Mascarado mata amigo de policial civil assassinado

Na cama em que dormia ao lado da esposa, o latoeiro Valdevino Machado, 40 anos, foi assassinado a tiros, às 6h de ontem. O crime foi cometido por um único homem, que arrombou a porta da casa da vítima, na Rua Antônio Machado, bairro Eugênia Maria, em Campina Grande do Sul. O caso pode ter ligação com a morte do policial civil Luiz Gonzaga dos Santos, 49 anos, baleado domingo à tarde na delegacia de Colombo, onde fazia plantão.

A vítima era informante da polícia e amigo do investigador assassinado em serviço. Ambos trabalharam juntos na delegacia de Almirante Tamandaré – embora não fosse concursado, Valdevino freqüentava a delegacia e se dizia policial.

Em junho do ano passado, Valdevino foi preso pela Promotoria de Investigação Criminal (PIC), a pedido do Ministério Público de Almirante Tamandaré. Pairava sobre ele e o policial Paulo Roberto Mesquita, ex-superintendente da delegacia da cidade, a acusação de tráfico de drogas. Valdevino respondia ao inquérito em liberdade.

Ontem de manhã, o assassino encapuzado e com duas armas nas mãos, estourou com um tiro a fechadura da casa da vítima. Foi até o quarto e mandou a esposa de Valdevivo acender a lâmpada. A mulher obedeceu e o desconhecido acertou um tiro na cabeça e dois na barriga do latoeiro, que morreu na hora.

Ouvida na delegacia de Campina Grande do Sul, a esposa de Valdevino disse que o marido era amigo pessoal e informante do policial Luiz Gonzaga dos Santos. “Creio que exista ligação entre os crimes”, falou o investigador Antunes. A mesma suspeita tem o delegado Agenor Salgado Filho, chefe da Divisão Metropolitana da Polícia Civil.

Morte de investigador pode ter sido vingança

Tentativa frustrada de arrebatamento de presos ou vingança são as hipóteses levantadas pela Polícia Civil a respeito do assassinato do investigador Luiz Gonzaga dos Santos, 49 anos, na Delegacia de Colombo. Uma importante testemunha foi ouvida domingo à noite, na Delegacia de Homicídios, indicando dois suspeitos de ter cometido o crime.

A testemunha é uma mulher, assaltada por dois homens na tarde de domingo, pouco antes do assassinato de Gonzaga. Abordada na Rodovia da Uva, em Colombo, ela foi colocada no porta-malas de seu carro – um Gol – e rodou por alguns quilômetros com os criminosos. “A certa altura, o carro parou e a mulher ouviu três tiros”, relatou o superintendente da DH, César Vicente.

Em seguida, os bandidos voltaram ao carro e rodaram novamente até as imediações de onde tinham tomado o carro em assalto. A mulher, depois de escapar do porta-malas, acionou a Polícia Militar.

O superintendente suspeita que os autores do roubo sejam os assassinos do policial, e que a intenção era o resgate de presos. “Gonzaga provavelmente tentou evitar o arrebatamento e um dos bandidos se precipitou, atirando”, acredita. Para ele, os bandidos estavam apenas em dois -número pequeno para um caso de resgate – porque já sabiam que Luiz Gonzaga cumpria plantão sozinho na delegacia.

O delegado Agenor Salgado Filho, chefe da Divisão Metropolitana da Polícia Civil, também acreditava na hipótese de arrebatamento, entretanto, admite que o assassinato de um informante de Gonzaga, cometido ontem de manhã, em Campina Grande do Sul, pode mudar o rumo das investigações. A possibilidade de vingança, segundo o delegado, ganha força.

A investigação será centralizada pelo delegado Artur Zanon, titular da delegacia de Colombo, e contará com apoio do Cenro de Operações Policiais Especiais (Cope) e DH.

Situação provoca medo

A morte do colega de profissão fez com que o investigador Antunes, da delegacia de Campina Grande do Sul, tomasse uma decisão drástica. “Esse é meu último plantão e só o faço em consideração ao delegado Marcelo”, afirmou. Porém, Antunes está descontente com a profissão já há alguns anos. A falta de efetivo é a principal reclamação.

Ele denuncia que não há mais como fazer investigação de crimes e cita o exemplo da delegacia onde trabalha. “Não fiz concurso para cuidar de preso”, reclama. No xadrez de Campina Grande, com capacidade para oito internos, são abrigados 19. Segundo ele, quatro investigadores se revezam em plantões de 24 horas, além deles só o superintendente e o delegado completam o quadro de funcionários da delegacia. “Já deixei de atender ocorrência porque não podia deixar a delegacia sozinha”, relatou.

Escopeta

O atendimento à população é comprometido pela falta de estrutura. O prédio é todo gradeado e o atendimento, durante a noite e fins de semana, é realizado através de uma janela lateral. “Não posso atender desarmado a quem chama e a única proteção que tenho é essa escopeta”, disse, mostrando a calibre 12. “Sei que a lei não permite isso, mas tenho que agir com precaução”, lamenta, lembrando o que aconteceu ao investigador Luiz Gonzaga, morto quando foi atender à porta. “Poderia ter acontecido comigo”.(FS)

“Queima de arquivo”, garante denunciante

A morte de Valdevino Machado pode ter ligação com a do policial Luiz Gonzaga. Segundo uma pessoa, que não quer ser identificada, os dois foram “apagados” porque sabiam demais e o motivo seria tráfico de drogas em Almirante Tamandaré. Valdevino, que teve seu depoimento sobre o caso do ex-policial Paulo Mesquita adiado, teria ameaçado contar tudo, caso à advogada do ex-policial não o defendesse.

O tudo a que Valdevino se referia, segundo denúncia, era o esquema do tráfico de drogas na cidade e as pessoas nele envolvidas. Luiz Gonzaga não teria ligação direta no esquema, mas sabia como ele era feito, pois trabalhara com Valdevino na delegacia de Almirante Tamandaré. “Foi queima de arquivo”, afirmou. Ainda de acordo com o informações colhidas pela reportagem da Tribuna, Valdevino teria sido ameaçado por um sargento da Polícia Militar, dentro do Fórum de Almirante Tamandaré.

Velório

Essas ligações são colocadas em dúvida pela viúva de Valdevino. Ela confirma que o amásio era amigo de Luiz Gonzaga, mas acha premeditado estabelecer uma correlação entre os crimes. “Acredito só na justiça de Deus”, disse, segurando o filho do casal, de 3 anos, que assistiu à execução do pai.

Crime gera protesto

Policiais civis realizaram um ato de protesto em frente ao Palácio Iguaçu, sede do governo estadual, no final da tarde de ontem, após o sepultamento do colega Luiz Gonzaga dos Santos, assassinado no domingo, em Colombo. O investigador foi baleado dentro da delegacia e caiu morto em frente ao prédio, solicitando ajuda a populares. Ele era o único policial de plantão, fato comum atualmente em várias delegacias do Estado, principalmente na Região Metropolitana e Interior.

Após o sepultamento no Cemitério Vertical, os policiais, em várias viaturas se deslocaram ao Palácio Iguaçu e posteriormente a um hotel, no centro da cidade, onde ocorria o encontro entre os secretários de Justiça e de Segurança Pública, com representantes de todo o país.

De acordo com a nota oficial da União da Polícia Civil, a manifestação teve o objetivo de sensibilizar as autoridades ligadas à área de segurança do Paraná, sobre a defasagem no quadro de policiais responsáveis pela proteção da população e o problema da superlotação carcerária.

Comissão revoltada

O assassinato do investigador Luiz Gonzaga dos Santos não indignou apenas a classe dos policiais civis do Paraná, mas também àqueles que foram aprovados no concurso feito em 1997, para ingressar na carreira, e até agora não foram chamados. “A falta de policiais é absurda, a defasagem de investigadores é gritante e nosso governo sabe disso e não toma providências”, desabafou Nelson Lopes, integrante da Comissão de Concursados.

Em uma nota enviada à imprensa, a Comissão manifesta a revolta com o Governo do Estado que reluta em nomear novos policiais. “Existem 370 concursados para os cargos de investigador e escrivão, que até agora não foram chamados. Os 200 homens que começarão a trabalhar em agosto não resolverão o problema que assola a polícia”, disse Lopes, na nota.

O maior inconformismo da Comissão é que no mês de novembro do ano passado 141 homens foram aprovados no concurso e chamados para fazer o treinamento, durante uma semana, na Escola de Polícia Civil. No mês de março apenas 80 homens foram nomeados. “A maioria dos 61 concursados que ficaram de fora vieram de cidades do interior, gastaram com hospedagem e pediram demissão porque foram assegurados que iriam ser nomeados. Daí o Governo resolve chamar apenas alguns, sob a alegação da responsabilidade fiscal, isto é, que não há dinheiro para a folha de pagamento de todos”, afirmou Lopes.

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