Foto: Átila Alberti

A localização de Nicole atraiu a atenção de dezenas de pessoas.

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Fim do mistério.

A pequena Nicole Ponfrecki Guedes, de pouco mais de um mês, foi encontrada morta na manhã de ontem, em Colombo. a mãe, Karla Cassiane Ponfrecki, 19 anos, confessou, que por desespero e medo, inventou a história do seqüestro para justificar a morte da filha. Ela derrubou a criança, na manhã de quarta-feira, enquanto a balançava. Ao perceber que Nicole estava morta, Karla a abandonou em um matagal perto de sua casa. Ela foi detida assim que o bebê foi encontrado. Nicole teve traumatismo craniano.

As contradições de Karla quanto à versão do seqüestro, somadas à frieza dela e a falta de testemunhas do roubo do bebê, fizeram com que a polícia e a própria família do pai de Nicole, Alex Guedes, 20, desconfiassem da mãe. Ela contou que caminhava pela rua quando um Kadett preto a abordou e o bebê foi tomado de seus braços por dois homens e uma mulher loira. Acreditando que Karla poderia ter feito algo com a criança, os parentes de Alex e policiais do Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride), passaram a fazer buscas perto da casa do casal, no bairro São Dimas, em Colombo.

Encontro

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Ao meio-dia de ontem, enquanto Karla era submetida a uma sessão de hipnose para tentar lembrar características do Kadett, os primos e o irmão do pai de Nicole avistaram o cobertor do bebê jogado no mato, a três quadras da casa do casal. Ao remover a coberta eles acharam o corpo da criança. A menina estava de bruços, em uma valeta rasa, e trajava as mesmas roupas descritas pela mãe no dia do suposto seqüestro. O irmão de Alex apanhou Nicole nos braços e, enquanto a carregava passou mal, deixando a criança nas margens da rua da casa do casal. ?Nós achamos muito estranho desde quando ela disse que tinham roubado o bebê e foi pedir ajuda a um amigo nosso. Ele nos contou que ela estava calma e não estava ofegante, o que é impossível para um mãe que acaba de perder a filha?, disse um dos primos que encontrou o corpo.

A polícia foi chamada e a notícia chegou até o pai do bebê, que foi ao local e reconheceu o corpo da filha. Desesperado, ele foi amparado pela polícia.

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A mãe e a tia de Alex passaram mal e foram hospitalizadas. A família

e os vizinhos estavam revoltados com a crueldade. ?A história do Kadett preto gerou um pânico na cidade. Todo mundo estava preocupado com seus filhos. É um absurdo tudo isso. Ela vai ter que pagar pelo que fez?, disse uma das moradoras da região.

Confissão após muitas contradições

Assim que terminou a sessão de hipnose regressiva, Karla, que ainda não sabia que seu plano havia sido descoberto, foi levada ao Sicride. Alex também foi à delegacia, onde ficou em sala separada da mulher. Até então, ele não tinha a certeza do envolvimento dela na morte do bebê.

Durante o interrogatório, que durou toda a tarde de ontem, Karla sustentou a versão do seqüestro e apresentou várias contradições, até confessar o que realmente aconteceu. ?Quando começamos a questioná-la, a mãe finalmente demonstrou alguma emoção. Contou que estava sozinha em casa e que depois de amamentar a filha a fez arrotar e começou a balançá-la. Ela derrubou Nicole acidentalmente no chão e viu que o bebê sangrava. Ao perceber que a criança estava morta ela ficou com medo da reação da família de Alex, que amava muito a criança, e resolveu abandoná-la em um matagal e inventar toda essa história?, disse a delegada Márcia Marcondes, da delegacia do Alto Maracanã.

Apesar da confissão, as investigações continuam para apurar se se tratou de homicídio culposo, isto é, se foi realmente um acidente, ou doloso, com a intenção de matar. Karla será submetida a um atendimento psiquiátrico para que se possa saber se ela está ou não com depressão pós-parto. Também foram coletadas amostras de sangue dela e de Alex para confirmar a paternidade da criança. O Sicride ainda solicitou à Justiça mandado de busca e apreensão para revistar a casa do casal.

Apenas no começo da noite o pai do bebê soube o que tinha acontecido. ?Deixamos os dois sozinhos, pois apesar de tudo eles têm uma relação e ela é quem deve contar ao marido tudo o que fez?, disse a delegada Márcia.

Segundo a delegada do Sicride, Daniele Seriguelli, Karla saiu de casa com a filha morta nos braços e por isso responderá pelos crimes de homicídio, ocultação de cadáver e falsa comunicação de crime à polícia. Até a noite de ontem, ela estava detida no Sicride. A delegada aguardava a decretação da prisão preventiva para encaminhar Karla à Penitenciária Feminina, em Piraquara.

Infanticídio

A mãe que mata o próprio filho durante o estado puerperal comete infanticídio. Previsto no artigo 123 do Código Penal, a penalidade do infanticídio é mais branda. ?Enquanto para o homicídio simples a pena é de 6 a 20 anos de reclusão, no caso do infanticídio é de 2 a 6 anos de detenção?, explicou o advogado criminalista Dálio Zippin Filho.