A morte a facadas de uma menina de 10 anos por um adolescente de 16 chocou Curitiba e região metropolitana na quarta-feira (20). Ambos viviam em uma Casa de Passagem, uma espécie de abrigo para menores em situação de risco. O assassinato aconteceu por volta das 3h da madrugada, a 2,5 quilômetros do local onde moravam, em um terreno baldio. “Ele a esfaqueou, arrastou o corpo ao matagal e voltou para o abrigo como se nada tivesse acontecido”, disse o supervisor da Guarda Municipal da cidade. Segundo a perícia do Instituto de Criminalística, a menina de 10 anos tentou se defender e não houve abuso sexual.
“Até o momento, não sabemos ao certo o que realmente motivou o ato, pois o adolescente sustenta duas versões. Uma delas é que matou a criança a pedido de um espírito que o acompanhava. Em outro depoimento, alegou que matou porque a criança tirava sarro dele devido à morte de seu irmão, em uma casa de custódia em que morava. De qualquer forma, o que sabemos é que a criança pretendia fugir da instituição e quando o adolescente soube, se propôs a ajuda-la”, informou o delegado Geraldo Celezinski, que cuida do caso.
O adolescente disse estar arrependido. “Queria voltar atrás e conversar com ela, mas não quero falar sobre isso”, disse. O rapaz também não quis comentar sobre o “espírito” que teria mandado ele cometer o crime e se mostrou irritado quando o fato foi mencionado. Ele apenas confirmou a informação da polícia de que não abusou da menina e disse que não tinham nenhum relacionamento amoroso. Para a polícia, o crime foi premeditado. “Ele sem duvida planejou como iria fazer e aproveitou da inocência da menina”, acredita Celezinski, para quem o garoto é frio. “Provavelmente teve um surto psicótico, mas a frieza assusta até quem já está acostumado a lidar com este tipo de coisa”. A polícia não encontra, ainda, razão para o assassinato. O adolescente foi ouvido pelo Ministério Publico e a Justiça irá definir, nos próximos dias, o que acontece com ele.
Família desestruturada
De acordo com o secretário de governo do município onde ocorreu o crime, o adolescente que matou a menina é de Foz do Iguaçu, onde vivia com a mãe. Ao se mudarem para a região metropolitana de Curitiba, o jovem teve problemas judiciais e foi enviado ao Centro de Sócio Educação de Londrina (Cense). O secretário não soube informar ao certo por quanto tempo o adolescente permaneceu no Cense, mas afirma que o rapaz foi para a Casa de Passagem por determinação do promotor da Vara da Infância e da Juventude, já que a mãe não foi mais localizada.
A respeito da garota morta pelo adolescente, pouco se sabe. “O fato de a investigação correr em segredo judicial impede que entremos em detalhes, mas a tia dela já foi localizada”, contou o secretário. Ele afirma ainda que a criança morava na Casa de Passagem há seis meses, pois sofria maus tratos quando morava com esta mesma tia.
Normalidade “tarja preta”
A diretora da Casa de Passagem esteve na quarta-feira na delegacia para ajudar nas investigações. Ela contou ao Paraná Online que o menino era um adolescente normal. “Nunca apresentou nenhum problema, pelo menos dentro da casa. Ele ajudava a cuidar das outras crianças menores e não soubemos de nenhum relacionamento entre ele e a menina”, disse a diretora.
O adolescente morava no abrigo há oito meses e participava de atividades externas que faziam parte da rotina da casa. Na instituição, o jovem também passava por tratamento psicológico devido aos conflitos internos decorrentes da relação turbulenta com a família. “Ele era revoltado”, comentou o secretário. “Ele era acompanhado por médicos e sabemos que tomava remédios tarja preta, tinha problemas psicológicos, mas a diretora contou que teve melhora relativa”, disse o delegado Geraldo Celezinski. Apesar de confirmar o us,o da medicação e o tratamento, o delegado e o secretário não souberam dizer que problema o rapaz tinha.
Sobre o fato de o garoto ter problemas psicológicos e estar junto com as outras crianças na mesma residência, o secretário explicou que foi uma decisão do Ministério Público do Paraná. “Ele foi colocado lá depois que o MP considerou que tinha condições, a diretoria da Casa e a Prefeitura apenas cumpriram com a decisão”, disse. O Ministério Público, por meio da assessoria de imprensa, confirmou que o garoto foi encaminhado ao abrigo por ter sido considerado apto por três profissionais de psicologia. Além disso, de acordo com o MP, o adolescente continuava recebendo atendimentos de um psicólogo.