A auxiliar de enfermagem Tatiane Damiane, 41 anos, que jogou a própria filha, de 8 meses, da janela do 6.º andar do prédio onde morava, no centro de Curitiba, será submetida a avaliação psiquiátrica.
O crime aconteceu por volta das 21h30 de segunda-feira, na Rua Voluntários da Pátria, próximo à Praça Osório. A pequena Mariana Damiane Teixeira caiu de aproximadamente 20 metros e morreu na hora.
Em seu depoimento, apresentando bastante frieza, a mãe afirmou que o bebê era um problema para ela e que não tinha sentimentos pela criança.
Também disse que estava cansada de cuidar da filha. Autuada em flagrante por homicídio doloso (com intenção de matar), Tatiane foi transferida, na tarde de ontem, para a Penitenciária Feminina de Piraquara.
Avaliação
A delegada Eunice Vieira Bonone, do Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes (Nucria), explicou que a polícia deverá apurar se a mulher realmente apresenta distúrbios mentais. ?Ela falou que tomava dois remédios, um deles receitado por um psiquiatra?, disse.
?Acho que tenho problema mental, sou esquizofrênica. Já tinha pensado em abandonar minha filha na creche?, afirmou Tatiane. A mulher relatou, ainda, que, antes da gravidez, chegou a ser internada algumas vezes para tratamento psiquiátrico.
Transtornada, a presa lembrou que ameaçou se matar depois de jogar a criança pela janela, porém desistiu, convencida por outros moradores. Testemunhas relataram que ela chegou a sentar na janela, com as duas pernas para fora. ?Não me matei porque sou covarde e incompetente?, exclamou.
Normalidade aparente
O comportamento de Tatiane não havia causado suspeita entre os moradores do Edifício Maison Blanche. O zelador, Gilberto Haro, trabalha no prédio há três anos e nunca percebeu nada de estranho com ela. ?Nunca deu problema para nós?, garantiu. No dia do crime, por volta das 17h30, o zelador conversou pela última vez com a auxiliar de enfermagem. ?Ela estava normal e informou que sua mãe chegaria de viagem durante a madrugada?, lembrou Gilberto.
Sem saber o que havia acontecido, Rochele Damiane, mãe de Tatiane, chegou no início da manhã à rodoviária de Curitiba, vindo de Colorado (RS). ?Não dá para entender. Ela adorava aquela menina?, disse. Logo que Mariana nasceu, Tatiane passou cinco meses com a mãe, no Rio Grande do Sul. ?Sempre era ela quem cuidava do bebê, trocava fralda, dava banho e alimentava?, acrescentou a avó da criança.
Pai
De acordo com Rochele, Tatiane mora há 21 anos em Curitiba, é formada em enfermagem e trabalhava como auxiliar no Hospital de Clínicas, porque passou em um concurso, há cerca de 13 anos.
Foi no hospital que Tatiane conheceu Sérgio, pai da criança, enquanto ele esteve internado. Ele é pedreiro e mora em Pinhais. De acordo com moradores do prédio, Sérgio costumava visitar Tatiane e a criança. ?Eles se davam bem, mesmo morando separados?, contou Rochele. A polícia informou que, em seu trabalho, Tatiane lidava apenas com adultos.
Especialistas explicam comportamento
Márcio Barros
O psiquiatra Roberto Ratzke, diretor da Sociedade Paranaense de Psiquiatria, afirma que a maioria dos casos de infanticídio é motivada por transtorno mental, que altera o raciocínio e desenvolve na pessoa idéias anormais.
?A depressão pós-parto pode ocorrer em vários níveis e, em alguns casos mais graves, a pessoa fica fora da realidade acha que a criança é um fardo e que é melhor ela morrer que ter que suportar a mãe com tantas limitações?, completou.
Segundo a psicóloga Tereza Karan, essa mulher vai ser tratada como um monstro, sem sentimentos, no entanto, é preciso analisar o histórico de vida de Tatiane para traçar seu perfil. ?Sabemos que ela passou por uma gravidez de risco, por conta da idade, morava sozinha e, com certeza, deve ter tido outros pontos agregados, que desenvolveram o transtorno mental?, explica.
Despreparo
De acordo com a psicóloga, a maternidade ainda é vista apenas como uma realização e ampliação do casal, ou da família, porém, é preciso salientar que a gravidez acarreta mudanças e só pessoas preparadas para suportá-las deveriam assumir esse risco.
?Acontece alteração hormonal, mudança de rotinas, mudança no corpo e, até que a criança tenha condições de agir por conta própria, necessitará da presença materna?, lembrou.
Síndrome
Outro ponto lembrado pela psicóloga é a mulher ser auxiliar de enfermagem, o que aumenta a possibilidade de ela estar com uma Síndrome de Burnout, uma espécie de lesão por exercício repetitivo que afeta pessoas que trabalham pela cura de outras.
?Isso é comum em médicos, enfermeiros, psicólogos, que se dedicam à sua profissão e, em determinado momento, têm explosões emocionais e começam tratar mal quem antes tratavam bem. Desenvolve um quadro depressivo que pode ser ampliado com outras situações, entre elas o abandono e a gravidez?, explicou Tereza Karan.
