Dois repórteres da Tribuna do Paraná, cumprindo a missão de informar o leitor, foram agredidos ontem pela Polícia Militar na saída do clássico entre Atlético e Paraná. Depois de ouvir insultos de um soldado, o jornalista Cahuê Miranda chegou a ser algemado e detido, numa cena que constrangeu o público que deixava a Baixada.
Na saída do clássico, junto ao portão principal do estacionamento do estádio, a reportagem da Tribuna flagrou a PM agredindo com golpes de cassetete dois torcedores rubro-negros. Segundo os policiais, a dupla tentou bater num outro atleticano, que já estava preso por molestar as namoradas deles. Os dois primeiros foram dominados e liberados, e o outro saiu de camburão.
Enquanto registrava a confusão com sua câmera, o repórter fotográfico Valquir Aureliano levou uma cotovelada do soldado Robson Luiz dos Anjos Nascimento, lotado no 13.º Batalhão da PM. Cahuê, que também havia feito a cobertura do clássico, usava crachá da Tribuna no pescoço e acompanhava a briga, abordou o policial, tentando ouvir uma justificativa para a cotovelada. ?Quando me identifiquei como repórter, o PM disse que jornalista e m… eram a mesma coisa. Retruquei perguntando; ?e o senhor, o que é?, e fui detido, de forma desnecessária e truculenta?, contou o repórter.
O soldado Robson aplicou uma gravata em Cahuê e o prensou numa viatura, usando o braço contra o pescoço do repórter. ?Ele me chamou de m…?, repetia o policial, que aparentava nervosismo e ameaçou deter outro repórter da Tribuna que tentava contornar a situação. O soldado estava sem identificação – alegou que a ?biriba? com o nome foi arrancada durante a confusão. Cahuê conta que foi o próprio policial que arrancou a identificação da farda.
Enquanto o público saía, o repórter, algemado, foi levado à sala da triagem da PM, dentro da Baixada. Quando as algemas foram retiradas, deixando marcas no pulso do jornalista, o soldado Robson ainda ironizou a situação. ?Tá doendo??, disse, em tom sarcástico, na frente de outros policiais e repórteres que já, aglomeravam em frente a sala.
O capitão Rubens Tedeski, que comandou o policiamento no clássico, disse que as algemas só devem ser colocadas quando o detido resiste à prisão – fato que não aconteceu, segundo Cahuê. O oficial falou também que, pela versão que lhe foi apresentada, o soldado usou a força porque estava sozinho.
O soldado, no entanto, tinha a companhia de vários colegas, como provam as fotos tiradas por Valquir.
O jornalista foi encaminhado ao 8.º Distrito Policial, onde assinou termo circunstanciado por ?desacato a autoridade?. Cahuê apanhou guia de lesões corporais para realização de exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal.
Com o resultado do exame em mãos, o jornalista entrará com pedido de sindicância interna para apuração do caso junto ao batalhão onde o soldado está lotado.
Ele também apresentará representação contra o PM no Juizado Especial, pedindo providência do Judiciário.