Grande Curitiba já registra 234 homicídios neste ano

A Cidade Industrial foi o bairro que registrou o maior número de homicídios em Curitiba no ano passado. Foram 66 mortes de 1.º de janeiro a 25 de novembro, de acordo com os dados de atendimento do Centro de Operações da Polícia Militar (Copom). Os outros bairros que integram a lista da violência são Sítio Cercado, com 63 homicídios; Uberaba, com 60; Cajuru, com 49 e Tatuquara com 45. Na região metropolitana, os municípios que tiveram mais assassinatos foram, respectivamente, São José dos Pinhais, Colombo, Piraquara, Pinhais e Almirante Tamandaré.

Informações oficiais mais recentes para divulgação não existem. A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) limita-se a dizer que dados do Geoprocessamento – Mapa do Crime – estão sendo processados e que devem ser divulgados em breve. A outra opção, pelas certidões de óbito do Instituto Médico-Legal (IML), não foi possível por conta da intervenção da Sesp no órgão nesta semana.

A alternativa foi fazer um levantamento extra-oficial com base nas notícias sobre homicídios de Curitiba e região divulgadas pelos jornais O Estado do Paraná e Tribuna do Paraná. Somente neste ano, já aconteceram, ao menos, 234 assassinatos.

São estatísticas que englobam histórias de pais de família, moradores de rua, traficantes e crianças. Todos com o mesmo destino trágico, que vem aumentando na capital, como mostra o Mapa da Violência, divulgado pela Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana. Em comparação com as capitais da região Sul, Curitiba lidera, com taxa de homicídios de 49,3 a cada 100 mil habitantes. Esse número supera, inclusive, os índices de São Paulo (23,7) e Rio de Janeiro (37,7).

Para o professor de Sociologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Lindomar Wessler Boneti um dos fatores que podem ser apontados para o aumento da criminalidade foi a rapidez com que aconteceu o desenvolvimento econômico e social da cidade. ?Os homicídios resultam de conflitos sociais e culturais. Grande parte ocorre em áreas de extrema pobreza, de vulnerabilidade social e migração?, diz.

Uma principal causa permeia a maior parte desses números: o tráfico de drogas. Para o major da Polícia Militar (PM) Douglas Dabul é preciso reforçar as denúncias. ?Indicações como apelido de pessoas, descrição de veículos e características de suspeitos são importantes nas denúncias?, orienta. Segundo a PM, denúncia de lugares em que se escondem drogas, como floreiras, bueiros, ou cobertura de pontos de ônibus devem ser informadas à polícia, assim como pessoas paradas por muito tempo num ponto que não pára ônibus ou táxi. A denúncia sobre suspeita de traficantes pode ser feita pelo telefone 181 e é anônima.

Colaboraram Nájia Furlan, Helio Miguel e Elizangela Wroniski

Secretaria combate o tráfico

Na tentativa de diminuir os índices de tráfico de drogas e de homicídios, a recém-criada Secretaria Especial Antidrogas de Curitiba pretende trabalhar na prevenção e na repressão com a comunidade. Enquanto no IML conseguir informações está se tornando cada vez mais difícil, o secretário Fernando Francischini e sua equipe preparam a divulgação de um mapeamento dos crimes de Curitiba.

Durante o Curitiba Country Festival, no próximo sábado, será lançado o site da secretaria e um número de telefone para que os curitibanos denunciem o tráfico. ?Estamos criando um mapa digitalizado com informações que vão chegar da população e de setores da Prefeitura. No site, em breve será possível saber quais bairros têm mais tráfico e mais homicídio, a exemplo do que fez a prefeitura

de Nova York quando lançou os projetos sociais que revolucionaram a cidade?, explicou o secretário. Posteriormente, os dados serão repassados à Sesp e à Polícia Federal.

Jovens

A participação de adolescentes e jovens até 25 anos nos homicídios alcança quase a metade do total. Nos primeiros dois meses desse ano, os jovens correspondem a 47,43% dos assassinatos em Curitiba e região. Na taxa divulgada referente a 2006, foram 109,9 homicídios da população jovem a cada 100 mil.

Preocupado com esses números, visando à violência escolar, o Projeto Não-Violência atua em mais de 30 escolas da rede pública de Curitiba. ?A violência começa em situações mais simbólicas, de humilhação, preconceito e discriminação. Muitas dessas situações são vistas como brincadeiras, não como violência?, analisa a psicóloga e coordenadora do projeto, Adriana Araújo. (LC)

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