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Mondragon já tinha sido preso. continua após a publicidade |
O ex-sargento da Polícia Militar, Manfredo Flores Mondragon, acusado de envolvimento no assassinato do bicheiro Almir José Solarewicz, ocorrido no dia 20 de setembro de 2000, foi assassinado a tiros na noite de domingo, na pizzaria onde trabalhava. Os assassinos deram voz de assalto, mas a polícia acredita que foi apenas um pretexto para uma execução planejada. Mondragon brigava pelo controle do jogo do bicho em Curitiba e, por isso, teria participado da morte de Almir, dando início à seqüência de crimes que terminaria em seu próprio assassinato.
De acordo com o delegado Adonai Armstrong, titular da Delegacia de Homicídios, o ex-policial foi morto com dois tiros, na cabeça e no peito, dentro da pizzaria, na Rua Manoel Linhares de Lacerda, Capão Raso. Por volta das 23h, quando ele se preparava para fechar o estabelecimento, dois homens invadiram o local.
Mondragon, que estava com o filho e um funcionário, recebeu voz de assalto e em seguida foi executado. Os criminosos fugiram em uma motocicleta e o ex-policial foi levado por socorristas do Siate ao Hospital do Trabalhador.
Ele morreu por volta das 2h da madrugada. ?Não foi assalto, mas sim, execução. Ele tinha uma história de vida complicada, por isso, teremos que verificar várias informações para levantar a autoria do crime?, disse Armstrong.
O delegado soube do crime na manhã de ontem, uma vez que nem a Polícia Militar nem o hospital informou sobre o assassinato.
Passado
Mondragon estava indiciado pela morte do bicheiro Almir, assim como Otaviano Sérgio Carvalho Macedo, 46, o ?Serginho?, que já foi condenado pelo crime. Durante o processo, em novembro de 2005, o ex-policial foi preso por policiais civis da Promotoria de Investigação Criminal (PIC) por coação, ele também ameaçou membros do Ministério Público de morte, inclusive o então coordenador das Promotorias de Investigação Criminal do Paraná, o procurador de Justiça, Dartagnan Cadilhe Abilhôa.
O ex-sargento foi exonerado da PM em razão da prática de crimes. Em um deles, o ex-policial entrou em confronto com policiais do Grupo Tigre, ferindo um deles gravemente.
Mondragon também era acusado de tentar tomar as bancas do jogo do bicho da cooperativa de bicheiros, junto com Marcelo Bertoldo, 32 anos. Marcelo foi assassinado a tiros em março deste ano. Mondragon teria comandado invasões nas sedes da cooperativa, para tentar ?tomar à força? as bancas administradas pelos contraventores.
Sem piedade
Na noite do dia 20 de setembro de 2000, Almir Solarewicz, 45 anos, deixou seu escritório em companhia da mulher. Como cada um estava com seu próprio carro, ele seguiu Ivana até o portão da garagem do prédio onde moravam. Ela entrou e Almir dirigiu-se ao estacionamento onde costumava deixar seu veículo, na Rua Euzébio da Motta, no Juvevê. Tão logo estacionou, o celular tocou. Almir atendeu e iniciou conversa com Luiz Carlos Alves Sobrinho, comerciante instalado no Xaxim. Ambos marcaram um encontro para o dia seguinte, para falar sobre máquinas de caça-níqueis. Enquanto falava, ele caminhou até a rua, acompanhado pelo dono do estacionamento e por outro cliente do local que também havia acabado de chegar. Cruzou o portão, andou cerca de 50 metros e foram ouvidos tiros. Ele foi atingido por sete balaços de pistolas calibres 380 e 9mm. Na seqüência, os dois atiradores saíram correndo. Estariam sendo esperados nas proximidades por um terceiro indivíduo, ao volante de um carro, pronto para a fuga. Mondragon seria o homem que conduzia o carro.
Caneta x moedas
Legalizar o jogo do bicho e invadir o mercado das apostas com máquinas caça-níqueis, que começaram a tomar boa soma das quantias arrecadadas pelos bicheiros da capital, seriam os motivos do assassinato de Almir José Hladkyi Solarewicz, 45 anos.
O primeiro inquérito, então instaurado pela Delegacia de Homicídios, se transformou em ação penal que corre pela 5.ª Vara Criminal, tendo como réu Otaviano Sérgio Carvalho de Macedo, o ?Serginho?. O outro inquérito, foi instaurado pelo delegado Gerson Machado, então titular do 6.º Distrito Policial. A viúva de Almir, Ivana Vasconcellos Innocêncio, 39 anos, em depoimento na delegacia, denunciou os ?capos? do jogo do bicho de Curitiba como os mandantes da execução. Ela contou os motivos e informou detalhes das operações comandadas pelo marido, canalizando suas acusações para Francisco de Paula de Castro Feitosa – ou apenas ?Chico Feitosa?, como é mais conhecido – e Fúlvio Martins de Oliveira.
De acordo com os policiais, além de ?Serginho? e Mondagron, participou da execução Gláucio Cerqueira Muneron. O autor do plano de morte seria Ricardo Cavalcanti de Andrade Lima. Todos teriam agido por ordem dos líderes da cooperativa dos bicheiros, entidade criada pelo próprio Almir para fortalecer a categoria e regularizar o suposto esquema de pagamento de propinas. No ano em que foi morto, Almir tinha se desligado da cooperativa para investir no ramo dos caça-níqueis em que trabalhava. Mesmo assim, ainda recebia 4,8% do faturamento.
?Quebrando o milho?
Em novembro de 2005, Otaviano Sérgio Carvalho Macedo, 48 anos, o ?Serginho?, foi condenado a 19 anos e 6 meses de reclusão, em regime fechado, por crime hediondo. A defesa usou a tese de negativa de autoria e tentou fazer crer que os assassinos de Almir foram bicheiros do Rio de Janeiro, o que não convenceu os jurados.
Mondragon cumpriu pena de 1995 a 2000 – e foi excluído da Polícia Militar. Na época da morte de Almir ele trabalhava como segurança de Feitosa e também negava o crime. De Ricardo Lima não se tem notícia, assim como de Gláucio Cerqueira. Para os quatro, a cooperativa teria pago R$ 500 mil para ?quebrar o milho?, ou seja, matar a pessoa que estava incomodando. A quantia foi revelada pelos investigadores do 6.º DP, em relatório, mas não há nenhuma prova sobre isso.
Já Feitosa e Fúlvio negam com veemência qualquer envolvimento com o crime. Porém, na época, o filho de Almir, Marco Antônio Carlos Solarewicz, 25, que aparece no processo como assistente de acusação, revelou que, após a morte do pai, foi ludibriado pelos ?capos? do bicho e convencido a colocar todas as máquinas caça-níqueis de propriedade de Almir – aquelas que ainda não haviam sido roubadas supostamente a mando da cooperativa – em um barracão para guardá-las, até saber o que iria fazer. Mais tarde soube que o barracão também pertencia aos bicheiros e eles ficaram com todas as máquinas que, posteriormente, foram recolocadas no mercado.