Foto: Portos Casela/O Estado
Mirton executou Daniela que
o havia denunciado por abuso.

Um homicídio e uma tentativa de assassinato, seguidos de suicídio, chocou os moradores do bairro Colônia Rio Grande, em São José dos Pinhais, no início da manhã de ontem. Em um ato bárbaro, o trabalhador autônomo Mirton José Medeiro, 35 anos, matou a filha Daniela Medeiro, 15, com tiros na cabeça e também atirou na filha de Daniela, a pequena Gabriele Medeiro, de um ano e oito meses. Logo em seguida, se matou.

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A tragédia aconteceu na Rua Tupã, a cerca de 50 metros da casa da avó das meninas, local onde elas residiam atualmente. A menina Gabriele foi socorrida e encaminhada ao Hospital Cajuru, em Curitiba, onde passou por diversas cirurgias. Ela mantém seus sinais vitais com a ajuda de aparelhos e sua chance de vida, segundo os médicos, é remota. O bebê, que deveria ser neta de Mirton era, segundo denúncia, sua outra filha, nascida do relacionamento incestuoso que o adulto mantinha com Daniela. Toda a história que está por trás do crime revoltou os moradores locais.

Segundo informações da tia de Daniela, Lindamir Medeiros França, por volta das 7h30, Mirton chegou na casa de sua sogra e pediu para falar com a filha Daniela. A garota morava com a avó por determinação da Justiça, há menos de um mês.

Com a desculpa de que iriam num estabelecimento próximo para comprar doces, Mirton saiu com Daniela, que levou consigo o bebê Gabriele.

O crime

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O passeio transcorreu normalmente até o retorno dos três. Em frente a um terreno baldio, a aproximadamente 50 metros da casa onde as meninas residiam, Mirton sacou de um revólver, calibre 32, e atirou contra a cabeça de Daniela, que caiu morta. Em seguida, voltou-se para o bebê e atirou por duas vezes. Depois, encostou a arma em seu ouvido esquerdo e disparou, cometendo suicídio. A criança está em estado grave no hospital.

Os investigadores Pedroso e Edvaldo, da delegacia de São José dos Pinhais, foram informados no local do crime que Mirton obrigava a filha Daniela a manter relações sexuais com ele há aproximadamente cinco anos. Desse relacionamento teria nascido Gabriele e mais recentemente o menino Luan Gabriel.

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Mirton foi denunciado à polícia pela própria filha, há aproximadamente um mês, logo depois que a esposa de Mirton e mãe de Daniela faleceu. Lindacir Medeiros morreu em decorrência de problemas no coração.

Na época da denúncia, Daniela e Gabriele passaram por exames, como a retirada de sangue, para provar a culpabilidade de Mirton no abuso sexual. Entretanto, os resultados não ficaram prontos, e o acusado tomou atitudes drásticas antes mesmo de ser incriminado.

Abuso denunciado

Bastante abalada, ainda no local do crime, a tia de Daniela, Lindamir Medeiros França, relatou a triste história pela qual a família está passando. Segundo ela, após a morte da irmã Lindacir, que era casada com Mirton, Daniela resolveu contar sobre o abuso sexual que vinha sofrendo há aproximadamente cinco anos. "Ela não falou nada antes, em respeito ou por vergonha da mãe", contou um outro familiar.

Depois da morte da mãe e com o apoio do Conselho Tutelar, a garota decidiu ir à Delegacia da Mulher, de São José dos Pinhais, para relatar a agressão sofrida do pai. Conforme a denúncia, do relacionamento entre pai e filha nasceram duas crianças: Gabriele, em 2004, e Luan Gabriel, em 18 de setembro de 2005. O pequeno Luan foi colocado para a adoção e Gabriele ficou sob os cuidados de Daniela. A família morava na Colônia Rio Grande, mas depois da acusação, Mirton se mudou para o bairro Ouro Verde.

Depois do nascimento do segundo filho, Daniela foi levada pelo Conselho Tutelar para o abrigo, onde permaneceu por pouco mais de uma semana. Entretanto, Lindamir e Isaura (avó da garota) conseguiram na Justiça a guarda da adolescente, desde outubro. Daniela passou a conviver com a filha Gabriele na casa de sua avó.

Demora da Justiça

Para os familiares, o crime aconteceu devido à lentidão na divulgação dos resultados dos exames pelas autoridades competentes. "Com os resultados em mãos, o Mirton estaria preso e nada disso teria ocorrido", disse um tio da garota.

Há suspeitas de que Mirton pode ter premeditado o crime após receber a notificação da polícia para prestar esclarecimentos sobre a acusação de abuso sexual contra a filha. Ao invés de ser preso, preferiu matar e depois cometer suicídio. Outra hipótese é de que ele não suportava ficar longe de Daniela e, como não poderia mais tê-la ao seu lado, cometeu o crime. Na arma utilizada pelo assassino, o perito Antônio Carlos encontrou quatro projéteis deflagrados e dois intactos. Além disso, haviam outros dois projéteis no bolso, o que representa que ele foi preparado para matar.