A peça-chave que pode colocar um ponto final na confusa e misteriosa história do crime ocorrido no Morro do Boi, em Caiobá, se chama Célio Ferreira Gomes, tem aproximadamente 40 anos, foi casado, é pai de quatro filhos e viciado em crack. Vivia, até o final do mês de junho, no morro Cabaraquara, localizado após a entrada do ferryboat, onde são produzidas ostras de cultivo.

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Célio foi citado por Paulo Delci Unfried, 32, na audiência realizada no Fórum de Matinhos na última quinta-feira, como sendo a pessoa que ficou com o revólver calibre 38 usado contra os estudantes Osíris Del Corso, 22, e Monik Pergorari de Lima, 23, no atentado ocorrido em 31 de janeiro. O casal foi baleado. Osíris morreu no local e Monik, ferida nas costas, ficou paraplégica.

Mentira

Embora Paulo tenha dito ao juiz que não sabia informar onde Célio poderia ser encontrado, nem citar outras pessoas que o conhecessem, a reportagem do Paraná Online apurou detalhes da vida dele, que até três anos atrás morava com a mulher e os quatro filhos no mesmo terreno da casa da sogra, local frequentado por Paulo.

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O endereço inclusive era usado por ele como referência em lojas, assim como o nome de um ex-cunhado de Célio. Outro ex-cunhado (a ex-mulher dele tem quatro irmãos) é marceneiro conhecido na região e jogou futebol durante muito tempo com Paulo.

“O Paulo vinha sempre aqui, falar com o meu ex-genro. Trazia até salgados que a família dele fazia para vender”, contou a ex-sogra de Célio, afirmando que não imaginava que Paulo fosse um assaltante.

Mendigo

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Célio, que fazia serviços gerais de eletricidade e hidráulica, vivendo de bicos, depois de adulto viciou-se em crack. Há cerca de três anos foi obrigado pela ex-mulher e pelos ex-cunhados a sair de casa, pois estava vendendo até os brinquedos e os calçados dos filhos para sustentar o vício.

Sem ter para onde ir, passou a viver no morro do Cabaraquara, ora cuidando de chácaras, ora vendendo ostras ou sobrevivendo às custas da generosidade dos outros moradores, que lhe davam comida.

“Ele era um bom rapaz, mas teve a vida destruída pelo crack”, comentou uma jovem que o conhecia há muito tempo e vez por outra lhe dava alguns alimentos, ressaltando que ele virou um mendigo.

Sumiço

Quando Paulo foi preso, em 25 de junho, dois dias depois Célio desapareceu misteriosamente. Alguns supunham que ele fugiu porque estava devendo dinheiro para os produtores de ostras, pois as pegava para vender e não as pagava.

Usava o dinheiro para o vício. “Tinha gente aqui que já estava pensando em dar um couro nele, para aprender a não ser caloteiro”, confidenciou um rapaz, cujo pai foi lesado por Célio.

No entanto, quando Paulo disse que ele tinha ficado com a arma usada no Morro do Boi, deu uma nova conotação para o sumiço de Célio. Ou ele está envolvido no crime ou sabe quem está.

Ou ainda está envolvido nos assaltos praticados por Paulo (há quem garanta que os levantamentos dos locais assaltados eram feitos por dois homens) e ficou com medo de ser denunciado pelo comparsa e também ir para a cadeia.

Buscas

Policiais já estiveram no Cabaraquara em busca de pistas de Célio, mas ninguém sabe onde ele está. Como não tem dinheiro para ir para longe, é possível que ainda esteja escondido pela região de Matinhos. Sua localização é aguardada com expectativa, já que pode colocar por terra o álibi de Paulo e com isso inocentar outro acusado do crime, Juarez Ferreira Pinto, 42, que está preso desde 17 de fevereiro e que nega a autoria. Ou então, confirmar que ficou com a arma e dizer se a emprestou para outra pessoa.

Confissão ao MP

Paulo foi preso em 25 de junho último, acusado de assaltos e estupro em Matinhos e Pontal do Paraná. Com ele foi apreendida a arma usada contra os estudantes, encontrada no porta-malas de seu c,arro.

Com o resultado positivo do exame de balística, tentou suicídio por enforcamento na cela. Foi salvo por dois outros presos e confessou o crime do morro não só para a polícia, mas também para os companheiros de cela e inclusive para as duas promotoras de Justiça de Matinhos.

Vinte e cinco dias depois da confissão, quando ouvido no fórum, sem prestar compromisso de dizer a verdade, negou a autoria, disse que foi torturado pela polícia, mas admitiu que a arma lhe pertencia.

Assegurou perante o juiz que emprestou o revólver para Célio no começo de janeiro e só o pegou de volta depois do Carnaval. Disse que comprou a arma para caçar e que a emprestou para Célio, que também era caçador.

Mas a ex-sogra e demais parentes da ex-mulher de Célio disseram que nunca souberam que ele caçava e ele nunca apareceu com nenhuma caça em casa, durante os mais de dez anos que esteve casado.

Defesa pedirá nulidade

Arquivo
Nilton, defesa cerceada.

Ainda hoje o defensor de Juarez Pinto, Nilton Ribeiro deverá entrar com um novo pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça do Paraná e com o pedido de nulidade da audiência acontecida em Matinhos, na última quinta-feira, por cerceamento de defesa.

Praticamente todas as perguntas formuladas pelo advogado foram indeferidas pelo juiz ou sofreram a interferência da promotora.Paulo só respondeu o que quis e mesmo assim usando monossílabos. Outro habeas corpus em favor de Juarez deverá ser julgado pelo Tribunal na próxima quinta-feira, por desembargadores da 3.ª Câmara Criminal.