Médico de Altamira se defende

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Césio foi solta na quinta.

Para traçar a estratégia de defesa, o médico Césio Flávio Caldas Brandão esteve ontem em Curitiba, no escritório de seu advogado, Cláudio Dalledone Júnior, e concedeu entrevista à Tribuna. Césio, que foi acusado de matar e mutilar garotos no município de Altamira, naquele Estado, garante que é inocente e que as acusações que pesam contra ele não passam de armação das autoridades do Pará, que precisavam dar uma resposta à população sobre o caso de cinco garotos mutilados.

Césio foi condenado a 57 anos de reclusão e deixou, na tarde de quinta-feira, o Presídio Metropolitano de Belém, em Marituba. De lá, veio para Curitiba. Césio foi submetido a julgamento junto com Valentina de Andrade, Amailton Madeira Gomes, Anísio Ferreira de Souza e Carlos Alberto dos Santos Lima. Valentina foi absolvida por falta de provas. Os outros foram condenados a penas que variam de 25 a 77 anos de reclusão.

Acusações

O médico contou que é do Espírito Santo e se mudou para Altamira em 1990, onde permaneceu até julho de 1993. "As mortes começaram em 1989, quando eu não morava na cidade. Eu residia em Brasil Novo, a 46 quilômetros dali", justifica. Ele disse que logo que chegou em Altamira a polícia prendeu um mendigo chamado Sotilio do Rosário. O homem amanheceu morto, dois dias depois, na cadeia local. Em 1992, Amailton, filho de um empresário da região, foi preso sob a acusação de comandar uma seita satânica, responsável pelas mortes. Em julho de 1993, um ancião de 80 anos testemunhou quando um homem saiu com uma bicicleta vermelha, de um matagal, segurando um facão em uma das mãos e um saco contendo sangue em outra. "Ele dizia que o homem tinha as minhas características. Alguém falou que os cortes tinham precisão cirúrgica e resolveram apontar um médico, no caso eu. Precisão cirúrgica com um facão? Não sei como seria possível", afirmou. Apesar de várias pessoas afirmarem que, no horário do crime, ele estava prestando atendimento no hospital local, foi condenado. "Uma médica, que foi testemunhar a meu favor, foi acusada de perjúrio (mentir), meses depois foi absolvida", lembrou. "As minhas provas são contundentes. Já a polícia de Belém não fez um bom trabalho", avaliou. Ele acredita que foi preso porque não tinha raízes nem familiares na cidade. "O outro médico (Anísio) preso também não tinha", disse. "A única testemunha que me apontava como autor, dizia ter me visto a uma distância de 200 metros. Contando que ela tinha 80 anos, é uma visão mais nítida do que de um jovem", ironizou.

O médico ainda afirma que não conhecia os outros acusados. "A Valentina, fui vê-la no dia do julgamento, quase dez anos depois da acusação", salientou.

Esperança

Césio disse que a esperança de liberdade surgiu com a prisão do mecânico Francisco das Chagas Rodrigues de Brito, 39, que confessou ter atacado 44 meninos, no Pará e Maranhão, sendo que somente três sobreviveram. Tido como o maior assassino em série do País, Francisco demonstra distúrbios mentais e alega que uma voz lhe mandava cortar os órgãos genitais das crianças.

A prisão de Francisco dá descrédito ao maior julgamento do País, iniciado em 11 de novembro e encerrado no dia 5 de dezembro de 2003. "Para absolver a Valentina, fiz conexão entre os crimes do Pará e do Maranhão. Já conseguimos que o Superior Tribunal de Justiça permitisse que o Césio respondesse em liberdade e agora lutamos por uma absolvição. Para isso, o primeiro passo é anular o julgamento que condenou o Césio", salientou o advogado Cláudio Dalledone Júnior. Ele lembrou que, para apurar se houve fraude no julgamento de Altamira, foi instalada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).

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