Aviolência matou 1.850 pessoas em Curitiba e região, no ano passado. De acordo com o Mapa do Crime elaborado pela Tribuna, foram 1.675 homens e quase 175 mulheres assassinados.

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Somente na capital, 860 pessoas perderam a vida para a criminalidade. Na região metropolitana, a cidade mais violenta foi São José dos Pinhais, com 189 mortes, seguida de Colombo, com 143, e Pinhais e Piraquara, com 123.

O mapa revela grande disparidade entre os bairros de Curitiba. Enquanto que dez bairros fecharam o ano sem registrar nenhum crime de morte, os cinco mais violentos – Cidade Industrial, Cajuru, Sítio Cercado, Tatuquara e Boqueirão – foram responsáveis por 382 assassinatos, 44% do total.

Para o perito forense Rui Sampaio, a maioria destes crimes pode ter relação com disputas por pontos de tráfico de drogas ou dívidas de usuários. Geralmente as confusões são geradas pelo consumo e venda do crack.

Clima

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Apesar da média de cinco assassinatos por dia, 2010 foi menos violento que o ano anterior. No levantamento dos últimos cinco meses do ano, a Grande Curitiba teve diminuição de 15% no número de mortes com relação ao mesmo período de 2009.

Os meses mais violentos foram janeiro e fevereiro, que somaram 440 mortes, ou 7,5 vítimas diárias. O mês “mais tranquilo” foi julho, com 118 mortes. “A criminalidade cai nos meses mais frios e sobe no verão. São meses que coincidem, de maneira geral, com a disposição física. As pessoas saem mais de casa, ficam até mais tarde fora e bebem mais. Já nos meses de inverno, elas ficam mais em casa”, analisa Sampaio.

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A ociosidade dos meses de férias escolares e dos fins de semana também reflete aumento na criminalidade. Em 2010, 40% dos crimes aconteceram nos sábados ou domingos.

O dia da semana menos violento foisegunda-feira, com 202 crimes de morte. “Muitas vezes, o local de moradia dos jovens apresenta problemas sociais graves. São regiões muito carentes, onde também não se vê muito investimento social, o que deixa os jovens ociosos e vulneráveis ao envolvimento com o tráfico”, explica Elza Campos, coordenadora da União Brasileira de Mulheres.

Vítimas e assassinos

Quase metade das pessoas assassinadas tinha entre 16 e 25 anos. Foram 814 nessa faixa etária, 44% do total. Também chama atenção o número de mulheres mortas, 175, média de 14 por mês. Apesar do crescente envolvimento delas com o mundo do crime, Elza acredita que boa parte destes homicídios tem motivo passional.

Ela acredita que a violência contra a mulher deve ser tratada como problema de saúde pública, com implementação de políticas públicas que ofereçam, além do atendimento médico, psicológico e jurídico, caráter de atenção, cuidado, apoio e escuta social.

“Essas políticas de combate à violência devem ter como diretriz que a mulher que sofre violência é atingida principalmente na sua dignidade, por isso precisa de atenção especial”.

Crueldade

Quase 82% dos assassinatos foram cometidos com armas de fogo, revelando que, mesmo com campanhas de desarmamento, criminosos têm fácil acesso a revólveres e pistolas. Também foram registrados 183 casos em que a vítima foi agredida até a morte, seja com socos e pontapés, ou com pauladas, pedradas.

“O ser humano, assim como a maioria dos animais, é dotado de muita agressividade. A maioria de nós tem um controle em relação a isso: nossa moral, as leis externas, e os limites impostos pelos pais e pela própria sociedade. Porém, nesse tipo de crime, o indivíduo tem uma frouxidão nesse controle, o que faz com que às vezes haja alta explosividade e vazão incontida de sua agressividade”, observa Sampaio.

Segundo ele, alia-se à explosão de raiva o perfil psicológico do assassino, como é o caso dos sociopatas, que são transgressores dos limites sociais e das leis, além de serem frios com relação aos sentimentos.

Para essas pessoas, uma banalidade pode ser motivo para desencadear os mais violentos atos. “É muito observado em brigas e execuções de gangues o hábito de espalhar pavor, terror e medo para que outros n&atilde,;o venham a cometer os mesmos ‘deslizes’ da vítima”. A crueldade também é percebida nos assaltos. Em 2010, 51 pessoas foram vítimas de latrocínio (roubo com morte).

Promessa de ação

O secretário de Segurança Pública, Reinaldo de Almeida César, afirmou que uma das prioridades do governador Beto Richa é o combate à violência. “É inacreditável que nosso estado tenha índices tão altos de criminalidade”, declarou.

Para o secretário, é fundamental o aumento do investimento da área de segurança. “É preciso solucionar problemas históricos, como a falta de estrutura do Instituto Médico Legal e a superlotação carcerária nas delegacias, que afasta o policial da sua verdadeira função”.

Reinaldo citou que, em São Paulo, a retirada de presos dos distritos policiais resultou na redução da violência. “O policial na rua, desempenhando seu trabalho, traz sensação de segurança à população de bem e inibe os criminosos”.

Imediato

Enquanto os investimentos não chegam, o secretário afirmou que algumas decisões imediatas serão tomadas, como a melhor utilização dos recursos existentes.

“Temos que trazer de volta os policiais que estão desempenhando funções em outros órgãos e fortalecer as regiões onde há maior incidência de crimes”, declarou. Reinaldo também pretende aproximar a polícia da população. “O trabalho comunitário é importante para dar credibilidade à polícia e passar mais confiança à população”.

Reinaldo pretende ir a Brasília para propor parceria com o governo federal, no combate à criminalidade. Ele também pretende unir forças com Mato Grosso do Sul e São Paulo.