Desespero

Mãe de viciado leva filho para morar com traficantes

Cansada e já sem esperanças, uma procuradora aposentada abandonou o filho, de 33 anos, na Vila Torres. Ela está há duas décadas tentando ajudá-lo a se livrar das drogas e, ontem, por volta das 16 horas, tomou uma medida radical e o levou para morar na favela, mais perto dos traficantes. Antes que o filho volte para casa, ela espera mudar de endereço.

A atitude veio depois de o filho roubar o notebook da própria irmã e trocá-lo por pedras de crack na favela. Para recuperar o equipamento, a mãe teve de desembolsar R$ 900. Nesta luta para não ver a filha prejudicada, foram 12 horas de discussões, incertezas até que veio a decisão de mandar o filho morar perto dos traficantes. “Estou cansada de cuidar dele a vida toda como uma criança. Se quer ficar na favela que more lá”, desabafou a mãe.

Assustada com o sumiço da mãe, a irmã do viciado chamou a polícia, pensando que a mulher tinha sido sequestrada pelo filho. Porém, a aposentada foi encontrada e mal-entendido, desfeito.

Rotina

O vaivém à favela para pagar as dívidas de droga do filho ou “recomprar” os objetos levados por ele é rotina para a mulher, que pediu para não ser identificada. Aposentada, ela esperava descansar com sossego, depois de anos se dedicando ao trabalho e aos estudos para alcançar um posto de destaque na profissão. Porém tem visto seu dinheiro se esvair com o vício do filho. “Eu gasto de R$ 4 a R$ 5 mil por mês com ele. Quando ele está internado gasto menos. Sou uma refém do meu filho”. Com 12 anos o garoto experimentou maconha, passou para outras drogas e há cerca de 10 anos usa crack.

A procuradora faz um alerta aos pais para que não precisem ver o filho chegar ao estágio de o seu filho. “Muitas mães falam que o filho só usa maconha, mas é assim que começa. Não podem deixar isso acontecer, ou vão passar pelo que estou passando”, disse a mãe.

Falta ajuda do governo

A mãe lamentava falta de apoio do governo para tratamento de usuários de drogas. Para tentar tirar o filho do vício, ela o internou 35 vezes e em todas bancou o tratamento sozinha, sem qualquer ajuda do governo. “Ele fica bem por uma semana, dez dias, não mais que isso. Não tem mais jeito mesmo”, reclama a mãe, que já teve o carro incendiado por ele.

O pai acompanhou a situação, mas com participação menor. A criação foi feita pela mãe e a avó, com temporadas ao lado do pai, que morreu há dois anos. A tia do viciado, que acompanha o drama desde que o começo, também reclama da falta de assistência. “Os programas de ajuda, na prática, não são nada disso.  A realidade é diferente. Muito se fala das pessoas sem condições, que moram nas favelas, nas ruas e por isso estão envolvidas com drogas. Mas meu sobrinho sempre teve de tudo e está aí na mesma situação”, comenta a tia.

Desalento

Apontar as causas e consequências fica difícil para a mãe, mas, mais complicado é ver o filho se acabar, sem a esperança de mudança. “Vou fazer o quê? Clínica não adianta mais. O que faço é acatar o que ele manda. Acho que por isso nunca fui agredida”.