Neste Natal, a família Oliveira, moradora na Rua Cristiano Strobel, no Alto Boqueirão, só tem um pedido a fazer ao Papai Noel: ?Queremos ter condições de dar um tratamento de saúde digno à Lisandra, para que ela possa se recuperar e quem sabe, um dia, voltar a trabalhar?. Aos 32 anos de idade, ela sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), o chamado derrame, que lhe deixou por 70 dias em coma, no Hospital Evangélico, e por dez meses vivendo em estado vegetativo. Para complicar a situação, ainda sofreu paradas cardíacas e foi vítima de infecções hospitalares. Até uma semana antes de adoecer, Lisandra era uma ativa investigadora do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) e havia integrado o grupo de elite da Polícia Civil, o conhecido Tigre.
Foto: Márcio Machado/SECS |
Lisandra, trabalhando no Cope, em operações especiais para fechamento de bingos no Paraná. |
Filha de José Carlos e Letícia de Oliveira, ambos policiais civis já aposentados, Lisandra desde criança dizia que queria seguir a carreira dos pais. Bateu o pé e passou no concurso para investigadora aos 18 anos. Alguns anos depois, formou-se em Direito e estava estudando para o concurso para delegada. Trabalhou 15 anos no Cope, sem ter uma única falta em sua ficha funcional.
Esforço
Com a mesma garra com que encarava os desafios do trabalho, entrando em escalas de plantão e também atuando no serviço de inteligência do Cope – era responsável pelas degravações de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça – Lisandra luta pela vida. As seqüelas do AVC são muitas e o dinheiro para propiciar um tratamento que possa levar à sua recuperação – mesmo que parcial – é curto.
Os pais fizeram vários requerimentos à Polícia Civil e à Secretaria da Segurança Pública do Paraná, pedindo auxílio financeiro para melhorar a qualidade de vida da jovem, porém todos foram negados. Embora ela trabalhasse em regime de Tempo Integral e Dedicação Exclusiva (Tide), as autoridades lhe negaram ajuda porque estava em sua primeira semana de férias quando aconteceu o AVC.
Os médicos que a atendem ainda investigam as causas da doença, não descartando que tenha motivo ocupacional, principalmente pelo grande estresse a que a jovem era submetida no dia-a-dia. No entanto, peritos da Divisão de Medicina e Saúde Ocupacional da Secretaria Estadual de Administração e Previdência do Estado (que não são neurologistas) descartaram a possibilidade de o problema ter alguma relação com o trabalho e assim também impediram que ela recebesse qualquer ajuda extra para seu tratamento.
Esperança é a última que morre
Mara Cornelsen
As duas paixões da policial: o Cope e o Coritiba. |
Desolado, mas não vencido, José Carlos revela que pretende procurar a Justiça para conseguir o tratamento para a filha. Por enquanto, a família precisa de auxílio no custeio de medicamentos, materiais especiais e tratamentos de fonoaudiologia e fisioterapia, além do apoio de uma enfermeira, para se revezar com os pais e irmãos de Lisandra. Mais tarde, a idéia é levar a jovem para o Hospital Sara Kubitschek, em Brasília, especializado no tratamento de politraumatizados e pessoas com problemas locomotores. ?Temos certeza que lá ela terá uma boa chance de recuperação?, assegurou José Carlos. Os contatos com o hospital já foram feitos e a família aguarda uma resposta para os próximos dias.
Um pedido de Natal: ?Quero ficar boa e voltar a trabalhar?. |
Enquanto isso, Lisandra, que já foi considerada a mais bela policial civil de Curitiba, demonstra que embora seu corpo não reaja como antes, a memória e a inteligência continuam intactas. Usando aparelho para surdez e sem a visão do olho esquerdo, além de não poder se movimentar, ela balbucia letras para que a irmã escreva em uma lousa o que ela deseja, fazendo um enorme esforço para se comunicar. ?Ela lembra de tudo, até da senha bancária e do número do RG?, salienta a irmã Michele. Concordando com a cabeça, Lisandra conseguiu sussurrar: ?Eu vou melhorar?, e num grande esforço com a boca, soltou um estalido. Era um beijo para a vida. (MC)