Manoel vive na Alemanha e quer conhecer seus pais biológicos.

Uma história envolta em ternura, mistério e esperança promete mudar para sempre a vida de um jovem brasileiro. Manoel Felipe de Souza Reinecke, 17 anos, foi adotado por um casal alemão, quando tinha ainda poucos dias de vida. Este ano ele retornou para Curitiba com um único objetivo: descobrir quem são seus pais biológicos e porque eles o abandonaram.

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Era 25 de novembro de 1987 quando uma mulher, com um bebê no colo, tentou embarcar em um ônibus na Rodoferroviária de Curitiba. Um funcionário então exigiu a apresentação da certidão de nascimento da criança. Sem o documento, a suposta mãe pediu para que ele segurasse o bebê, para que ela fosse até um local apanhá-lo. A mulher não voltou, e o recém-nascido foi entregue a uma instituição de atendimento a crianças abandonadas.

Adoção

Enquanto isso, o casal alemão Wilma e Horst Reinecke pediu ao amigo Fouad Omairi, que morava na capital paranaense, que os ajudasse a adotar uma criança. O amigo foi ao Juizado da Infância, Juventude e Adoção informar-se se isso era possível e qual o procedimento a ser feito. Lá, ele soube da história de Manoel e rapidamente avisou o casal. Wilma e Horts, então, deram início no processo de adoção, mesmo sem conhecer o bebê, enviando uma série de documentos, entre eles os que comprovaram o alto padrão de vida que tinham. O juiz autorizou a adoção e no dia 29 de dezembro eles desembarcaram no Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais, de onde seguiram direto para o lar onde estava o garoto. ?Lembro-me que a freira entregou o menino e os dois não paravam de chorar, de tanta emoção, sentindo que já tinham o filho nas mãos?, diz Fouad. Em janeiro do ano seguinte, quando todo o processo foi legalizado, o casal seguiu para a cidade de Oldenburg, na Alemanhã, onde criaram e vivem até hoje com o já adolescente Manoel.

Origens

Segundo Manoel, seus pais nunca esconderam sua história, o que fez com que durante anos ele alimentasse a esperança de conhecer sua verdadeira família. No ano passado o jovem estudou português durante três meses, com o intuito de voltar para o Brasil e realizar o seu sonho.

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Em fevereiro deste ano, com o apoio dos pais adotivos, ele desembarcou em Curitiba e reencontrou o velho amigo Foaud, que o está ajudando na busca. Mas o adolescente têm poucas pistas sobre seu passado. Antes de ser adotado ele recebeu o nome de Felipe de Souza, identidade que acredita ter sido dada pelo juizado ou pela instituição que o acolheu. Depois, incorporou em seus documentos o nome Manoel e o sobrenome alemão, Reinecke. Sua data de nascimento também é incerta, uma vez que foi abandonado no dia 25 de novembro de 1987, quando aparentemente tinha 15 dias.

Apesar de contarem com todo o apoio do Juizado de Infância, Juventude e Adoção de Curitiba, Manoel e Fouad estão contando principalmente com os órgãos de imprensa para divulgar a história. ?Eu faço um apelo à mãe e ao pai dele, que porventura venham a ler esta matéria. Peço que entrem em contado com os jornais ou com o juizado, pois Manoel é um garoto de ouro?, finaliza Fouad, lembrando que o jovem tem um sinal em seu corpo que apenas os verdadeiros pais poderão identificá-lo.

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Sorriso, simpatia e esperança

O jovem alemão, que tem os cabelos louros, cacheados, e os olhos azuis, seguindo os traços germânicos, mostrou que em suas veias corre sangue brasileiro. Durante a entrevista concedida ontem à tarde, Manoel sorriu, foi muito educado, mostrou-se meigo, solícito e até mesmo incisivo, quando disse que se sente mais brasileiro do que alemão. ?Aqui as pessoas são muito simpáticas e não são estressadas como lá. As mulheres são lindas e o calor daqui é maravilhoso?, disse ele.

Porém, a realidade que vive na pequena cidade de Oldenburg, na Alemanha, é certamente muito diferente da que teria se tivesse permanecido no país em que nasceu. O pai adotivo de Manoel é juiz e a mãe dele trabalha como auxiliar no Poder Judiciário alemão. O alto padrão de vida propiciou muito ao adolescente, que se mostrou inteligente – sabe falar fluentemente quatro idiomas: francês, inglês, alemão e agora, português. Ele já viajou a passeio para diversos países, como Cuba, Tailândia, Sirilanka e Tunísia. Na Alemanha, Manoel estuda violino e piano, carreira que pretende seguir, cursando uma faculdade ligada à música. Ciente de que seus pais biológicos podem ser de uma classe social muito baixa, ele disse que não se importa. ?Estou preparado para isso. Pode ser que eu tenha muitos irmãos e eu quero conhecê-los, quero saber do meu passado, quero saber quem sou, meu verdadeiro nome e o dia em que nasci?, disse Manoel, lembrando que ele foi achado com cerca de 15 dias de vida, no dia 25 de novembro de 1987, o que o faz suspeitar ter nascido entre o dia 10 e 13 daquele mês.

Quando questionado sobre o que fará se encontrar seus verdadeiros pais, o adolescente disse que perguntará: ?Porque vocês me deixaram??. Ele não pretende morar no Brasil, mas quer manter um contato para sempre com sua verdadeira família. ?Vou voltar para a Alemanha porque minha vida está lá, mas sempre que puder retornarei para visitá-los?, respondeu, esperançoso em conhecer os pais biológicos. Manoel ficará em Curitiba até a metade do ano. Enquanto busca por suas origens, o adolescente estará estudando no Colégio Suíco Brasileiro, em São José dos Pinhais. ?Se eu não encontrá-los durante esse tempo, voltarei para a Alemanha, para terminar meus estudos e depois retorno ao Brasil para desvendar essa misteriosa história que é a minha vida?, finalizou o garoto, exibindo um sorriso digno de um legítimo brasileiro.