Novos depoimentos na Segunda Vara Criminal, na manhã de ontem, sobre o processo que incrimina Any Paula Fascolin, 29 anos e Nilson Moacir Cordeiro, 32 anos, acusados como os responsáveis pela morte de seu filho de sete dias, não apresentaram grandes revelações. Luvercy Rodrigues Filho, diretor da UTI Neonatal do Hospital e Maternidade Mater Dei, ficou por quase uma hora e meia em audiência com o juiz, mantendo a sua versão declarada na delegacia durante a época do inquérito policial. Ao ser solicitado pelo juiz para que esclarecesse os acontecimentos, o médico contou cronologicamente os fatos desde o início. Rodrigues Filho afirmou que somente horas após a chegada do bebê na maternidade é que ele constatou as fissuras no ânus da criança. Porém, o médico não esclareceu suas conclusões sobre a ligação entre as fissuras no ânus e a hipótese do abuso sexual.
Em seu depoimento, ele citou o termo "faceíte necrosante", referindo-se às fissuras verificadas no bebê. Os advogados Nilton Ribeiro de Souza e Luciano Cesconetto esclareceram mais tarde que esse termo, também é chamado por Síndrome de Fournier, doença que os advogados alegam ter causado a morte da criança. Visto à conclusão da similaridade dos termos, a conversa entre o médico e o juiz girou em torno de a causa, a porta de entrada da doença, se foi por abuso sexual ou algum outro meio.
Maria Júlia Martins Oliveira, mãe de Nilson, também teve seu depoimento colhido. Ela conta que foi questionada pelo juiz sobre a conduta de Any e seu comportamento com o bebê, afirmando que Any era muito cuidadosa com a criança recém-nascida. "Ela tem um outro filho, de outro casamento, que levou em minha casa algumas vezes. E também sempre foi muito atenciosa com esta outra criança", esclarece a sogra da acusada. Maria Júlia também confirma que ela e os outros filhos continuarão em greve de fome até que as autoridades lhes repassem algum parecer sobre a soltura de Any e Nilson, recolhidos em presídios de Piraquara há mais de 120 dias.
Amanhã, as assistentes sociais Claudete Maria Barbosa Porto e Márcia Yuri Nagata, que conversaram com Any logo após o falecimento do bebê, também serão ouvidas. Na ocasião, os familiares de Nilson se reunirão em frente ao Fórum, para pedir a liberdade do casal.
Advogado pede revisão de laudo do IML
Nilton Ribeiro de Souza e Luciano Cesconetto, advogados de Any e Nilson, solicitarão amanhã ao juiz que o laudo de necropsia do Instituto Médico Legal (IML), emitido dias após o falecimento do bebê, seja apreciado, desta vez, por um corpo médico indicado pelo Conselho Regional de Medicina – CRM. "Acredito na inocência dos meus clientes. Se não fosse por acreditar nisso, não pediria que uma junta médica especializada apreciasse o laudo, para que emitam seu parecer sobre o exame", diz Souza.
A reportagem da Tribuna entrou em contato com o CRM, para saber sobre a possibilidade da apreciação do laudo. "Não é atributo do CRM emitir outro laudo, com novos exames. O que fazemos é juntar uma câmara técnica de médicos legistas, que emite um parecer sobre os procedimentos da perícia. É também uma verificação se houve imperícia ou imprudência na realização do exame, entre outros detalhes analisados. É apenas uma análise do laudo, uma emissão de opinião", explica Carlos Ehlke Braga Filho, conselheiro do CRM. "Pode ser que a câmara técnica solicite esclarecimentos ao IML, como também pode ser que não haja elementos a serem contestados no laudo", finaliza o conselheiro.
Os advogados também solicitarão, esta semana, uma autorização judicial para que a família possa realizar o sepultamento do bebê. "Visto que o corpo da criança já não apresenta mais qualquer condição para exames ou perícia, acredito que até sexta-feira o juiz deve expedir a autorização", conclui Cesconetto.