A diretora da Unidade de Terapia Intensiva Geral (UTI), do Hospital Universitário Evangélico, foi presa, na manhã de ontem, suspeita de ser responsável por mortes de pacientes, além de maus-tratos. Segundo relatos de funcionários, a intensivista Virginia Helena Soares de Souza “brincava de Deus” e escolhia quem iria viver ou morrer.

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Policiais do Nucrisa (Núcleo de Repressão aos Crimes contra a Saúde) apreenderam prontuários médicos e documentos no hospital e cumpriram o mandado de prisão temporária contra a médica, que trabalha há 25 anos no Evangélico. As secretarias de Saúde municipal e estadual e o hospital abriram sindicâncias para apurar as irregularidades.

As investigações começaram há um ano e correm em sigilo no Nucrisa, onde a médica prestou depoimento e pelo menos 30 funcionários deverão ser ouvidos. Não se sabe, por enquanto, quantos pacientes morreram por causa da intervenção da médica e se outras pessoas foram presas. A operação de ontem foi acompanhada pelo Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Proteção à Saúde Pública do Ministério Público do Paraná (MP-PR).

Corredores

Comentários davam conta que Virgínia retirava medicamentos de pessoas já desenganadas para adiantar suas mortes. Fontes consultadas pelo Paraná Online e que preferiram manter o anonimato relataram que Virgínia assumiu a UTI geral após a morte do marido que, até então, chefiava o setor. Em 2009, Virgínia publicou o livro Manual do Ambiente Hospitalar. Os boatos sobre a conduta “diferenciada” da médica tomavam conta dos corredores do hospital há algum tempo.

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A notícia da prisão chegou à imprensa por informações de funcionários sobre a presença de policiais. O primeiro órgão a confirmar oficialmente a prisão foi a Secretaria Estadual da Saúde, que, em seu site, divulgou abertura da sindicância. Em nota, o Hospital Evangélico, esclareceu não poder comentar o caso sem ter conhecimento adequado dos fatos. O hospital reconheceu a competência profissional da funcionária e “até o momento desconhece qualquer ato técnico da mesma que tenha ferido a ética médica”.

Sigilo impede divulgação de detalhes

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A Polícia Civil não esclareceu por qual crime a médica foi presa e se limitou a dizer, em nota, que “poucas informações podem ser repassadas à imprensa, pois o Departamento da Polícia Civil obedece às limitações do sigilo decretado judicialmente nos autos”. A delegada Paula Brisola, do Nucrisa, informa que “as medidas adotadas estão respaldadas em lei e que todas as providências necessárias visando a segurança e saúde da população serão tomadas”.

Devido ao sigilo das investigações, o MP-PR e o Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) também não deram detalhes sobre o caso. O MP informou ainda que vem “adotando as providências necessárias junto aos órgãos públicos competentes para a garantia da continuidade e integralidade da assistência à saúde dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) no hospital”.

CRM

Em nota assinada pelo presidente Alexandre Gustavo Bley, o CRM-PR confirmou que deve abrir sindicância e tomará as medidas necessárias assim que tiver acesso aos autos. “O CRM ressalta que este é um caso singular e reitera sua confiança na classe médica e especialmente nos intensivistas que trabalham em plantões em UTI diuturnamente lutando pela vida”.

Ministério comunicado

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, foi comunicado sobre o caso pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), que abriu sindicância para investigar irregularidades a ser conduzida pelo auditor do Min,istério da Saúde, Mário Lobato da Costa. A pasta também solicitou à diretoria do hospital a substituição da equipe de UTI Geral até a conclusão das investigações.

Um médico-observador será nomeado por uma junta administrativa – composta pela SMS, Conselho Regional de Medicina e Sociedade Evangélica Beneficente. O secretário de Saúde de Curitiba, Adriano Massuda, também comunicou o caso ao secretário de Estado da Saúde, Michele Caputo Neto. A fim de suprir eventual dificuldade de atendimento, as duas secretarias estão trabalhando em conjunto para colocar em funcionamento dez novos leitos de UTI no Hospital do Trabalhador.

Defesa

O advogado Elias Mattar Assad, que defende a médica, esclareceu, em nota no Facebook, que a suspeita “deriva de errada interpretação de escuta telefônica e/ou pessoas próximas não familiarizadas com procedimentos de UTI”. Ele citou, por exemplo, o uso do respirador. “Esse equipamento é alterado o tempo todo na dinâmica dos doentes de acordo com situação de cada paciente”, apontou Assad. Segundo ele, Virgínia “sempre agiu preservando vidas dentro da ética médica e dos critérios nacionais de terapia intensiva com criteriosas discussões dos casos com médicos assistentes e famílias dos pacientes”. O advogado disse que vai pedir a revogação da prisão.