Entre os 29 réus, acusados de participação num esquema de pedofilia e extorsão, descoberto em 2006, e que envolvia policiais civis de três distritos da capital, oito foram condenados esta semana. O resultado foi publicado no Diário de Justiça da quinta-feira. A mentora do esquema, Luciana Polerá Correia Cardoso, hoje com 28 anos, foi quem pegou a maior condenação: 35 anos, seis meses e 27 dias de cadeia. Além dela, também foram condenados os delegados Edson José Costa e Moisés Américo de Souza Neto. Quatro investigadores também receberam condenações. À decisão, proferida pela Vara de Infrações Penais Contra Crianças, Adolescentes e Idosos, cabe recurso.

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Segundo declarações de Luciana ao Paraná Online, em 2006, o esquema começou em 2004, quando uma mulher a procurou propondo a parceria. Elas queriam montar uma rede de prostituição de menores, mas com o objetivo real de usar policiais civis para extorquir dinheiro dos pedófilos que aceitassem programas com as jovens. Luciana alegou que teve a ajuda do tio, Lincoln Lima dos Santos, ex-policial militar que conhecia vários policiais civis que poderiam topar o esquema, para apresentá-los à sobrinha. No entanto, Lincoln está entre os absolvidos no processo.

Irmã

Luciana também pediu a ajuda de sua irmã, que arregimentou algumas meninas na escola pública em que estudava, no Portão. Desde o início, participaram quatro meninas. Na época, uma tinha 14 anos, duas 13 e outra 12 anos. Luciana tinha a ajuda de uma secretária, responsável por entrar em salas de bate-papo pela internet para encontrar clientes interessados nas garotas. Quando os encontrava, marcava os programas em motéis, num apartamento no centro de Curitiba ou no próprio apartamento de Luciana, no Fazendinha.

Flagrante combinado

O esquema era combinado com policiais civis, que iam ao local e ficavam esperando um sinal das adolescentes para fazer o “flagrante”. Quando elas saíam do quarto enroladas em toalhas, sinalizando que o cliente também já estava nu, os policiais entravam filmando com celulares ou câmeras digitais. Para que o pedófilo não fosse preso, exigiam quantias que variavam de R$ 15 a R$ 20 mil. Os pedófilos que não quisessem pagar eram levados à delegacia. Sob a ameaça de terem os nomes registrados num boletim de ocorrência, acabavam aceitando pagar a propina, que às vezes chegava a R$ 30 mil. O dinheiro era repartido entre os participantes do esquema, menos as adolescentes.

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Semanal

Luciana disse que, normalmente, o esquema era montado uma vez por semana. Mas, em algumas ocasiões, chegaram a marcar programas todos os dias da semana. Luciana disse à época que ganhava cerca de R$ 1,5 mil. Chegou até a receber R$ 3 mil.

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Ao que tudo indica, o esquema iniciou com policiais do 4.º Distrito Policial (DP), na época, sediado no bairro São Lourenço. Depois, com a saída de um investigador para o 7.º DP, no Hauer, o esquema se prolongou àquela delegacia e também ao 12.º DP, em Santa Felicidade.

Programa dá errado pra delegado

O esquema de extorsão foi descoberto depois de um programa no dia 28 de abril de 2006, quando os policiais flagraram o empresário Adi Sfredo num motel com a adolescente de 12 anos. No local, ele não quis pagar a quantia de R$ 15 mil e foi levado ao 4.º Distrito Policial (DP), onde coincidentemente seu filho, estudante de Direito, fazia estágio.

O pai avisou o filho, que acionou a Corregedoria da Policia Civil e, para provar a extorsão, levou R$ 5 mil em notas marcadas para serem entregues ao delegado. No entanto, disse Luciana na época, o delegado Edson Costa foi avisado que seria pego em flagrante e não aceitou o dinheiro. Mediante isto, para despistar a Corregedoria, o policial foi obrigado a abrir a papelada do flagrante de pedofilia contra o empresário. Precisou colocar o nome da adolescente de 12 anos no inquérito e, dias depois, pressionou a garota sobre o que ela deveria dizer ou não no depoimento.

Pais

Os pais da garota souberam da pressão que a filha vinha sofrendo e pediram ajuda à direção da escola onde ela estudava. A direção acionou policiais militares da Patrulha Es,colar, que deram encaminhamento à denúncia. O caso foi parar, novamente, na Corregedoria da Polícia Civil que, além de investigações, contou com a confissão de Luciana Polerá Correia Cardoso, mentora do esquema, denunciando todos os envolvidos e a participação de cada um.

Descontrolado

Na época que as denúncias vieram à tona, o delegado Edson Costa invadiu armado os estúdios da TV Iguaçu, onde entrou ao vivo no programa Tribuna na TV, cobrando justificativas para as acusações que estavam ido ao ar e eram consideradas por ele infundadas.