Garotas de treze anos forjam próprio seqüestro

Com uma mentira, duas pré-adolescentes – de 13 anos – conseguiram mobilizar os principais grupos anti-seqüestros e de elite das polícias Civil e Militar do Paraná, durante três dias. Cerca de 40 policiais dos grupos Águia e Tigre foram acionados e interromperam atividades importantes, que estavam sendo desenvolvidas contra o crime organizado, para dar atendimento à farsa montada pelas garotas. O falso seqüestro terminou na madrugada de ontem, com as menimas sendo devolvidas às suas respectivas famílias, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC). Além delas, outros três rapazes – um deles de 18 anos, identificado somente como “Marcão” – serão responsabilizados judicialmente pela “armação”.

No início da tarde de quarta-feira chegou um comunicado ao Grupo Águia (PM) que duas garotas, de 13 anos, haviam sido seqüestradas na Vila Rose, CIC, por quatro homens e uma mulher, que fugiram utilizando um Santana preto e um Fusca branco. A polícia deu início às investigações para descobrir a veracidade do fato mas, durante à noite, a hipótese de um possível seqüestro foi confirmada com um telefonema dado à família das meninas, informando que elas estavam com seqüestradores e que o resgate seria de R$ 5 mil.

Diante dessa informação, todo o aparato envolvendo escutas telefônicas, gravações e deslocamento de homens foi organizado.

Ligações

Uma seqüência de telefonemas foi dada pelos supostos seqüestradores. Para intimidar a família, e dar veracidade ao fato, as vítimas eram colocadas na linha e choravam afirmando que haviam sido espancadas. A partir do rastreamento das ligações, foi descoberto que elas eram feitas de telefones públicos da cidade de Itararé (SP).

A polícia paulista foi avisada e, quando as equipes paranaenses interceptaram um dos telefonemas, avisaram os companheiros paulistas e o caso foi elucidado com a detenção de três garotos: 12, 15 e 18 anos. Eles eram os seqüestradores. Segundo o delegado do Grupo Tigre, indícios surgidos durante as diligências já levavam a crer que uma farsa havia sido montada pelas meninas. “Conversamos com algumas amigas delas, que contaram que as vítimas tinham vontade de fugir”, disse o delegado. O valor de resgate, baixo também, chamou a atenção dos policiais.

Farsa

Com a detenção dos três garotos, as meninas foram localizadas. Policiais do grupo Tigre foram a Itararé para conversar com as vítimas e conseguiram levantar a verdadeira história. As amigas resolveram fugir de casa devido a problemas familiares e pegaram várias caronas – (Gol branco, caminhão e camioneta vermelha) – até chegarem no Estado paulista. Lá, ligaram para a irmã de uma delas, em Curitiba, e ficaram sabendo que a mãe estava preocupada com o desaparecimento. Com medo da reação dos familiares, resolveram inventar o seqüestro, apoiadas por uma irmã. “Desta maneira elas achavam que seriam perdoadas pelos pais”, relatou o policial

As adolescentes conheceram os três garotos paulistas e os convenceram a participar da “armação”. Foram feitos os telefonemas e as conseqüentes encenações. “Marcão”, o único maior de idade, ainda tentou maiores intimidades com as meninas, mas nenhuma violência aconteceu. No depoimento de uma das vítimas aparece uma frase de “Marcão” que mostra o perigo pelo qual as adolescentes passaram: “Não existe seqüestro sem estupro”, teria dito o jovem que já conta com antecedentes criminais..

Todos os procedimentos policiais vão correr pela delegacia local e pela Delegacia do Adolescente de Itararé. Os delitos imputados aos jovens são falsa comunicação de crime e extorsão.

“Aventuras” de adolescentes atrapalham a

polícia

A fuga de adolescentes de casa em busca de aventuras está se tornando cada vez mais comum. entretanto o final dessas histórias nem sempre é feliz como a das amigas da Cidade Industrial de Curitiba. Na última semana todo o País pode acompanhar o trágico assassinato do casal de namorados Liana Friedenbach, 16 anos, e Felipe Caffé, 19, que fugiram para passar o final de semana juntos e acampar em uma fazenda abandonada, na cidade de Embu Guaçu (SP). Terminaram assassinados e suas famílias completamente desoladas.

O delegado do Grupo Tigre informou que somente nesse ano cerca de 11 ocorrências de natureza falsa foram atendidas pelo grupo especial, normalmente fuga de menores e de casais de namorados. O policial alerta sobre as conseqüências e prejuízos que a comunicação falsa de crime traz à polícia e à sociedade. O aparato policial mobilizado nessas circunstâncias é muito grande e custa dinheiro e trabalho desnecessários. E deveria estar sendo disponibilizado para ações que realmente necessitem da intervenção policial. O comandante do Grupo Águia diz o mesmo e ainda cita a sorte dessas meninas pois a situação, que começou como uma fuga inocente, poderia ter tomado outro rumo. “Elas poderiam ter sido violentadas ou mortas”, finalizou.

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