de Curitiba e núcleos da Regional Matriz.

Os postos municipais de atendimento serão concentrados próximos ao colégio Nossa Senhora da Esperança, onde também será montada toda infra-estrutura para realização de atividades esportivas e de entretenimento, com a presença de professores e estagiários, para as crianças e adolescentes, que serão promovidos pela Secretaria Municipal de Esporte e Lazer.

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