As informações divulgadas pela Tribuna de que outros policiais estavam envolvidos na rede de pedofilia associada a extorsões foram confirmadas com a decretação de prisões para mais oito investigadores e um delegado. As novas prisões, além dos 14 inicialmente denunciados, foram anunciadas ontem, pela Corregedoria da Polícia Civil.

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Sobe para 23 o número de envolvidos na intrincada trama. Vinte já estão presos e três estão foragidos. Não está descartada a hipótese de que mais gente venha a ser citada no inquérito policial como participante da quadrilha.

De acordo com as denúncias, há pelo menos dois anos, membros da Polícia Civil estariam extorquindo pedófilos arregimentados pela internet para encontros amorosos com garotas de 11 a 14 anos. As meninas eram aliciadas em colégios públicos de Curitiba por Luciana Polerá Correia Cardoso, 21, que já está presa. Ela funcionava como elo entre as meninas, os pedófilos e os policiais. Amiga e parente de investigadores, conhecedora das ações da polícia, conseguiu armar o esquema que rendia de R$ 5 mil a R$ 35 mil em cada golpe. O pedófilo era colocado em contato com as garotas e, quando todos já estavam nus, os policiais eram acionados por Luciana, forjando um flagrante. Para não ser preso, o "cliente" pagava a quantia exigida, determinada de acordo com suas posses. Muitas vezes os "acertos" eram feitos nas dependências do 4.º, do 7.º ou do 12.º Distrito Policial, onde os acusados estavam lotados.

Prisões

A primeira pessoa a ser presa foi Lincon Lima Santos, tio de Luciana. Com o desenrolar das investigações da Corregedoria, os primeiros 14 policiais, entre eles dois agentes administrativos e dois delegados, foram presos temporariamente no dia 19 de maio. Dias depois, dois dos investigadores foram soltos por falta de provas e responderão ao inquérito em liberdade.

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Dos 12 restantes, no último dia 28, um investigador e os delegados Edson José Costa e Moisés Américo de Souza Neto, adjunto e titular do 4.º Distrito Policial, respectivamente, foram soltos por habeas corpus concedido pelo juiz plantonista do Tribunal de Justiça, Sérgio Luiz Patitucci. A liberdade dos três, entretanto, durou pouco. Ontem, a Justiça decretou as prisões preventivas, não só deles, como de ainda outros nove acusados. Também transformou em preventiva as prisões temporárias dos que permaneciam presos. Um dos delegados está foragido e a Secretaria da Segurança não divulgou seu nome, alegando segredo de Justiça, imposto pela Vara de Inquéritos Policiais.

Depoimento

Há uma semana Luciana se apresentou na Corregedoria depois que alguns policiais ameaçaram a família dela. Em depoimento que durou oito horas, a acusada acabou de derrubar todo o esquema, revelando os nomes de quem ainda não havia sido citado. Luciana foi a única a confessar os delitos, confirmando a participação de mais de 20 policiais. O interrogatório deu suporte à Corregedoria para pedir as novas prisões.

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Na última sexta-feira a Corregedoria pediu prorrogação por mais 30 dias para concluir o inquérito. Transcorrido este prazo, os autos serão entregues à Promotoria de Investigação Criminal (PIC), que ficará responsável por oferecer, ou não, denúncias contra os acusados.

Luciana está deprimida

Recolhida em regime de segurança máxima na Penitenciária Feminina, em Piraquara, há uma semana, Luciana Polerá Correia Cardoso recebeu ontem sua primeira visita. Sua avó entrou no presídio acompanhada do advogado José Feldhaus e conversou com a neta por 40 minutos.

Luciana está em depressão, tomando medicação, e recebendo tratamento psiquiátrico. O advogado pediu o isolamento da acusada por, pelo menos, 20 dias, porém a própria Luciana pediu a companhia de outra presa, uma vez que se sentia muito sozinha. Por medida de segurança, Luciana vai ao solário em horário diferenciado da das demais detentas.