Começou na manhã de ontem, na 1.ª Vara do Tribunal do Júri, no Centro Cívico, o julgamento de Daniel Luís Santiago Cortes, um dos três últimos acusados de envolvimento na morte do estudante universitário Rafael Rodrigo Zanella, 20 anos, em maio de 1997. Daniel era superintendente do 12.º Distrito Policial (Santa Felicidade) na época do crime e é acusado de atirar na viatura dos policiais que abordaram o estudante confundido com um traficante. Os acusados alteraram a cena do crime, colocando um revólver nas mãos da vítima e uma porção de maconha no carro dele, para simular que houve troca de tiros e que Zanella tinha envolvimento com drogas. No entanto, um perito do Instituto de Criminalística descobriu a fraude ao analisar o local da morte e graças aos pais de Rafael, que sabiam da inocência do filho e não mediram esforços para que toda a verdade viesse à tona, denunciando os fatos, a trama dos policiais não deu certo.
Daniel responde por fraude processual, denunciação caluniosa e tortura (os amigos de Rafael que estavam no carro foram presos e torturados na delegacia para que corroborassem com a versão da polícia). O julgamento começou por volta de 10h30, com os depoimentos de quatro testemunhas de defesa. O primeiro a ser ouvido foi um delegado da Polícia Federal aposentado Airton Siqueira Mendes, que estaria junto com o réu em uma confraternização na noite do crime, mas disse que Daniel saiu para atender uma emergência e voltou em seguida. As testemunhas de acusação foram dispensadas por terem sido ouvidas durante outras fases do processo. Participam do júri a juíza Flávia da Costa Viana, o promotor de justiça Marcelo Balzer Correia, e os advogados Osman de Santa Cruz Arruda e Maurício de Santa Cruz Arruda.
O último a ser ouvido foi o próprio réu, que alega inocência. A família do estudante e os amigos que estavam com ele no dia do crime acompanham o julgamento. A defesa de Daniel sustenta que não existem provas que o incriminem. Até o fechamento desta edição o julgamento não havia terminado.
Mais dois
Para amanhã, está previsto o julgamento do escrivão Carlos Henrique Dias, cujo advogado de defesa alega que ele só chegou na delegacia quatro horas após o episódio e que registrou no inquérito aquilo que seus colegas declararam, sem saber que estavam mentindo. No dia 15, será julgado Maurício Bittencourt Fowler, que naquela noite era o delegado de plantão do 12.º DP e é apontado como o mentor da farsa. Ele é acusado dos crimes de usurpação de função pública, prevaricação, fraude processual, denunciação caluniosa e tortura. Fowler já não pertence ao quadro da Polícia Civil. Foi demitido em janeiro do ano passado, por prática de conduta irregular, conforme consta no decreto governamental número 4142, de 8 de janeiro de 2009.
Caso
O estudante foi abordado na noite do dia 28 de maio de 1997, na desastrada ação em que participaram três policiais civis, um estudante de Direito e um informante da polícia (os dois últimos trabalhavam irregularmente na delegacia). Rafael levou um tiro na cabeça quando parou o carro, disparado pelo informante Almiro Deni Schmidt, que não poderia estar armado nem participando de um trabalho policial. Percebendo o erro, os policiais trataram de prender os amigos de Rafael, levando-os imediatamente para a delegacia, enquanto o delegado -chamado às pressas – e outros colegas de delegacia modificavam o local para incriminar a vítima.