O homicídio é a principal causa de morte de adolescentes em Foz do Iguaçu; mais de 1,5 mil garotos iguaçuenses cruzam com freqüência a Ponte da Amizade para transportar, a pé, mercadorias do Paraguai, recebendo, em média, R$ 30 por dia; os abrigos de Foz do Iguaçu estão deixando de cumprir o papel de reconduzir a criança ao convívio familiar. Essas são algumas das principais informações que constam no livro Abandono, Exploração e Morte, lançado na última semana, para expor a realidade de muitas crianças e adolescentes de Foz do Iguaçu.
O livro foi editado para publicar o resultado de pesquisas sobre três temas diretamente ligados à realidade dos menores de idade pobres de Foz do Iguaçu. Com o apoio da Itaipu Binacioal, as pesquisas foram realizadas entre ano passado e este ano, pelo Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Foz do Iguaçu, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, União Dinâmica de Faculdades Cataratas e pela Fundação Nosso Lar. ?Nosso propósito é dar publicidade a esses dados. Com as pesquisas revelando situações graves, decidimos organizar um livro para mostrar essa problemática à sociedade e às autoridades interessadas?, explicou o diretor administrativo da Fundação Nosso Lar, Valtenir Lazzarini.
Entre os dados mais preocupantes publicados no livro, está o crescimento dos homicídios de adolescentes, principalmente na faixa entre 16 e 18 anos, enquanto as outras causas de morte têm diminuído nos últimos cinco anos. Só no ano passado, 59 menores de 18 anos foram assassinados em Foz do Iguaçu, a maioria pobre, negro ou pardo e com mais de 16 anos.
O livro também apresenta um levantamento da situação dos menores de idade que atravessam a Ponte da Amizade. 59% dos 2.690 adolescentes que responderam à pesquisa revelaram que atravessam a ponte para transportar ou passar mercadorias, entre cigarros, produtos eletrônicos e de informática e, até, drogas.
Sobre as casas de abrigo, a pesquisa indicou que muitas delas estão descumprindo sua função, determinada pelo Estatuto da Criança e Adolescente (Eca), de ser um local de passagem temporária desses meninos e meninas, que, em muitos casos, estão deixando o convívio familiar para viver no abrigo muito mais tempo que o necessário.
Mas, além de apresentar os problemas, a publicação também apresenta algumas alternativas para solucioná-lo. ?Uma delas até já vem sendo implantada aqui em Foz: a substituição dos abrigos por casas lares, com bem menos crianças, consegue-se criar um ambiente mais semelhante ao familiar?, disse Valtenir, que considera a carência de políticas públicas como a principal causa de todos esses problemas. ?Esse é o fio condutor. Não há programa de orientação e geração de renda para as famílias e nem de profissionalização dos jovens. Eles tem de ir à ponte buscar uma renda alternativa, ou são colocados nos abrigos por falta de condições das famílias para criá-los. A violência é conseqüência. Foz do Iguaçu tornou-se um local perigoso e, as crianças, que são os mais fracos, acabam sendo as principais vítimas?, analisou.
O livro está disponível na Fundação Nosso Lar, na Vara da Infância e Juventude de Foz do Iguaçu e na União Dinâmica de Faculdades Cataratas. Maiores informações constam no site www.nossolarfoz.com.br.
