Mesmo com a ação desencadeada pela Polícia Militar, com o apoio da Promotoria de Investigação Criminal (PIC), os banqueiros parecem continuar reinando soberanos na máfia da contravenção. Um dia depois da cooperativa, que concentrava grande parte dos jogos feitos na capital, ser "estourada", os pontos de apostas espalhados por Curitiba estão funcionando a todo vapor.
De acordo com a proprietária de uma lanchonete, "associada" à cooperativa, não houve nenhuma alteração no esquema dos jogos com a operação feita pela polícia. "A única mudança foi no movimento que caiu bastante, como era previsto, pois isso sempre acontece quando sai notícias sobre o jogo do bicho. Os clientes ficam com medo por uns dias, mas depois tudo volta aos normal", contou a mulher, que preferiu não se identificar.
Ela disse ainda que os próprios motoboys, que recolhem os jogos para levar à cooperativa, onde é feita a conferência dos números, são os responsáveis pela busca de novos "associados". "Os banqueiros nunca aparecem. O único contato que temos é com os motoqueiros, que vão nos comércios e especulam quem quer participar do esquema para oferecer o jogo. Tudo é muito sigiloso", conta ela.
Liberado
Um mapa encontrado no "quartel general" do jogo do bicho, marcado com centenas de alfinetes sobre os bairros, demonstrou o grande número de locais onde as apostas podem ser feitas. Ontem, a equipe de reportagem da Tribuna foi verificar se a ação da PM tinha coibido a prática do jogo de azar, e constatou que a fezinha está sendo realizada normalmente, e nos lugares mais inusitados. Apesar de ser ilegal, até mesmo algumas loterias credenciadas pela Caixa Econômica Federal participam do esquema. Além delas, bares, restaurantes, bancas de jornal e lojas de presentes, têm um cantinho reservado para os apostadores. Os proprietários destes estabelecimentos, que recebem 17% da comissão dos banqueiros, também parecem estar despreocupados com as autoridades, pois ao entrar nestes comércios, tabelas com ilustrações dos 25 animais e seus números respectivos, estão à mostra para o freguês.
Os mais organizados ainda possuem livros com significados dos sonhos para ajudar o cliente que está sem palpite. "Duvido que o jogo do bicho acabe um dia, pois ele é o mais popular e antigo de todos. Além disso os banqueiros de Curitiba são antigos e muito organizados", finalizou a mulher.
Bicheiros do Rio de olho no Paraná
Informações enviadas à Promotoria de Investigação Criminal (PIC) de que a máfia dos bicheiros do Rio de Janeiro prepara-se para invadir o Paraná, principalmente Curitiba e Região Metropolitana, fizeram o órgão investir pesado no combate à contravenção. É por isso que há quatro meses o Ministério Público investigava a prática do jogo do bicho em Curitiba.
De acordo com o procurador de justiça Dartagnan Cadilhe Abilhoa, a preocupação é que o esquema do jogo do bicho que acontece no Paraná ganhe as mesmas proporções do que é feito no Rio de Janeiro, onde os locais de apostas servem principalmente para o comércio de drogas. "Ficamos sabendo que os bicheiros cariocas querem vir para o Paraná, tomar em princípio pontos dos municípios da região metropolitana, e com isso expandir a máfia. A disputa de pontos pode resultar em muitas mortes e num crime organizado sem controle, pois os bicheiros do Rio de Janeiro são extremamente perigosos. Os banqueiros de Curitiba são antigos e bastante organizados, e não vão permitir essa invasão, o que pode acarretar em uma verdadeira guerra", contou Abilhoa.
Cooperativa
Na última quarta-feira a Policia Militar invadiu a cooperativa dos bicheiros, que funcionava no bairro Hugo Langue. Durante a operação, além de um dos banqueiros que gerenciava o local, cerca de 100 funcionários foram detidos. A ação precipitada da polícia atrapalhou as investigações da PIC, que tinham a informação que ali funcionava uma milícia armada, formada por policiais civis e militares que faziam a segurança 24 horas do local. Por não serem encontrados indícios deste crime, a não ser a pratica da contravenção, todos foram ouvidos e liberados, assinando apenas um termo circunstanciado. "A nossa preocupação não é com o jogo em si, mas com todos os complicadores que vêm com ele. É inadmissível que a polícia, além de ser conivente participe efetivamente do esquema. Vamos aguardar a perícia que será feita nos computadores apreendidos parta verificar se há alguma pista do envolvimento dos policiais", disse o procurador.