Se parar, parou

Infartados não eram atendidos na UTI do Evangélico

A prisão da médica Virgínia Soares de Souza, que comandava a UTI do Hospital Evangélico, desencadeou novas denúncias contra a profissional. Ex-funcionários e parentes de pessoas que ficaram internadas na unidade relataram à imprensa suas experiências e reforçaram as suspeitas contra a diretora. Ela é suspeita de ser a responsável pela morte de pacientes, ao suspender a medicação ou desligar os aparelhos que os mantinham vivos.

O relato mais assustador partiu da fisioterapeuta Eliane Campêlo França, que não teve medo de se identificar e concedeu entrevista à rádio BandNews. Ela trabalhou na UTI do Evangélico em 1998. “Quase todo dia havia uma parada cardíaca de paciente do SUS. Eles utilizavam a sigla SPP, que significa “se parar, parou’. Então era assim: SUS, deu uma parada cardíaca, ela gritava: “SPP’. As enfermeiras já saiam fora, deixavam morrer, não faziam reanimação, nada. Agora, se era paciente de convênio ou particular, daí não. Vamos lá reanimar, porque dá dinheiro”, afirmou.

Crítico

Um ex-enfermeiro do hospital, que trabalhou durante dois anos na UTI, falou à RPC TV, sob a condição de anonimato, e repetiu as acusações. “O paciente da UTI tem dois pontos críticos, que são a ventilação mecânica e as medicações que servem para manter a pessoa viva. Ela interrompia um dos dois ou os dois”. Ele afirmou ter visto a médica desligar equipamentos de pacientes do SUS.

Entre os funcionários do hospital, o tema virou assunto proibido, pelo menos publicamente. Parentes de pessoas internadas também demostraram receio em conceder entrevistas.

No entorno do Evangélico, o assunto estava em todas as conversas na tarde de ontem. “Já faz anos que essa história é falada. Mas também dizem que ela é uma médica muito boa, que já salvou muitas vidas. Só fazia isso com quem já não tinha chances de se recuperar”, disse a proprietária de um estabelecimento comercial em frente ao hospital.

Um guardador de carros, que se identificou apenas como Antônio, assegura que o movimento na região diminuiu. “Normalmente vendo mais de vinte cartões de EstaR (Estacionamento Regulamentado), mas hoje não vendi nem dez”, calculou.

Mais pessoas podem ser presas

Átila Alberti
Polícia chamou a imprensa, mas pouco foi esclarecido.

Virgínia foi indiciada por homicídio qualificado, pela incapacidade de as vítimas se defenderem, e o caso pode ter mais prisões. O delegado-geral da Polícia Civil, Marcus Vinicius Michelotto, e a delegada Paula Brisola, do Núcleo de Repressão aos Crimes Contra a Saúde (Nucrisa), falaram pela primeira vez sobre a prisão de Virgínia.

Átila Alberti
Delegada Paula Brisola.

Paul informou que toda a equipe da UTI do Hospital Evangélico será ouvida e que a médica está presa para que a investigação seja feita com tranquilidade. “Não podemos entrar em detalhes do inquérito policial, mas caso necessário, vamos solicitar outras prisões. Não está descartada a possibilidade de ela ter agido com o conhecimento de outras pessoas”, completou a delegada.

Sigilo

Apesar de terem convocado a imprensa, não deram detalhes do inquérito pois a investigação está sob sigilo de Justiça a pedido da delegada. Paula disse que fez a solicitaç&a,tilde;o por imaginar que o assunto teria grande repercussão e para evitar distorção dos fatos.

A médica trabalha no Hospital Evangélico há mais de 20 anos e segundo a investigação, há denuncias desde muito tempo, que dificilmente serão comprovadas com provas materiais. No entanto, a delegada disse que tudo o que for preciso para juntar provas será feito, inclusive a exumação de cadáveres.

Defesa

E é justamente na falta de provas que o advogado Elias Mattar Assad pretende sustentar a defesa da médica, que segundo ele, é inocente. “A regra é investigar primeiro, interrogar, juntar provas e em seguida o gesto radical que é a prisão. Neste caso aconteceu ao contrário. Temos tecnicamente uma pessoa que nega a autoria, e por outro lado, a ausência de prova de materialidade de crime contra a vida”, explicou o advogado.

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