Cinco mortos

Inocentados por chacina na RMC vão processar o estado

Os réus acusados da chacina de Piraquara, absolvidos do crime na segunda-feira, vão processar o Estado por danos morais. Derise Farias Pereira Grando, ex-mulher de uma das vítimas, o ambientalista Jorge Grando, que foi tida como mandante do crime, além dos irmãos João Carlos e Adilson da Rocha, querem indenização.

Derise ficou 159 dias presa. Como entre os mortos estava o agente penitenciário Valdir Vicente Lopes, logo que Derise entrou no sistema prisional diz que foi muito hostilizada por agentes que eram amigas de Valdir. Depois que saiu da cadeia, diz que também sofreu ameaças. Foram vários telefonemas durante madrugadas e de números privados, a maioria dizendo: “Veja bem. Cinco pessoas morreram. Olha o que pode acontecer com você”, diz Derise, que chegou a prestar duas queixas das ameaças na delegacia de Pinhais, onde mora. Mas temendo se expor mais do que já estava, acabou retirando as queixas.

Ela também conta que depois que Grando morreu, acabou ficando com toda a documentação que era do ambientalista. E para evitar que sua casa fosse invadida por alguém interessado nos documentos (pessoais e sobre o ativismo ambiental da vítima), disse que retirou tudo da residência e mantém guardado em um lugar seguro.

Imprensa

Quem também vai mover ação indenizatória contra o Estado são os irmãos João Carlos e Adilson, também inocentados. Segundo o advogado deles, Alexandre Jarschel de Oliveira, eles pretendem responsabilizar a polícia pela forma como foram apresentados à imprensa como autores da chacina. “Eles foram apresentados como verdadeiras caças, relíquias. É só ver no You Tube os vídeos das prisões. Eles estão assustados, sem entender direito o que estava acontecendo. A mulher do João Carlos estava grávida quando ele foi preso. Ele não viu o filho nascer e nem esse começo do desenvolvimento porque ficou um ano e meio preso”, disse Oliveira, que não sabe mensurar valores para danos morais como neste caso, já que isto será avaliado pelo juiz durante o correr do processo.

“Várias pessoas são inocentadas porque as provas mal produzidas colocam em dúvida a culpa e, nestas situações, a Justiça vai a favor do réu e o absolve. Mas neste caso da chacina, sequer há provas contra os réus. Nenhuma delas os relaciona ao crime”, alertou Pelizetti. O advogado Diego Gomes, que defende o quarto réu, Edival de Souza da Silva, não foi localizado pela reportagem para dizer se também pedirá a indenização.

Inquérito

Daqui a 15 dias ou 20 dias o processo deve ser devolvido à delegacia de Piraquara para reabertura de investigações. Derise faz questão que tudo seja reiniciado junto à polícia para que os verdadeiros culpados sejam encontrados. No entanto, Pelizetti não acredita que a delegacia de Piraquara consiga sozinha investigar um crime deste porte. “A gente sabe que não é falta de competência da polícia, mas falta de estrutura. Tinha que nomear um delegado especial, chamar apoio de outra delegacia maior”, analisa.

Tanto Derise, como os advogados que atuaram no caso, acreditam que muitas linhas de investigação foram deixadas para trás. Somadas, podem haver mais de 10 possibilidades sem averiguação. Uma delas, diz Derise, é relacionada ao ativismo ambiental de Grando. “No ano que ele morreu, a lei gestora de Pinhais foi alterada e várias empresas se instalaram na cidade, em áreas de proteção ambiental que Grando embargou na Justiça. É claro, como a lei foi alterada, essas empresas teoricamente não estão irregulares. Mas essas áreas todas são de mananciais, que abastecem boa parte da grande Curitiba”, diz Derise, que apesar disto, também considera muito forte a possibilidade de algum tipo de vingança contra o agente penitenciário Valdir Lopes, por conta da atividade profissional dele, ou até mesmo uma ação civil pública que Grando moveu contra a Sanepar, pelo despejo de esgoto dentro de um rio.
“Muita gente ligada ao Grando, que sabe bastante coisa sobre a vida dele não foi ouvida pela polícia na época”, alertou o advogado Alexandre Oliveira.