Matador do padre está preso

Enquanto os moradores de Matinhos ainda se espantavam diante da notícia do assassinato do padre Joaquim Braz, 40 anos – crime ocorrido na noite de anteontem – investigadores do 2.º Distrito Policial (Rebouças), chegavam na casa do autor do crime, o desempregado Cleverson Rosa de Amorim, 22 anos, morador no Balneário Riviera. Cercado, o acusado nem chegou a reagir e tão logo teve os pulsos algemados, confessou que matou o religioso numa frustrada tentativa de assalto. Além de confessar o crime, Cleverson ainda entregou o revólver calibre 38 usado para o roubo. A arma estava bem escondida na parte interna da porta do carro do pai dele, um Escort, embrulhada em meias e pedaços de pano.

Uma informação anônima dada aos policiais da distrital – com sede em Curitiba – ontem pela manhã, indicou a casa da família de Cleverson. Imediatamente um dos investigadores foi até o litoral, confirmou as informações e comunicou o restante da equipe, que comandada pelo delegado Vinicius José Borges Martins, deslocou-se até o endereço e efetuou a prisão. Os pais do acusado ficaram apavorados com a situação, pois sequer imaginavam o envolvimento do filho no caso que abalou todo o litoral paranaense, dada a notoriedade que padre Joaquim havia conseguido durante os 12 anos que morou em Matinhos.

Planejado

Há suspeitas de que pelo menos mais dois indivíduos estejam envolvidos no assalto contra a casa do padre. No entanto, a polícia preferiu não adiantar detalhes sobre isso, temendo que a divulgação atrapalhe futuras investigações. Sabe-se que algumas equipes continuam na região litorânea fazendo buscas a mais suspeitos.

Cleverson, quando preso, tinha no bolso da jaqueta uma oração escrita de próprio punho, pedindo perdão a Deus pelo que tinha feito. Ele revelou com detalhes toda a operação que resultou no trágico fim do religioso, afirmando que há duas semanas planejava o assalto, pois tinha conhecimento de que o padre possuía muitos valores em casa. Como no ano passado havia estudado no Colégio Gabriel de Lara, situado ao lado da casa paroquial, ele conhecia bem o local. Armado com um revólver calibre 38, que diz ter comprado em uma lanchonete de Matinhos, e usando um capuz preto, pulou o muro que divide o colégio da casa e ficou escondido, aguardando que padre Joaquim terminasse uma reunião com membros da igreja no salão paroquial.

O que Cleverson não esperava era que o padre reagisse à voz de assalto. Assim que o religioso apareceu, ele apontou a arma e anunciou o roubo. O padre imediatamente reagiu, atracando-se em luta com ele. Na confusão ele disparou o tiro, pois mantinha a arma engatilhada. A bala acertou o braço do padre e entrou no peito, atingindo o coração.

Enquanto padre Joaquim caminhava até a janela da casa paroquial para pedir socorro, o autor tratou de pular o muro novamente, entrou no pátio do colégio e fugiu pelo portão. Caminhou até sua casa, dormiu ao lado do carro do pai e pela manhã escondeu a arma. Achando que não seria descoberto, tratou de rezar. Alguém, no entanto, ficou sabendo do crime e não titubeou em avisar a polícia que conseguiu prendê-lo ainda em flagrante, para alívio dos moradores de Matinhos.

Linchamento

Com a prisão, o acusado foi imediatamente trazido para Curitiba e deverá ser encaminhado para um lugar seguro. “Nossa preocupação maior era de que tentassem linchá-lo caso fosse levado para a delegacia de lá. Se não fosse linchado pelo povo seria linchado no xadrez, pelos presos”, comentou o delegado Vinicius, agradecendo a eficiência do restante da equipe, investigadores Mariano, Rodrigo, Cardoso, Amaral e Carla.

Toda polícia mobilizada

O assassinato do padre Joaquim Braz, certamente o mais popular religioso do Paraná, chocou a comunidade e mobilizou vários organismos policiais. Meia hora após o crime – ocorrido às 21h30 de segunda-feira, ao lado da casa paroquial – investigadores da Polícia Civil, policiais militares e até federais se aglomeravam no local, disputando espaço com fiéis e curiosos que se juntavam ao redor da igreja, querendo confirmar a informação da morte. O delegado geral da Polícia Civil, Leonyl Ribeiro, tão logo foi comunicado do fato determinou ao Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) que se responsabilizasse pelas investigações. O delegado Luiz Carlos de Oliveira, titular do Cope, deu início aos trabalhos em seguida.

Embora o próprio padre, logo após ter levado o tiro, tivesse dito às pessoas que estavam no salão paroquial que havia sido vítima de assalto, a polícia chegou a aventar a possibilidade de uma vingança, uma vez que o religioso, na missa do último domingo, havia criticado o tráfico de drogas e até citado nomes de possíveis envolvidos no comércio de entorpecentes na região. “Temos algumas linhas de investigação”, afirmavam os policiais, que tinham apreendido o celular de padre Joaquim. A última ligação que ele atendeu havia sido feita de um telefone público instalado na favela do Tabuleiro, às 20h54 minutos. Na ocasião, como estava participando de uma reunião, pediu à pessoa que ligasse mais tarde.

Apesar da mobilização foi o 2.º Distrito Policial, de Curitiba, que recebeu a informação precisa sobre a autoria do crime. Na tarde de ontem o acusado foi preso e confessou. Disse que atirou porque o padre reagiu, mas não tinha intenção de matá-lo. “O padre sempre comentou com seus amigos que se um dia fosse assaltado iria reagir de qualquer maneira. E foi o que fez, só que isso custou sua vida”, comentou o delegado Vinicius Martins, responsável pela prisão de Cleverson Rosa de Amorim, o autor do tiro. (MC)

Acusado de outro homicídio

Cleverson Rosa de Amorim, 22 anos, assassino confesso do padre Joaquim Braz, é apontado como autor de outro homicídio, ocorrido há três anos, no bairro Fazendinha, em Curitiba. De acordo com a polícia, ele também já praticou outros dois assaltos no litoral, que estão sendo apurados agora. As informações preliminares dão conta de que o acusado agia em companhia de pelo menos mais dois indivíduos, cujos nomes estão sendo levantados.

O autor da morte do padre encaixa-se perfeitamente ao perfil dos atuais criminosos brasileiros, segundo recente pesquisa. Jovem, com segundo grau completo e filho de uma família de classe média, diz ter entrado para o mundo do crime por falta de oportunidade de trabalho. Seu pai é funcionário municipal aposentado e recentemente foi residir no litoral, em busca de sossego e qualidade de vida. (MC)

Livros e muita descontração

Cíntia Végas

Autor dos livros “Adeus à Depressão”, “Deus é Mãe” e “Pânico” padre Joaquim era conhecido por seu jeito desembaraçado e suas atitudes consideradas pouco comuns a um religioso.

Muitas vezes, podia ser visto de batina e boina rastafari. No verão, passeava pelas areias de Matinhos usando sunga, óculos de sol, pulseiras, correntes e anéis. Confessava adorar andar na moda e não se sentia encabulado ao usar roupas de grife.

Costumava dizer que falar palavrão, desde que com “respeito e alegria”, não era pecado, e dessa forma atraía a atenção dos mais jovens. Sua performance no altar era comparada a de um showman. Ele mesmo admitia observar apresentadores de TV e humoristas (como Sílvio Santos e Tom Cavalcante) para melhorar seu desempenho. Sempre tinha as portas da casa paroquial abertas para receber os fiéis. No lugar, guardava fotos ao lado de artistas famosos, como as atrizes Luiza Thomé e Teresa Seiblitz. Promovia bingos, festas e jantares para arrecadar fundos para a igreja, assim como para atrair novos fiéis.

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