Mãe de estudante envolvida em roubos desabafa

?Se não tivesse aparecido na televisão, daqui a algum tempo, ela poderia estar envolvida em crimes ainda mais graves. Seria tarde demais. Deus a puniu desta forma porque a ama.? O desabafo é da dona de casa de 59 anos, mãe de Thereza Gleiser, 22, a ?Tetê? – jovem flagrada com o namorado furtando aparelhos de som de carros no Largo da Ordem, para sustentar o vício das drogas.

O drama vivido pela mãe da estudante, que não quis ter seu nome divulgado, e pelo pai de Thereza, um representante comercial de 73 anos, é o mesmo pelo qual passam milhares de família brasileiras, independente da classe social. Diante de todo o carinho e atenção dedicados à filha, e do esforço para pagar os estudos dela em universidade particular, a família não imaginava que a jovem era usuária de drogas. Depois da decepção, do susto e da vergonha, hoje, os pais se questionam sobre onde falharam na educação da filha e pensam em como poderão ajudá-la daqui para frente.

Thereza cursava o segundo ano de Psicologia à noite e, durante o dia, trabalhava na contabilidade de uma empresa. Os pais economizavam para pagar a rematrícula do curso. De acordo com a mãe, que concedeu entrevista emocionada, a jovem acordava cedo, bebia uma vitamina preparada pela mãe e depois era levada para o trabalho.

A rotina foi a mesma até a noite do último dia 7 (segunda-feira), quando a mulher viu a imagem da filha na televisão, furtando aparelhos de som, ao lado do namorado.

Choque

?Estava sozinha no quarto, vendo TV, e meu marido, na sala, assistia a outro canal. Fiquei em choque quando reconheci minha filha. Não saía uma palavra da minha boca. Quando consegui falar com meu marido, contar o que tinha visto, já tinha terminado a reportagem. Tomei um sedativo e tentamos localizar nossa filha, mas ela não atendia o celular?, contou a mãe, ao descrever como descobriu a forma de a universitária gastar seu tempo livre.

No fim de semana em que a jovem foi filmada pela reportagem, que denunciava o furto de toca-CDs no Largo da Ordem, os pais acreditavam que ?Tetê? estava na praia,

com amigas. Eles nem sabiam que ela tinha um namorado, muito menos que era usuária de drogas.

Na terça-feira, dia 8, depois de conversar com a jovem, a mãe, desesperada, foi para a igreja. ?Fiquei desorientada. Não acreditava no que tinha visto. Orei por ela e levei a foto dela comigo?, contou a mãe. Quando voltou para casa, encontrou o marido desolado. ?Ele havia tentado segurar nossa filha, mas ela pegou a mala e foi embora, porque estava com vergonha da família. Não foi trabalhar porque não teve coragem.?

Namoro clandestino

Ainda na quinta-feira, os pais de ?Tetê? foram procurados pela polícia, que tinha identificado o casal que aparecia no vídeo. Eles ajudaram nas investigações. ?Fiquei desesperada, falava sozinha pela casa, acendia velas… Queria que a polícia encontrasse minha filha. Enquanto isso acompanhava pelo orkut as pessoas a xingando?, disse a mulher.

Na noite de quinta-feira, dia 9, o delegado Rubens Recalcatti, da Delegacia de Furtos e Roubos, ligou para a família e contou que a universitária estava presa. ?Tetê? foi detida junto com o namorado Tarzo Mário Dias, 24 anos. ?Foi quando conheci esse namorado dela, que nem eu nem as amigas delas sabíamos que existia. Descobri que era na casa dele que ela ficou escondida. Depois da prisão, fui até a casa dele pegar as roupas da minha filha. Falei pra mãe dele que esse traste tinha destruído a vida da Thereza?, desabafou a mulher.

Drogas

Hoje, os pais buscam uma clínica de recuperação para ?Tetê? e discutem como irão ajudá-la. ?Quero que ela fique num lugar bonito, cheio de verde, que reflita sobre tudo. Vamos trancar a faculdade e pedir transferência para outra cidade. Não há possibilidade de ela continuar em Curitiba.?

A droga da violência

A dependência do crack está relacionada diretamente à violência urbana. Segundo Luiz Antônio Marques de Mendonça, diretor clínico da clínica de recuperação Nova Esperança, a droga faz com que o usuário perca sua capacidade produtiva e de estudo. O usuário fica impossibilitado de fazer tarefas usuais e precisa cada vez mais de dinheiro para comprar as pedras. ?Há degradação emocional e moral. Os jovens recorrem à prostituição. Eles roubam, furtam objetos da casa e pegam dinheiro dos pais. O comportamento delinqüente está vinculado à droga. Os usuários são capazes de cometer qualquer crime, pois os princípios e valores vão para a sarjeta?, disse o diretor.

O crack é considerado uma das drogas mais perigosas porque seu uso causa tolerância no organismo, ou seja, para dar ?barato? é preciso consumir cada vez mais pedras. ?Uma vez que se experimenta o crack, há 50% de chances de voltar a usá-lo. A absorção através da fumaça é imediata e, quanto mais rápido chega ao cérebro, mais chances há de dependência?, explica Mendonça, ressaltando que as chances de recuperação são de 33%, e depende de três fatores: bom tratamento, vontade de vencer o vício e apoio da família.

Principal problema são as más companhias

Thereza Gleiser sempre estudou nos melhores colégios, viajou para a Disneylândia na infância, tem um quarto confortável, com televisão, som e DVD. Os pais, sempre dedicados, fizeram o que esteve ao alcance para agradar a única filha que ainda mora com eles. Será que erraram na educação? Em que momento falharam? Essas dúvidas permeiam a cabeça de muitos pais quando descobrem que seus filhos estão envolvidos com drogas. Porém, muitas vezes é um erro das famílias acreditar que têm culpa no vício dos jovens.

De acordo com Luiz Antônio Marques de Mendonça, diretor clínico da clínica de recuperação Nova Esperança, quando os pais descobrem, a sensação é de falha, impotência e insegurança. ?Ninguém está vacinado contra esse mal. Os pais precisam de orientação para ajudar os filhos. A ?entrada? é acidental, muitas vezes por curiosidade, por vontade de experimentar aquilo que é proibido pela família e pela lei?, explicou. ?O entorpecente está sendo usado como um aproximador entre os jovens. O elemento que dá identidade a um grupo de adolescentes?, completou.

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