Luiz estava fazendo seu último plantão. Queria ser vereador. |
A situação lamentável ocorrida na tarde de ontem, na delegacia de Colombo, onde um policial civil foi executado, era previsível e poderá ocorrer, a qualquer momento, em outra delegacia da Região Metropolitana. Em praticamente todas elas há falta de pessoal e os plantonistas são obrigados a trabalhar sozinhos, cuidando de dezenas de presos, à mercê da bandidagem que, há tempos, perdeu o respeito pela Instituição e a cada dia age de forma mais violenta e atrevida.
Os últimos passos de um investigador, em busca de socorro para salvar a própria vida, refletem o quadro falido da Polícia Civil do Paraná, que tem, na falta de efetivo, o seu maior problema. Luiz Gonzaga dos Santos, 49 anos, caiu morto em frente à delegacia de Colombo, onde trabalhava, após ser baleado às 15h15 de ontem. Ele era o único policial de plantão no local.
De acordo com o cabo Souza, do 17.º Batalhão da PM, alguém chegou à delegacia e chamou a atenção do plantonista, que foi até a porta. Quando Luiz se aproximou, recebeu três tiros, que o acertaram na barriga e perna. Os disparos foram efetuados do lado de fora do prédio e atravessaram a porta de vidro, atingindo o policial. Enquanto o atirador – ou atiradores – fugia, a vítima abriu a porta para pedir socorro aos populares, pois estava sozinho na delegacia, cuidando de presos. Antes de cair morto, conseguiu solicitar auxílio a uma senhora que passava pelo local. Foi essa mulher que informou a Polícia Militar do ocorrido.
Quando o cabo Souza chegou ao local, a vítima dava seus últimos suspiros. Entretanto, não teve tempo de relatar o que havia acontecido. Uma tentativa de arrebatamento de presos é a hipótese mais provável. O crime ainda é um mistério a ser desvendado, porque não houve testemunhas. A delegacia de Colombo fica afastada do centro, numa região pouco movimentada nos fins de semana.
Na seqüência, chegaram policiais do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), pois havia a possibilidade de fuga de presos. Com a contagem dos detentos, foi constatado que nenhum fugiu ou foi arrebatado.
Estrutura
Este provavelmente seria o último plantão de Luiz Gonzaga naquela delegacia, pois ele pediria afastamento de sua função pública para concorrer a um cargo eletivo nas próximos eleições em Almirante Tamandaré. Ele era tido como um policial experiente, com bastante tempo de serviço, e que havia trabalhado em várias delegacias da Região Metropolitana de Curitiba. A sua morte deixou consternados colegas de profissão. O superintendente Lima não se conformava com a situação. “Ele estava trabalhando, querendo dar segurança à população. Daí acontece isso”, lamentou, deixando escorrer uma lágrima pelo rosto. O superintendente também colocou a culpa pela morte do companheiro no decadente sistema carcerário atual, em que a superlotação se mostra presente em diversas delegacias, não só no Estado, mas em todo o País. “Um único policial para cuidar de 45 presos em um xadrez cuja capacidade é para 24. Falta estrutura mesmo. O que aconteceu com ele poderia ter acontecido comigo ou qualquer outro policial”, afirmou.
O delegado divisional,responsável pelas delegacias da Região Metropolitana, Agenor Salgado Filho, afirmou que a defasagem no quadro de funcionários começará a ser minimizada a partir de agosto, quando a Escola Superior de Polícia Civil disponibilizará novos policiais. No entanto, é insignificante o número de novos delegados, escrivães e investigadores que estão sendo formados, diante da carência de pessoal no quadro policial. Sobre o assassinato, Salgado disse que o fato será investigado para se chegar à autoria. Devido às poucas evidências no local, o delegado preferiu não apontar uma hipótese para a morte, mas não descarta a possibilidade de arrebatamento. Está tudo no campo das hipóteses.
Suspeita-se de tentativa de arrebatamento de presos
Dos presos que estão no xadrez da delegacia de Colombo, dois deles chamam a atenção. André Luiz Jother Ferreira, o “Carioca”, e Douglas Adami foram recentemente transferidos da delegacia do Alto Maracanã para a de Colombo. Se a morte do policial foi resultante de uma tentativa de arrebatamento, esses presos são apontados como alvo principal. De acordo com o superintendente da delegacia do Alto Maracanã, Job de Freitas, Adami foi capturado com 30 quilos de maconha e é foragido da delegacia de Guarapuava. “Na minha delegacia, recebemos telefonemas nos ameaçando e dizendo que iriam arrebatar o detento”, contou Job. “Carioca” foi transferido porque, no mês passado, tentou matar um policial dentro da carcergem. Ele estava armado com uma pistola, comprada de um investigador -que está afastado de suas funções – e que a deixou dentro da carceragem. Quando investigadores entraram no xadrez para dar refeição aos detentos, “Carioca” atirou contra eles para tentar a fuga. Por sorte, os policiais não foram feridos e conseguiram dominar o rebelado.