O dia nem havia clareado quando Roberto (nome fictício) embarcou em um ônibus biarticulado, próximo à casa dele, no bairro Campo Comprido, rumo ao centro da cidade. O trajeto já fazia parte da sua rotina, mas o homem não imaginava que, no último domingo de 2003, presenciaria uma cena da mais audaciosa crueldade.

Sentado em um dos últimos bancos do coletivo, Roberto preparava-se para mais um dia de trabalho, como mensageiro em um hotel de Curitiba. Entretanto, seu sossego não durou muito tempo. Por volta das 5h40, quando o ônibus parou no ponto em frente a um grande supermercado da região, o pânico substituiu o silêncio dos mais de 25 passageiros.

Três homens armados com um facão entraram no veículo e travaram uma das portas, impedindo que o motorista seguisse o trajeto. Enquanto um rendia o mensageiro, os outros dois faziam um ?arrastão? pelo coletivo, tomando desde bolsas até pares de tênis. Aqueles que não obedeceram à ordens dos bandidos foram violentamente agredidos.

Roberto conta que nenhum passageiro foi poupado pelos criminosos. Um senhor de idade, que se recusou a entregar o relógio, também recebeu uns safanões. Uma mulher, que segurou firmemente a bolsa, alegando que não tinha dinheiro, foi espancada e várias vezes jogada contra a lateral do ônibus, pelo bandido que segurava o facão. Enquanto isso, os outros criminosos instigavam a violência. ?Corta mesmo! Mete a faca!?, gritavam os comparsas do agressor.

Audácia

Ao tentar impedir que a mulher continuasse sendo espancada, alguns passageiros resolveram enfrentar os assaltantes. Quando perceberam que seriam rendidos, os marginais saíram do ônibus levando os pertences roubados. Antes mesmo de o motorista fechar todas as portas e seguir a rota, o trio começou a apedrejar o veículo. Quase todos os vidros foram quebrados. Por pouco uma das pedras não atingiu Roberto. Depois do susto, o motorista seguiu até o terminal Campina do Siqueira e chamou a polícia, mas os bandidos não foram encontrados.

Dois dias se passaram e Roberto tomou o mesmo ônibus. Quando o coletivo parou no ponto onde a violência tinha acontecido, teve uma surpresa: o homem que aterrorizou os passageiros, naquele domingo, com o facão, estava prestes a embarcar novamente. Antes que o motorista abrisse as portas Roberto correu até ele e o avisou do perigo. Desta vez a violência foi adiada.

Após o relato de Roberto, a reportagem da Tribuna entrou em contato com o distrito policial responsável pela área onde ocorreu o roubo, mas foi informada que a polícia desconhece o fato, não há registro oficial do roubo e, portanto, nada está sendo investigado.

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