O Ministério Público do Paraná (MP-PR) entrou com um recurso junto à Justiça, no final da tarde de ontem, pedindo que a médica Virgínia Helena Soares de Souza, acusada de apressar a morte de sete pacientes dentro da UTI geral do Hospital Evangélico, volte para a prisão. Ela ficou um mês detida, porém foi posta em liberdade na semana passada. Além disso, o MP-PR também pediu que o Núcleo de Repressão aos Crimes contra a Saúde (Nucrisa), abra um novo inquérito para investigar ex-diretores do hospital e demais funcionários, que possam eventualmente estar envolvidos nas mortes.
Para o promotor Paulo Lima, do MP-PR, Virgínia precisa responder os crimes presa, “considerando o abalo da opinião pública, o clamor social e a gravidade do caso”, além de ser apontada como chefe de quadrilha.
O promotor acredita que possa haver intimidação de testemunhas, isso porque alguns funcionários do hospital teriam manifestado certo “temor” com relação à Virgínia. Mesmo com as medidas restritivas feitas pela Justiça no momento em que a médica foi libertada – ela não pode se aproximar das testemunhas – o promotor acredita que a determinação é insuficiente. Segundo Paulo, no período em que Virgínia esteve presa, as investigações foram “robustecidas”.
Ele ressaltou que todas as investigações estão sendo feitas com base nos prontuários recolhidos no hospital e que são acompanhadas por médicos especializados em medicina intensivista. O recurso pedindo que Virgínia seja colocada atrás das grades novamente foi protocolado no da 2.ª Vara do Tribunal do Júri e tem 48 horas para ser apreciado.
O advogado da médica, Elias Mattar Assad, não acredita que ela volte a ser presa. Segundo ele, este seria um ato injurídico. De acordo com o defensor, apesar do MP-PR ter afirmado que outras mortes podem ter sido ocasionadas pela equipe da médica, não existem fatos novos que possam amparar uma nova detenção da médica.
Pressão pra não investigar
Reprodução Fantástico |
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Lobato: 300 casos pra analisar. |
Em entrevista ao programa “Fantástico”, domingo, o auditor do Ministério da Saúde e coordenador da sindicância aberta contra o Hospital Evangélico, Mário Lobato, disse que após análise dos prontuários recolhidos pela polícia, foi possível identificar pelo menos outros 20 óbitos que teriam sido provocados pela equipe médica investigada.
Ele ainda afirmou que sofreu pressão para não ampliar as investigações. “Acreditamos que existe uma pressão velada porque isso, de uma forma ou de outra, atinge todas as UTIs, não só as de Curitiba”, afirmou Lobato.
Ele acredita que o número de mortes suspeitas na UTI, que foi chefiada pela médica Virgínia por sete anos, pode ser ainda maior. “Os casos que já estão fechados são, praticamente, mais de 20, e nós temos quase 300 já para fazer esse fechamento”, disse Lobato.
De acordo com o MP, estes pacientes foram mortos por asfixia, com uso do medicamento Pavulon e diminuição de oxigênio no respirador artificial. Lobato garante também que a médica Virginia tinha motivação financeira para liberar os leitos.
Mortes podem passar de 20
O grupo de médicos e enfermeiros que está sendo acusado junto com Virgínia pode responder por mais mortes ocorridas na unidade. “Há uma suspeita muito forte e elementos concretos que precisamos chegar a uma conclusão final. Os procedimentos usados [nestes novos casos] são semelhantes aos adotados nas mortes já denunciadas”, afirmou o promotor Paulo Lima, do MP-PR.
Além de Virgínia, também foram denunciados por homicídio os médicos Maria Israela Cortez Boccato; Edison Anselmo da Silva Júnior; e Anderson de Freitas; além das enfermeiras Patrícia Cristina de Goveia Ribeiro e Lais da Rosa Groff.
Outras duas pessoas foram denunciadas pelo crime de formação de quadrilha, a fisioterapeuta Carmencita Emília Minozzo e o enfermeiro Claudinei Machado Nunes. Mas elas não chegaram a ser presas.
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