Mulheres dão o troco

Maioria dos presos da DM foi denunciado pela companheira

Todo bandido, por mais violento que seja, um dia se rende ao amor. Mas nunca esperam que, mesmo se escondendo da polícia, é este amor que os levará à cadeia. Quantidade considerável de homens presos pela Delegacia da Mulher (DM) de Curitiba foram denunciados por suas próprias companheiras. Elas sabem que dormem ao lado de um criminoso e aceitam a situação. Porém basta qualquer tipo de violência deles contra as companheiras, seja verbal ou física, e elas os denunciam.

A delegada titular da DM, Daniela Andrade, acredita que cerca de 30% das prisões em flagrante e 40% das feitas por mandados de prisão são de homens que já vinham cometendo outros crimes. São muito comuns prisões de envolvidos com o tráfico de drogas, furtos, roubos e estelionato e, em quantidades menores, de assassinos.

A maioria dessas mulheres sabe que se relaciona com bandidos. Mas Daniela acredita que o amor é tanto que elas são coniventes, até que os desentendimentos do casal começam. Normalmente, as confusões iniciam com bate-bocas e xingamentos e evoluem para ameaças de morte. A maioria dessas ameaças, diz a delegada, são de ex-maridos ou ex-namorados, que, inconformados com a separação, prometem matá-las caso se envolvam com outros homens.

Bebedeira

Muitas destas ameaças evoluem para lesão corporal, leve ou grave, até chegar a tentativa de homicídio ou mesmo morte. “O que muitas mulheres não sabem é que um simples xingamento que recebam dos companheiros já é crime de injúria e deve ser denunciado, passível de prisão. Porém, muitas deixam passar os xingamentos e só vão denunciar quando chega em ameaça ou agressão física”, lamentou Daniela.

Dos casos de agressão, 90% são cometidos por companheiros bêbados, que perdem a noção do comportamento depois do uso do álcool. “A maioria das mulheres diz que, quando estão sóbrios, são companheiros bonzinhos.

Mas bêbados, ficam extremamente violentos. Há alguns homens que nem são ouvidos após a prisão em flagrante. Temos que esperar até 12 horas para passar o porre e conseguir interrogá-los”, revelou a delegada Daniela.

Apesar de saberem que estão ao lado de bandidos perigosos, muitas mulheres sentem-se seguras em denunciá-los, justamente porque sabem que os outros crimes cometidos, além da lei Maria da Penha, podem mantê-los bom tempo na cadeia. Melhor que a vingança é a garantia de meses ou anos de sossego para elas.

Recaída

Muitas têm recaída quando esses homens saem da cadeia. Em vez de procurar a casa de familiares, eles acreditam que podem reconquistar as antigas companheiras e vão direto para a casa delas. “Elas tem enorme tendência em perdoar e abrigar. Acham que o susto foi suficiente para eles aprenderem e deixam o passado de lado”, lamentou a delegada.

Daniela alerta que dar guarida a um criminoso ou foragido da Justiça é crime contra a administração da Justiça e, dependendo do caso, as mulheres podem ser penalizadas.

Prioridade aos, perigosos

Arquivo
Delegada Daniela diz que a Delegacia da Mulher possui cerca de 100 mandados de prisão a cumprir.

A delegada Daniela Andrade (foto) diz que a Delegacia da Mulher possui cerca de 100 mandados de prisão a cumprir, mas que os mandados contra homens de maior periculosidade, como os que já cometeram outros crimes, têm prioridade. Também são colocados no rol de prioridades as prisões contra homens que feriram a medida protetiva, ou seja, já agrediram a companheira uma vez e receberam determinação judicial de não se aproximar mais delas. Casos de mulheres em desespero, que tiveram, que se abrigar na casa de parentes para fugir dos machões de cozinha, também são considerados prioritários.

“Costumo brincar fazendo analogia com os políticos. Aqueles corruptos procurados pela polícia e pela Justiça, que sempre conseguem fugir e nunca são pegos, caem na cadeia por denúncias de suas mulheres, traídas ou passadas para trás. E assim acontece muito frequente aqui na Delegacia da Mulher. Por várias vezes recebo telefonemas de outras delegacias, interessadas aqui nos meus presos”, brincou Daniela.

Sete caíram desde o início do ano

Arquivo
Detidos tinham outros crimes.

Desde o início do ano, pelo menos sete homens procurados por outros crimes, presos por denúncias das ex-companheiras, ganharam a mídia. Eles são autores de vários tipos de crimes, como Elienai Ribeiro Pinto, procurado por estelionato, apropriação indébita e extorsão, e Marcelo Alves de Ramos, investigado por lesão corporal, injúria e ameaça. Ambos foram detidos em operação da Delegacia da Mulher (DM) na semana retrasada. Ubiratã José Ferreira de Lima é suspeito de estupro de vulnerável e foi detido dia 13. Já Fábio Souza Santos, que já esteve preso por roubo, excedeu todos os limites de respeito contra uma mulher e foi preso no início do mês por matar, ameaçar e proferir xingamentos graves contra a companheira.

Entre os presos há alguns considerados de alta periculosidade, como Edson do Nascimento, fugitivo do 12.º Distrito Policial, André Luiz das Chagas, com diversos antecedentes por homicídio, porte ilegal de arma de fogo e tráfico de drogas, e Alexandro Geuda, com antecedentes por estelionato.

Eles foram presos no início de abril, porque desobedeceram medidas protetivas de urgência, solicitadas pela Delegacia da Mulher em favor das companheiras destes criminosos, que determinavam que eles não poderiam mais sequer chegar perto delas. Descumpriram a regra e foram para a cadeia, mostrando que a lei Maria da Penha pode prejudicá-los mais que qualquer outra lei penal.

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