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Em frente à casa do Sitio Sete Quedas, ainda existe a árvore em que o suspeito disse ter vomitado. |
Se os policiais estavam confusos diante do caso e não conseguiam se entender, também era confusa a cobertura da imprensa, que ao longo dos meses e durante alguns anos, procurou retratar tudo o que estava sendo feito. Porém, quando o inquérito passou a ser tratado sob segredo de justiça, os repórteres se afastaram e, diante da dificuldade de se conseguir qualquer informação, foram abandonando a cobertura da chacina, que por fim, caiu no esquecimento.
Apesar de 18 anos já terem se passado desde a data do assassinato da família Boer, em Carambeí, muitos profissionais de imprensa e de rádio ainda lembram de detalhes intrigantes e mantém opiniões distintas sobre o que aconteceu.
O jornal Diário da Manhã, de Ponta Grossa, foi um dos que deram grande cobertura ao caso. Tamanho foi o interesse despertado pela tragédia, que até mesmo o então colunista político Adail Inglês passou a tratar do caso em sua coluna, escrevendo 23 comentários, muitos deles lembrando da ineficiência policial. Hoje, Inglês – que é diretor geral do mesmo matutino e jornalista há 40 anos em Ponta Grossa -tem convicção de que a polícia não soube fazer as investigações corretamente e foi justamente isso que impediu o esclarecimento do caso. ?De uma altura em diante todo mundo se perdeu. Pegaram um pra Cristo e não esclareceram nada?, diz ele.
Outro repórter que trabalhou muito naquela época foi Antônio Nascimento, o ?Toninho?, como é conhecido entre os colegas. Radialista esforçado, não desgrudava dos calcanhares dos policiais que investigavam a chacina. Atualmente é repórter policial da Rádio Banda B, em Curitiba, e dono de uma memória privilegiada, que lhe permite recordar detalhes, não só deste caso, como de outros crimes bárbaros que chocaram o Paraná nos últimos anos.
Para ?Toninho?, a única versão plausível para a chacina é a de roubo. ?Parece-me que tudo o mais é especulação. Choma confessou o crime com riqueza de detalhes e apontou com quem o praticou. Mostrou onde havia jogado o pedaço de ferro que usou pra bater nas vítimas, principalmente na dona Mariana. Afirmou que mataram a todos porque a dona Mariana reagiu. Contou ainda que vomitou no pé de uma árvore, na frente do sítio, depois de ver a carnificina, e mais tarde os peritos encontraram vestígios de vômito. E confessou que andava com Mauri, um bandidão sanguinário. Pra mim, a história fecha com Choma, só que a polícia não teve competência pra reunir provas contra ele nem contra os demais acusados?, comenta. Os dois profissionais foram convidados pela Tribuna a expressarem suas opiniões.
A sociedade nem lembra mais…
Quando a notícia correu e chocou a sociedade paranaense e, muito especialmente, da região dos Campos Gerais, naquela manhã de Quarta-feira de Cinzas, a impressão foi de que o caso seria resolvido, rapidamente. E as primeiras investigações da Polícia Civil levavam a esse entendimento. De repente, entretanto, a polícia passou mais a desorientar do que orientar um esclarecimento. Até um pobre adolescente foi inventado pra servir de bode expiatório daquela verdadeira execução, mas a armação não se sustentou, diante da convicta manifestação de inocência do rapaz e da magnitude da violência, que apontava, como continua apontando, para questões de maior gravidade. Na reconstituição a que foi submetido, o adolescente chegou a achar graça do que estava sendo obrigado a fazer. Logo, como a polícia não se aprofundou nessa investigação, nós mesmos, do Diário da Manhã, que fizemos um acompanhamento de todo o trabalho policial e, em alguns momentos, inclusive, com informações que a própria polícia não possuía, acabamos refluindo na cobertura, porque a prudência assim recomendava.
Se o sogro e a nora nunca fizeram cobranças públicas, nem eles nem alguém próximo a eles, e se a polícia também se desfez no interesse do cumprimento do dever, parece claro que a ?Chacina de Carambeí? se destina a engrossar a fila dos casos dito insolúveis. Mas aqui, seria de um caso sem interesse de solução.
Adail Inglês é jornalista, diretor do jornal Diário da Manhã de Ponta Grossa, que, na ocasião, escreveu 23 artigos seguidos a respeito do caso.
Ainda restam muitas perguntas
Mesmo passado tanto tempo, continuo questionando algumas coisas. Por que Miriam, umas das vitimas, foi tratada desde o início como se fosse partícipe do crime? De vítima, que acabara de passar por um drama perdendo esposo e filho, chegou a ser tratada como mentora do crime por alguns doutos investigadores.
Por que a Polícia Civil não concentrou suas forças para investigar o caso?
Em vez disso, cada uma das autoridades envolvidas deixou que seu ego falasse mais alto e, enquanto um puxava pro Sul, outro tentava levar pro Norte.
Mas de tudo o que vi e ouvi sobre o caso, a versão de um assalto praticado por ladrões ?pés-de-chinelo? apresentada pela Divisão de Polícia Especializada (DPE) é, ao meu ver, a mais coerente. Se o caso fosse uma vingança, por que deixar sobreviventes?
A crueldade empregada pelos assassinos se assemelha em muito com o modo de agir do famigerado Mauri Alves, que eu bem conheci desde que ele matou a pedradas um cantor sertanejo em Campo Largo.
As provas carreadas pelos investigadores Clayton, Dirceu Nascimento, João entre outros, me convenceram que o então adolescente Choma, Mauri e outros estariam envolvidos no crime. Ninguém mais saberia de tantos detalhes assim, como o vômito na árvore situada na entrada do sítio, os pacotes de farinha no mato. Pra mim, caso encerrado.
Toninho Nascimento, repórter da rádio Banda B. Na época dos fatos trabalhava na Rádio Cidade.
* Na edição de amanhã, o último capítulo da cobertura sobre a chacina que abalou o Paraná. Não perca!